A IMIGRAÇÃO ITALIANA NO AMAZONAS
Dia 21 de fevereiro é a data comemorativa da imigração italiana no Brasil.
A grande maioria dos italianos
que chegaram ao Brasil (a partir de 1874) se dirigiram para as regiões Sul e
Sudeste do Brasil se fixando principalmente nos Estados de São Paulo, Rio
Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina.
Porém o que talvez poucos saibam
é que uma parte desses imigrantes italianos se dirigiram à Amazônia, sendo que
a maioria deles se estabeleceu nas duas principais cidades da região: Belém e
Manaus.
Os italianos que se fixaram na
Amazônia vieram atraídos pelo ciclo da borracha e começaram a chegar em 1898.A
maioria veio do Sul da Itália, das regiões da Calábria, Basilicata e Campania.
Lógico que o número de italianos que imigraram para a Amazônia foi menor se comparando com os que foram para o Sul e Sudeste. Porém os Ítalos-amazônidas, constituíram uma colônia bem ativa e importante nos Estados do Pará e Amazonas e sua trajetória tem que ser mais conhecida pois ainda há pouca pesquisa sobre o tema.
A empresa de navegação italiana "Ligure Brasiliana", com sede em Gênova, inaugurou em 1897 uma linha de navios a vapor que saindo do Porto de Gênova seguiam para o Brasil, adentrando a região amazônica e passando por Belém e Manaus (cidade que era o último destino da rota). Três navios faziam essa linha: Colombo, Rio Amazonas e Re Humberto.
Grande parte dos italianos que imigraram para o Amazonas chegaram nos navios da "Ligure Brasiliana". Mas, em 1904, a empresa encerrava sua rota e serviços para o Norte do Brasil.
Outras cidades do Amazonas que receberam italianos foram Itacoatiara, Maués, Parintins e Urucurituba.
Algumas das principais famílias italianas que se fixaram no Amazonas foram: Masullo, Santoro, Demasi, Celani, Russo, Biase, Cerbino, Pascarelli, Tundes, Calderaro, Cantisani, Veronesi, Borsa, Ianuzzi, Gioia, Limongi, Campanella, Mazarello, Orofino, Marchetti, Figlioulo, Bonfanti, etc.
A imagem, publicada no Jornal do Commercio em julho de 1915, mostra o embarque (no Porto de Manaus) dos jovens italianos para o conflito mundial em solo europeu. |
OS ITALIANOS EM MANAUS E NO INTERIOR AMAZONENSE
No Estado do Amazonas, a maioria
dos italianos se estabeleceram na capital Manaus, trabalhando como carregadores
na área do porto e do mercado, jornaleiros, engraxates e sapateiros. Outros, mais
abastados, estabeleceram comércios nas principais ruas e avenidas da cidade se
tornando pessoas influentes na sociedade local.
Eram o terceiro maior grupo de
imigrantes no Estado, só perdendo para os portugueses e os espanhóis.
É possível encontrar nos jornais
de Manaus do final do século XIX e início do século XX, várias informações
sobre os italianos na cidade, envolvendo vários aspectos de sua convivência e a
relação de seus membros na vida da sociedade local.
Vejamos alguns desses fatos
conforme registraram as fontes da época:
• Na década de 1890 surgem em
Manaus os primeiros estabelecimentos comerciais de italianos: A casa "Gêneros
Italianos", de Enea Fiorini; o atelier artístico e fotográfico de Arturo
Luciani; a Casa "Cruz & Aiello"; a "Marmoraria Ítalo Amazonense", de César Veronesi; o "Hotel Dois Amigos", dos sócios Giuseppe Gragide e Francesco Nigro.
• Ao chegar ao Amazonas vários
italianos contraíram doenças tropicais, em especial a febre amarela. Como
exemplo se tem as mortes,em 1899,de Públio Picconi, Domenico Picconi, Francesco
Grippo e Rosario Camelleri. Todos vítimas, em Manaus,da mencionada febre.
• No ano de 1900 era fundada em
Manaus a "Societá Italiana di Mutuo Socorso" de caráter patriota e
filantrópica. Foi a primeira instituição italiana que surgiu no Amazonas e foi
fundada por Michelle Stefano. Em 1916 a sociedade era reorganizada e voltava à
ativa.
• O italiano Antonio Russo comunicava à polícia, em 1900, que um conterrâneo seu chamado Beltrani, morador no Bairro da Cachoeirinha em Manaus, era anarquista e tinha com ele um panfleto de sua ideologia política onde estava escrito "nego a Deus e a pátria"
• Em 1902 se estabelece na cidade de Maués, no interior, o italiano Giuseppe Faraco que seria o primeiro a comercializar o guaraná com as demais regiões do Brasil e o mundo, desenvolvendo a economia do município. Com isso Faraco ficou conhecido como o "Rei do Guaraná".
Outras famílias italianas que se estabeleceram em Maués foram: Perrone, Santoro, Magnani, Magaldi, Filizola, Dinelli, Degan, Barsotti, Biaggini, Cardelli, Granda e Desideri.
• Em dezembro de 1904 chegava à
Manaus o cruzador italiano "Dogali" sendo que sua tripulação foi
recebida com festa pela colônia italiana. Houve, na Cachoeira Grande, um grande
piquenique oferecido à oficialidade do navio, que contou com presença de
autoridades do governo e da sociedade manauara, além de membros influentes da
colônia italiana do Amazonas, entre eles Luigi Torino, Giorgio Guidacci, Cesare
Veronesi e Sílvio Centonfanti.
• Em 1905 alguns engraxates
italianos, que eram em sua maioria menores de idade, costumavam ficar à porta
dos armazéns do centro de Manaus e pegar fragmentos de borracha (que caíam das
mãos dos carregadores) para vende-los mais adiante. Ao saber disso, o chefe de
segurança mandou prender vários deles. Outros corriam em debandada carreira
quando viam os agentes da lei.
Ainda nesse mesmo ano, em fevereiro, o engraxate italiano Bonifacio Silano, de 14 anos, tinha seu ponto de trabalho na Rua Municipal. Mas toda vez um outro menor, brasileiro, que ali passava, provocava o engraxate com insultos. Bonifacio um dia não mais aguentou e partiu para briga acabando por ferir seu oponente, quebrando a cabeça dele com a escova que usava. Ambos os garotos foram detidos e levados à delegacia.
• Em 1905, na rua Municipal
(atual 7 de Setembro), era comum os italianos se reunirem na Mercearia Machado
e ali jogavam cartas apostando, ou seja, o que perdia pagava vinho.
• Em outra lacalidade do interior, no município de Urucurituba, ali chegavam (a partir de 1906) e se estabeleciam os seguintes comerciantes italianos: Saverio Tundis, Nicola Benedetto, Vincenzo Limongi, Nicola Priante e Vincenzo Cinque.
• Por volta de 1907, os italianos
predominavam (junto com os espanhóis) nas avenidas Silvério Nery e Eduardo
Ribeiro, e também nas ruas Municipal e Henrique Antony.
• Alguns dos jornaleiros
Italianos que percorriam as ruas de Manaus vendendo edições dos jornais
"Amazonas", "Jornal do Commercio", "Folha do
Amazonas" e "Correio do Norte"eram Giuseppe Maria, Donato
Caglio, Domenico Solero, Domenico Alfando, entre outros.
• O italiano Targino Mariani foi
um dos principais líderes dos estivadores do porto de Manaus na luta por seus
direitos.
• Em 1909 os carregadores
italianos Felix Baroni e Salvatore Peregrini, após beberem, começaram a
discutir na Av. Silvério Nery (atual Joaquim Nabuco). Salvatore puxou seu
canivete e acertou seu oponente. Na confusão Salvatore fugiu. O delegado Oséias
Mota, junto com dois policiais e um agente chegaram ao local do crime, sendo
que Baroni faleceu a caminho da Santa Casa.
• Em 1912 o italiano Ricardo Coli
foi um dos primeiros a organizar o jogo do bicho em Manaus, possuindo bancas e
vendendo bilhetes. Como o jogo era ainda proibido, Coli e mais três empregados
seus (que vendiam os bilhetes pela cidade) foram presos pelo Major Araújo e os
inspetores Rufino e Augusto.
• Em 1911 os irmãos italianos
Zirpoli tinham fama de brigões e valentes no local onde moravam, na rua
Marcílio Dias. Em uma dessas brigas foram denunciados pelos moradores e acabaram
sendo presos pela polícia.
Quatro anos depois os famosos
irmãos eram convocados para a guerra na Europa.
• No ano de 1913 acontece em
Manaus um crime brutal, quando o comerciante italiano Giuseppe Magliano, proprietário
da "Tinturaria Ítalo-Amazonense" (localizada na Av. Eduardo Ribeiro) é
assassinado a facadas, por questões familiares fúteis, por dois elementos
também italianos que o atacaram de surpresa quando ele caminhava pela rua Costa
Azevedo.
• Giovanni Orofino (nascido na província de Potenza, na Basilicata) era proprietário da melhor marmoraria da capital do Amazonas, chamada "A Reformadora" e fundada por ele em 1913. Localizava-se na Rua da Instalação, no Centro da cidade e era referência em trabalhos de mármore no estado.
• Era comum os carregadores
italianos, após o cansativo trabalho, se reunirem nos bares para tomar cerveja
com seus conterrâneos e apaziguar o cansaço. Num desses, em 1914, Pascoali
Marcozzani convidou uns amigos compatriotas para beberem à noite num bar da Rua
24 de Maio. Acontece que na hora de pagar a despesa, nenhum dos amigos possuía
dinheiro e muito menos Pascoali. Um guarda civil que passava ali prendeu
Pascoali, por ter sido apontado como o organizador do encontro, ele acabou
então sendo trancafiado no xadrez.
• As principais sapatarias de Manaus, nas primeiras décadas do Século XX, pertenciam a italianos. Entre elas se destacavam as seguintes: Sapataria Cerbino, Sapataria Aronne, Sapataria Masullo, Sapataria Boa Fama e a Sapataria de Giuseppe Russo.
• Maria di Biaggi era uma das
italianas mais conhecidas de Manaus e morava na rua Dr. Moreira, junto com seu
marido (que também era conterrâneo seu). Em 1917, numa noite, próximo à sua
casa, Maria foi espancada por um cabo do exército que estava completamente
bêbado. Aos gritos de socorro da mulher, um marinheiro que passava no local foi
ao seu encontro, chamando a polícia que prendeu o agressor.
• No dia 1º de julho de 1915, partia
de Manaus o primeiro contingente de reservistas italianos (convocados e
voluntários), num total de 92 homens, que foram para a guerra defender seu país
nas trincheiras da Europa.
A cidade de Manaus praticamente
parou para acompanhar o embarque deles. Os reservistas se reuniram primeiro no
Cine Polytheama, onde receberam homenagens de autoridades e da colônia
italiana. De lá seguiram a pé pela Rua Municipal e Avenida Eduardo Ribeiro,
acompanhados por grande massa popular e de automóveis indo à frente do grupo o
senhor Antonio Borsa com a bandeira da Itália.
Eles então embarcaram no vapor
"Maranhão " que os levou para a capital do Brasil, o Rio de Janeiro,
e de lá embarcaram em um outro vapor rumo à Itália.
Parte deles jamais voltariam à
Manaus novamente.
• Em 29 de agosto de 1915 era
fundada em Manaus, por italianos influentes, uma outra sociedade patriótica e
filantrópica chamada "Lega Coloniale Italiana", cuja sede ficava no
Hotel Internacional, estabelecimento que era de propriedade do italiano Antônio
Borsa (o fundador da sociedade).
A sociedade começou com 300
membros e seu lema era "Tutti per uno, uno per tutti". A primeira
diretoria eleita teve Antonio Borsa como presidente, Angelo Biondini como vice
e Michelle Speranza na função de secretário.
• Em 20 de setembro de 1915 houve uma festa da colônia italiana, em Manaus, em comemoração à data da unificação da Itália.
Pela parte da manhã houve uma recepção no consulado italiano, localizado na Rua Monsenhor Coutinho, n.83, onde o cônsul Tancredi Cremonesi recebeu os cumprimentos de todo o corpo consular e da sociedade manauara.
À noite a "Lega Coloniale Italiana" patrocinou uma grande festa para seus conterrâneos no Hotel Internacional, com muita comida e bebida, cujo evento foi animado pelo maestro João Donizetti.
• O italiano Camilo Fargione Spartolla era proprietário do seringal Patauá, localizado na margem do rio Jutaí. Em janeiro de 1916 o português Ricardo Soares contratou três homens para assassinar Spartolla, o que fizeram após eles chegarem na propriedade da vítima. Depois de consumado o crime os assassinos fugiram em um navio a vapor. O motivo da morte foi devido a uma disputa que houve pela posse do seringal entre Ricardo e Spartolla, cuja a justiça deu ganho de causa ao italiano. O português, não conformado com a perda, resolveu eliminar seu rival.
• O italiano David Dell'Amore
possuía uma barbearia em Manaus, na Avenida Eduardo Ribeiro, chamada de
"Salão Central". Com o tempo o seu estabelecimento entrou em crise
acabando por falir.
Dell'Amore foi então trabalhar como
barbeiro no vapor "Rio Curuçá", onde passou a morar. Um certo dia de
1916, no Porto de Manaus, Dell'Amore entrou em um outro vapor, se despediu de
umas pessoas que ali estavam e mergulhou no rio Negro, desaparecendo seu corpo que, dias depois, veio à tona sendo tirado do rio e sepultado.
• No ano de 1917 existia em Manaus uma outra instituição de italianos: a Cruz Vermelha Italiana. Nesse ano a ramificação da instituição na cidade tinha como presidente Giulio Cesare Roberti, além de Gilberto Frignani na função de secretário e Francesco Bilotta como tesoreiro. Em 11 de novembro do referido ano a Cruz Vermelha Italiana patrocinou uma grande festa em homenagem ao aniversário de Vitor Emanuel III, rei da Itália. A comemoração foi no campo do Bosque Municipal onde houve um torneio de futebol, vencido pelo Manáos Sporting.
• Em 1917 o italiano Arturo Leone
era dono do seringal Curuçá, na região do Rio Javarí (na fronteira do Brasil com o Peru). Certo dia ele fugiu para
Manaus a bordo do vapor "Cidade de Tefé" por estar sendo ameaçado de
morte por um comerciante chamado Manoel, que junto com capangas tinha invadido e
tocado fogo no barracão de Arturo e em sua produção de borracha.
Ao chegar em Manaus, Arturo
procurou o cônsul de seu país no sentido de lhe dar garantias de vida e
indenização dos prejuízos que teve.
• Em 1918 eram fundados dois
clubes de futebol de italianos em Manaus, chamados de "Lega Football Club"
e "Club Sportivo Italiano".
O campo do Lega era na Praça
General Carneiro, na Cachoeirinha. Já o Sportivo Italiano costumava jogar no
campo Coronel Ramalho.
O encontro entre os dois clubes
gerou uma pequena rivalidade onde se via em ação jogadores como Manfredi,
Bello, Zaccaria, Cantisani, etc.
Ambos os clubes só aceitavam membros
de sua colônia em seus quadros e duraram pouco tempo, sendo extintos em 1921.
• Em 19 de junho de 1926 um grupo
de patriotas italianos, entre eles o comerciante Giulio Cesare, fundam em
Manaus o Partido Nacional Fascista (Partito Nazionale Fascista, sezione di
Manáos).
As reuniões do partido aconteciam nas sedes da "Lega Coloniale Italiana" e da "Societá Italiana di Mutuo Socorso".
• Domenico Demasi chegou ao Amazonas em 1910, ainda criança, junto com sua família (vieram da Calábria). Em 1915 ele foi convocado para defender a Itália na primeira guerra mundial, sendo condecorado por bravura nos campos de batalha. Ao voltar a Manaus Domenico voltou a trabalhar de empregado numa alfaiataria e depois, em 1927, fundou o seu próprio negócio, a "Alfaiataria Demasi", que durante décadas foi a maior e mais conceituada casa do ramo na cidade. O estabelecimento existe até hoje.
AJUDA ÀS CATÁSTROFES NA ITÁLIA
Mesmo longe se seu país, os
italianos do Amazonas estavam sempre atentos aos fatos que aconteciam em sua
pátria e sempre dispostos a ajudar seus compatriotas em caso de crises,
catástrofes ou conflitos.
Em maio de 1909 a colônia
italiana de Manaus realizou uma festa de caridade, na cidade, em benefício das
vítimas dos terremotos na Calábria e Sicília.
O evento aconteceu no Teatro
Amazonas, que contou com a presença do governador do Estado, demais autoridades
civis e militares, e pessoas influentes da colônia italiana.
A abertura do espetáculo teve o
Hino do Brasil e da Marcha Real da Itália cantados por todos. Logo depois teve
a apresentação do grupo "Gil Vicente " e de uma comédia. A seguir
houve a exibição de peças musicais dos principais maestros da cidade.
O evento encerrou com uma sessão
literária do orador Adriano Jorge.
O Hotel Internacional,
um dos principais de Manaus, de propriedade do italiano Antônio Borsa. |
Uma outra catástrofe natural aconteceu
na Itália, em 1915, atingindo a região de Avezzano.
Logo tomando ciência do doloroso
fato, os italianos de Manaus trataram de ir em auxílio de seu país. O então
cônsul Tancredi Cremonesi convocou os membros da colônia para uma reunião, em
março, na sede do consulado na rua Monsenhor Coutinho.
Grande número de italianos se fez
presente no encontro, onde se escolheu uma comissão para cuidar de angariar e
enviar os donativos para as vítimas do terremoto. A comissão ficou assim
constituída:
Giulio Cesari, presidente; Rodolfo
Grandi, secretário; Giorgio Guidacci, tesoureiro.
A comissão também contava com o auxílio dos Srs. Giuseppe Nesi, Antonio Camadella, Giuseppe Graziolli, Antonio Borsa, Rafael Celane e Antonio Cece.
O NÚMERO DE ITALIANOS NO AMAZONAS
Baseado nos censos populacionais
e estatísticas de pesquisadores e profissionais de várias áreas, tem-se vários
números de quantos italianos residiam no Amazonas nas primeiras décadas do
século XX.
O capitão Gregório Ronca, da
Marinha da Itália, ao chegar em Manaus calculou cerca de 2 mil italianos
vivendo na cidade em 1905.É um número até expressivo se levarmos em conta que a
cidade tinha naquele ano 50 mil habitantes.
Já o Dr. Hermenegildo Campos, médico
sanitarista, acusou o número de 1.200 italianos em Manaus no ano de 1907.
O historiador e escritor italiano
Franco Cenni registrava em seu livro "Italianos no Brasil", um total
de 2 mil italianos residindo no Estado do Amazonas (igual número no vizinho
Estado do Pará), no início do século XX.
Todavia, no censo populacional do
Brasil para o ano de 1920, se registrou a presença de 726 italianos no Amazonas
(601 só em Manaus). Pode-se perceber que houve um decréscimo da quantidade
deles no Estado comparando com os anos anteriores.
A explicação para isso deve-se ao
bom número de italianos que foram para a guerra na Europa, onde grande parte
morreu nos campos de batalha. Outro fator é que com o início da crise econômica
devido à queda do preço da borracha, fez com que vários deles voltassem para a
Itália ou migrassem para outras cidades do Brasil.
Mas outros decidiram continuar no Amazonas, ficando definitivamente e ajudando a impulsionar a vida econômica, cultural e social do Estado.
Na imagem de cima está o Hotel Cassina, o principal de Manaus que foi inaugurado em 1899. O estabelecimento era de propriedade do italiano (de Piemonte) Andrea Cassina, visto na imagem de baixo. |
CONFLITOS DA
COLÔNIA ITALIANA COM A IMPRENSA MANAUARA
Porém dois fatos desagradáveis, envolvendo
noticiários de Manaus, atingiram diretamente A laboriosa colônia italiana da
cidade, gerando um mal-estar e acusações entre alguns órgãos da imprensa e os
italianos.
O primeiro ocorreu em novembro de
1898, quando o jornal "Pátria" mencionou o fato de dois italianos
terem sido presos, tendo suas bagagens revistadas e joias apreendidas, em
Manaus. Contudo, nada foi comprovado se eles tinham roubado as joias e, por
isso, foram soltos.
Aproveitando a situação o jornal
"Pátria" os acusou do delito sem ainda ter provas, e para piorar o
noticiário chamou aos italianos como tendo tendência ao assassinato, e serem
também gatunos e anarquistas.
Como era de se esperar a colônia
italiana do Amazonas se revoltou contra essas acusações e comparações, considerando
uma afronta e insulto contra os dignos membros da colônia. Outro jornal, o
"Commercio do Amazonas", saiu em defesa dos italianos, mencionando o
noticiário "Pátria" como bairrista, antipatriótico e querendo
incentivar conflito entre os nativos e os estrangeiros.
A redação do "Pátria"
pediu desculpas e afirmou que os insultos foram publicação de um único redator,
sendo que os demais redatores não compactuavam com sua opinião.
O segundo aconteceu em 1914, quando
o jornal "Gazeta da Tarde " resolveu fazer uma votação entre
seus leitores querendo saber, na opinião deles, qual nação seria a vencedora da
Guerra Mundial que se passava na Europa. O problema é que os votantes tinham se
dirigido ao Rei e à população da Itália (país que estava na guerra) de forma
grosseira, causando protestos dos membros da colônia.
Sendo assim, 20 italianos se
dirigiram ao cônsul de seu país em Manaus, Sr. Tancredi Cremonesi, mostrando
suas indignações e que o cônsul tomasse uma providência contra aquele concurso
de votação do distinto jornal.
O Cônsul Cremonesi, atendendo ao
pedido de seus patrícios, procurou o chefe de polícia do Estado, a quem relatou
o ocorrido, salientando a intervenção da autoridade no sentido de não continuar
a "Gazeta da Tarde" a inserir tais votos poucos lisonjeiros ao povo e
ao soberano da Itália.
O policial então procurou o
diretor do jornal que então encerrou a polêmica votação.
...
Fontes:
Gazeta da Tarde, Folha do Amazonas, Commercio do Amazonas, Quo Vadis, O Tempo, O Amazonas e Jornal do Commercio.
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