LENDAS DA AMAZÔNIA - UM MISTERIOSO TESOURO ESCONDIDO NO MÉDIO SOLIMÕES

 

Na ilustração, o povoado de Coarí em época remota.



Contam os antigos moradores do município de Coarí, no Estado do Amazonas, que próximo à cidade de Coarí existe um local, na zona rural, na mata e cortado por um igarapé, que contém um fabuloso tesouro que ali está desde o tempo da colonização e que vários aventureiros tentaram se apossar dele, mas que nunca conseguiram devido a fenômenos esquisitos e sem explicação que ali ocorre. Para muitos se trata apenas de uma lenda, mas para outros, principalmente os habitantes do local, o fato é verídico.

Tudo tem início nos tempos coloniais quando a região do alto e médio rio Solimões enfrentavam litígios entre Espanha e Portugal, com os espanhóis tentando estender seus domínios naquela área e os portugueses querendo expulsá-los e tomar posse definitivo daquele pedaço da Amazônia.

 

O PADRE FRITZ NA AMAZÔNIA

Existia um padre jesuíta chamado Samuel Fritz (1654-1728), nascido na República Tcheca, mas a serviço da coroa espanhola. Fritz, ainda na Europa, ingressou na companhia de Jesus. Em 1686 ele chegou à Amazônia como missionário, no Peru (então colônia da Espanha), para catequizar os indígenas da região.

No período de 1686 a 1715, Fritz fundou 38 missões religiosas desde o rio Napo (no Peru) até ao rio Negro. Além de fundar aldeias que deu origem a cidades do Amazonas (Fonte Boa, Tefé, São Paulo de Olivença e Coarí) ele também mapeou a região e ganhou a confiança dos índios Omáguas, Muras e outros. Mas Fritz também tinha a missão de expandir os domínios da Espanha pela região, o que causou desconfiança de Portugal. Fritz desceu navegando o rio Amazonas até Belém, em 1689, sendo preso na capital do Grão-Pará onde foi acusado de ser um espião espanhol.

Depois foi deixado por soldados portugueses na foz do rio Coarí e, em 1697, Fritz e outros jesuítas espanhóis foram forçados pelos mesmos portugueses a se retirar rio acima de volta ao Peru, e caso Fritz teimasse em ficar e fosse ali pego seria novamente preso.

A sede da missão espanhola de Samuel Fritz ficava no lago de Coarí, numa aldeia que depois passaria a se chamar Alvelos.

 

JESUÍTAS ESPANHÓIS E SEU FABULOSO TESOURO - PERIGO PARA QUEM QUISESSE SE APOSSAR DO OURO

Na ilustração, um tacho contendo moedas de ouro.


Enfim, sendo expulsos do Solimões os jesuítas espanhóis, antes deles partirem resolveram pegar uma grande quantidade de ouro que haviam acumulado e o colocaram dentro de um tacho (uma vasilha grande, de cobre ou de ferro, com cabos, que é usado para cozinhar alimentos). Em seguida lacraram o tacho, escondendo no seu interior suas cobiçadas moedas e demais utensílios de ouro. Feito o lacre, os jesuítas levaram o valioso objeto para mata adentro, chegando eles no leito de um igarapé, onde ali lançaram o recipiente com a finalidade dele não cair nas mãos dos portugueses.

Os indígenas e caboclos que moravam nas imediações sabiam o local exato onde os jesuítas tinham colocado o tesouro, mas não se atreviam a tirar o tacho e se apossar daquele ouro. Qual seria o motivo? Om todos sabiam que ali naquele igarapé habitava uma colossal cobra-grande que era muito temida pelos nativos e que passava a ser agora a guardiã do tesouro, prestes a serpente a dar um fim nos aventureiros desavisados que ali chegassem perto para levar a fortuna. Mas se dizia que os jesuítas sabiam da existência da lendária cobra e teria sido esse o motivo que os levou a colocar o tesouro ali, pois passaram a confirmar o fato a todos.

Se já não bastasse o perigo da pessoa ser devorada pela cobra, ela ainda estava sujeita (caso quisesse ficar rica) a outros perigos.

Aqueles ambiciosos que não acreditavam nos avisos das pessoas resolveram se arriscar, afinal valia tudo para adquirir riqueza. Mas ao se aproximarem do local e logo que avistavam o tacho, subitamente formava-se uma horrível tempestade com fortes ventanias e raios que afugentava o aventureiro. Caso fosse na época do inverno, além do temporal medonho ainda se ouvia vários grunhidos altos de uma espécie de jacaré.

Porém se fosse na época do verão o leito do igarapé ficava descoberto, e logo se via o tacho meio enterrado na lama, mas quando a pessoa chegava perto ansiosa para o tirar eis que, inexplicavelmente, abriam-se as nascentes que fazia em pouco tempo a água inundar o local, transformando o lamaçal em água corrente e fazendo sumir o cobiçado tesouro dos jesuítas.

O certo é que ninguém teve coragem suficiente para desvendar o mistério e tirar aquele antigo tesouro para si.

Devido a fama desse conto, o local onde estaria o ouro lendário ficou conhecido como "igarapé do tacho”, que desagua no lago Coarí, próximo à cidade de mesmo nome.

Lenda ou realidade? Acredite se quiser.

 

Fonte: conto do folclorista coariense Antônio Catan



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