O INTEGRALISMO NO AMAZONAS (1934-1937)

O INTEGRALISMO NO AMAZONAS (1934-1937)


O Integralismo é um movimento político de ideologia nacionalista e de caráter conservador e católico, que foi fundado em 1932 pelo jornalista e escritor paulista Plínio Salgado. No período da Ação Integralista Brasileira (cuja sigla era A.I.B.), tal como hoje, se vestiam com uma camisa verde e tinham como símbolo máximo a bandeira brasileira e a letra grega Sigma que era estampada na manga esquerda de suas camisas. Rapidamente o Integralismo cresceu pelo país tendo membros em todos os estados brasileiros chegando a ter mais de 1 milhão de adeptos. Eram contra o capitalismo, liberalismo e comunismo. Chegou-se a ter vários conflitos, à época, entre integralistas e comunistas em várias cidades brasileiras.


A bandeira com o Sigma, símbolo máximo do Integralismo.



Os chamados camisas verdes se cumprimentavam com o braço direito estendido e com a palma da mão aberta, exclamando o termo "anauê", frase de origem indígena que, traduzindo significa "você é meu irmão". Costumavam valorizar a família, os valores morais, a religião, a propriedade privada, a cultura e a mestiçagem do povo brasileiro. Baseado nisso Plínio costumava dizer que o problema do Brasil não era étnico, e sim ético.

Para muitos o Integralismo (com seus simbolismos e nacionalismo) seria uma reprodução do Fascismo italiano no Brasil. Porém eles rebatiam as acusações, afirmando que não eram racistas e que não pretendiam instaurar um Estado totalitário no Brasil, e sim um Estado integral. Além de Plínio (que se tornou o chefe nacional do movimento), outros importantes ideólogos da doutrina do Sigma foram Gustavo Barroso e Miguel Reale.


Imagem de Plínio Salgado, fundador e líder máximo do Integralismo Brasileiro.



SURGEM OS PRIMEIROS INTEGRALISTAS NO AMAZONAS

Em 1933 os primeiros integralistas amazonenses (Adriano Jorge, Leopoldo Peres, Castelo Branco, Genésio Braga e Moacir Dantas) já faziam a propaganda do movimento em Manaus.
Em dezembro de 1933, um grupo de integralistas de Manaus (Adriano Jorge, Leopoldo Peres, Genésio Braga e outros) se dirigiu à Belém para ter um encontro com o líder Gustavo Barroso, que se encontrava na cidade. Lá mostraram para Barroso as suas ações na capital amazonense. Entusiasmado com a notícia, Barroso acabou recebendo aval positivo de Plínio Salgado para constituir aquele grupo como o coordenador do integralismo no Amazonas. 

Em março de 1934 realizou-se em Vitória (Espírito Santo), o primeiro congresso nacional da Ação Integralista. Estiveram presentes ao encontro os representantes do Sigma de todos os estados do Brasil, sendo que Aurino de Sá Cavalcante representou os integralistas do Amazonas. Ainda em Belém, Paulo Eleutério foi nomeado, em 1933 por Gustavo Barroso, como chefe do núcleo provincial do Pará e o responsável em difundir a doutrina integralista por toda a região amazônica. Em 1934 Paulo voltava para o Amazonas e assumia, em Manaus, a chefia do integralismo no estado.

Paulo Eleutério era natural de Pernambuco e, em Manaus, exerceu as funções de professor e jornalista, sendo também que em 1909 foi um dos fundadores do Centro Pernambucano do Amazonas, se tornando secretário da instituição.


A ORGANIZAÇÃO E ESTRUTURAÇÃO DO NÚCLEO INTEGRALISTA EM MANAUS

De agosto de 1934 a maio de 1935 os integrantes do movimento se preocuparam em fazer a propaganda e a divulgação de sua doutrina política entre a sociedade manauara. Os seus principais chefes provinciais foram o próprio professor Paulo Eleutério, Anastácio Cavalcante, Atila Sayol Sá Peixoto, Jaime Pereira e Frederico Menezes. Arregimentou no estado muitos seguidores de todas as classes sociais em suas fileiras, entre eles o conhecido historiador Mário Ypiranga Monteiro. A primeira notícia de sua sede social se localizava em um prédio na Av. Eduardo Ribeiro, em 1935. Depois, a sede social (núcleo provincial) passou, ainda em 1935, a ser na residência de número 25 da rua Lobo D`Almada. Nos anos seguintes,1936 e 1937, a sede se mudava para a casa de número 74 da Rua Quintino Bocaiuva.


A CONSOLIDAÇÃO DA AÇÃO INTEGRALISTA BRASILEIRA NO AMAZONAS

Os Integralistas amazonenses fundaram, em 1935, uma escola chamada Deus e Pátria, localizada na rua Lobo D`Almada (mesmo local onde estava sua sede estadual), onde pregavam o ideal nacionalista e cristão.
Na comunidade de Paraná da Eva, no interior, fundaram uma outra escola integralista chamada Carlyle de Chevalier (nome de um integralista amazonense falecido na Bahia). Costumavam realizar suas reuniões em sua sede provincial e realizavam panfletagem e desfiles por Manaus, pregando seu ideal.

O professor Paulo Eleutério, em foto de 1935. Foi o principal divulgador e chefe do Integralismo no Amazonas. 



Também costumavam realizar encontros comemorativos em sua sede. Em um deles, celebrou-se a chegada à Manaus do chefe do núcleo integralista do Acre, Dr. Mário de Oliveira, que chegou à cidade de retorno do sul do país, a bordo do vapor Duque de Caxias. Foi recebido na sede da rua Quintino Bocaiúva por um grande número de integralistas e pelo chefe provincial Anastácio Cavalcante. Depois, Mário foi visitar os núcleos dos bairros Constatinópolis e São Raimundo onde foi recebido por vários moradores adeptos da doutrina do Sigma com vibrantes "anauês". Após isso, Mário de Oliveira embarcava de volta ao Acre.

Em outro importante encontro se celebrou em 1935, a existência do movimento do Sigma por parte dos militantes amazonenses. O fato aconteceu na sede do Nacional Futebol Clube, onde foi comemorado o terceiro aniversário da AIB, que foi presidida pelo chefe Paulo Eleutério. O ato foi muito concorrido. Após o discurso do chefe provincial e de outros membros do núcleo local, foi então realizado o ponto máximo do encontro que foi a cerimônia dos tambores silenciosos. Após isso, todos cantaram o hino nacional e houve a adesão e juramento de seis novos integralistas.

Em 7 de março de 1935, José Guiomar representou o Amazonas no II Congresso Integralista, que foi realizado em Petrópolis (RJ).

Ainda nesse mesmo ano, é realizado a primeira demonstração da juventude integralista do Amazonas. Cerca de 60 crianças e adolescentes se reuniram em frente à sede do Nacional e de lá partiram em marcha até o bairro de Educandos (Constantinópolis), onde acamparam e praticaram vários exercícios e diversões. No final da tarde voltavam os jovens para o seu destino sendo que, durante o trajeto, foram objetos de curiosidade pública. Nesse primeiro ato, os jovens camisas-verdes foram comandados e organizados pelos militantes Átila Sá Peixoto, Salomão Guaycurus, Homero Montenegro, José Craveiro e Raimundo Cordeiro.

O movimento cresceu rapidamente em Manaus, ganhando muitos adeptos e expandindo-se pelo interior. Em 1935, era fundado um núcleo integralista em Itacoatiara (Antônio Álvares Bezerra, chefe do núcleo) e muitos outros seguidores surgiram em Boa Vista, Eirunepé, Fonte Boa, Manacapuru, Coari, Tefé, Maués, Itapiranga, Careiro, Manaquiri, Parintins, Tabatinga e Paraná da Eva. Já em Manaus, os integralistas fundavam núcleos distritais nos bairros de São Raimundo e Educandos (Constantinopolis). Fundaram também na cidade uma sessão só para a juventude (chefiada por Carlos Astrogildo Côrrea) e outro só feminino (liderado por Maria De Nazaré Côrrea) além de um departamento universitário onde costumavam realizar entre eles, encontros de confraternização e desfiles.

Havia três jornais integralistas em Manaus: Anauê, Renovação e Província do Amazonas. Em 1935 o adepto José Guiomar dos Santos se dirigiu aos locais mais distantes do imenso território amazonense, com a missão de levar a doutrina integralista às populações mais isoladas que ainda não conheciam aquela ideologia. José Guiomar teve contato com diversas etnias indígenas no qual pregou e ensinou para eles os ideais dos camisas-verdes. Conseguiu alistar cerca de 5 mil índios para as fileiras do Integralismo.


A CHEGADA DA CARAVANA COMUNISTA DA ALIANÇA NACIONAL EM MANAUS E O REPÚDIO DOS INTEGRALISTAS

Um fato interessante acontecido com os integralistas amazonenses foi que, em 1935, desembarcava em Manaus, no vapor Campo Salles, uma comitiva da Aliança Nacional Libertadora, formada por comunistas, vinda do sul e que estava em campanha de seu ideal pelo Brasil. A visita não foi bem vinda pelos integralistas, gerando protestos do chefe provincial no estado, o professor Paulo Eleutério. Após fazerem discursos e reuniões pela cidade, os membros da Aliança Nacional embarcaram de volta no próprio Campos Salles mas também estavam no porto os integralistas, gerando discussões e ameaças entre os dois grupos. Integralistas e comunistas só não partiram para a briga por quê a polícia interveio, separando os adeptos dos dois grupos rivais.


A sede do Núcleo Integralista do Amazonas, em 1935, localizada no Centro de Manaus.

A AMEAÇA DE CISÃO E A IDA DO CHEFE PARA BELÉM

Em 1935 Paulo Eleutério demitiu, da AIB local, alguns secretários de seus cargos, o que gerou revolta destes. Os ex-membros passaram então a atacar Paulo, ameaçando fazer uma cisão no movimento e fazendo reuniões com esse objetivo. Porém nada aconteceu, pois o mandatário integralista em Manaus era reconhecido oficialmente, pelo próprio Plínio Salgado, como o líder da AIB no Amazonas, além de contar com o apoio da maioria dos militantes manauaras.

No mês de dezembro de 1935, o professor Paulo Eleutério teve de entregar seu cargo de chefe da AIB no Amazonas, para reassumir seu posto de líder provincial do Integralismo no Pará, visto que o antigo chefe havia sido exonerado da função. Sendo assim Paulo embarcou, em Manaus, no vapor Vitória, rumo à Belém, no qual foi recebido no porto da capital paraense, por centenas de seguidores do movimento do Sigma.

Enquanto isso, em Manaus, Anastácio Cavalcante assumia o cargo de chefe interino do Integralismo no Amazonas.


O MOVIMENTO SE ESPALHA CADA VEZ MAIS PELO ESTADO

No dia 22 de janeiro de 1936, em outro evento festivo, os integralistas amazonenses comemoraram a data de aniversário de Plínio Salgado na sede central. Com grande número de pessoas, durante a seção solene foi inaugurado o quadro com a foto de Plínio, com tremenda vibração de todos os presentes.

O jornal "A Offensiva", editado no Rio de Janeiro, era o principal órgão divulgador das ideias do Integralismo no país.  No Amazonas, chegavam a Manaus várias de suas edições que eram encaminhadas para a sede central. De lá o jornal era levado, por militantes, em barcos para serem distribuídos nos diversos municípios do interior, visando ganhar mais seguidores para a causa pliniana.


O FECHAMENTO DO NÚCLEO INTEGRALISTA AMAZONENSE E AS REAÇÕES

Em 1937 existiam em todo o Amazonas 11 mil integralistas. Ainda nesse mesmo ano o delegado da cidade de Coari, no interior, realizava uma perseguição implacável aos integralistas do local. A informação chegou a Manaus e o chefe do núcleo integralista do estado resolveu fazer essa denúncia ao governador Álvaro Maia (que segundo diz, simpatizava com a causa do Sigma). O governador atendeu o pedido e exonerou o delegado, mandando outro para substituí-lo. 

A saída do antigo delegado foi comemorada pela população de Coari assim como foi também um alívio para os integralistas do município.

Uma das últimas datas cívicas comemoradas pelos Integralistas do Amazonas aconteceu no dia 19 de novembro de 1937, data dedicada à bandeira do Brasil. O ato aconteceu na sede da Rua Quintino Bocaiúva, que começou às 20h e teve grande presença de militantes e simpatizantes.

Em dezembro de 1937, Vargas proibiu o integralismo em todo o Brasil. No Amazonas, houve o fechamento dos núcleos de Manaus e de outras cidades do estado. Mas em Tefé, no interior, houve reação. Inconformados com a decisão da polícia de fechar o núcleo daquele município, os integralistas da cidade desafiaram o delegado local, desfilando pelas principais ruas de Tefé com a camisa verde. Mas a polícia logo reagiu e acabou prendendo vários deles e fechando definitivamente a sede do núcleo integralista da localidade.

Em Maués, outra cidade do interior amazonense o delegado do município enviou uma diligência policial para prender dois indivíduos que, uniformizados com a camisa verde estavam (segundo a fonte da época) praticando atos agressivos.

Em 1938, com a tentativa frustrada do ataque dos integralistas ao palácio Guanabara, no Rio de Janeiro, onde estava o presidente Getúlio Vargas, este decretou a perseguição e prisão de todos os seguidores de Plínio Salgado pelo Brasil.

Porém, mesmo após a extinção da Ação Integralista Brasileira no país, ainda há uma última notícia sobre um seguidor do Integralismo no Amazonas. Em 20 de maio de 1938, o investigador de polícia Alfredo Leal prendia o indivíduo Lúcio Bentes de Souza, na Rua Lauro Cavalcante. Ao ser recolhido ao xadrez foi encontrado com ele um bilhete em que Lúcio escrevia para Plínio Salgado explicando sua devoção à causa e enaltecendo o líder dos camisas-verdes. Lúcio era paraense e, antes de vir para Manaus, fez parte da AIB em Belém sendo radiotelegrafista. Ele residia na Rua Leovegildo Coelho nº 204.


Desfile dos membros da Ação Integralista Brasileira no Centro de Manaus, em 1937.


A verdadeira história dos Integralistas no Amazonas ainda é obscura e desconhecida da sociedade local. Ainda se carece de uma pesquisa mais aprofundada das ações do integralismo em solo Amazonense, desse que é considerado um dos principais movimentos políticos que surgiu na história do Brasil.


Fontes: 
O Jornal, A Federação, A Cabocla, Jornal do Commercio, A Offensiva e Anauê.
Pesquisa:
Prof. Gaspar Vieira Neto

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