A COBRA - GRANDE DO RIO JAVARÍ E O AVENTUREIRO DA SUÉCIA

Segundo notícias da época, era o dia 28 de julho de 1910. O explorador sueco Algot Lange (que residia em Nova York) se encontrava no seringal Floresta (de propriedade do Coronel Rosendo da Silva), situado na região do rio Javarí, no Estado do Amazonas.

Algot estava com um grupo de seringueiros que passaram o dia pesando e carregando pélas de borracha, do centro da mata, para uma canoa grande, onde de lá eles levariam o produto até a sede do seringal mencionado e de lá uma lancha embarcaria a borracha até a Vila de Remate de Males, na fronteira com o Peru, para depois seguir seu trajeto até Manaus.

Os seringueiros resolveram então navegar na canoa à noite, devido ao clima ser mais agradável e sem ter insetos importunando.

O sueco então embarcou na canoa junto com seus amigos, seis caboclos trabalhadores, e com a carga de borracha. Navegando próximo à margem do rio, passaram a noite fumando cachimbo, rindo, cantando e ouvindo o barulho dos animais da mata, continuando eles a remar.




Ilustração mostrando um grupo de exploradores se deparando, na Amazônia, com a lendária e temível Cobra-Grande.


O ENCONTRO

De repente um deles, olhando fixamente pra margem em meio a galhos de árvores, gritou: "-O que é aquilo?".

Todos então pararam de remar e olharam para uma coisa escura descansando num banco de areia na beira do rio, iluminado apenas pelo luar.

Então outro dos homens percebeu o que era e disse: "- É uma Sucurijú" (Sucurijú é como também os caboclos chamam a lendária Cobra Grande ou Anaconda).

Todos ficaram tremendo de medo pois estava ali o chamado terrível monstro que tanto se ouviam casos e que muitos duvidavam de sua existência. Eles criaram coragem e resolveram encostar a canoa na margem e descer, próximo onde o gigantesco réptil estava. Ela estava num baixio úmido e barrento, entre galhos velhos e enrolada entre si, que fazia um monte de dois metros de altura. Como relatou o sueco, era uma monstruosidade escamosa.

O explorador estrangeiro e os caboclos, armados de rifles, pararam a 5 metros de distância do animal (sem fazer barulho e achando que ela estava dormindo) e começaram a engatilhar suas armas com o intuito de matá-la.

Porém, já pertos da cobra, começaram a ficar estáticos e olhando um para o outro. Não tinham mais forças para andar, estavam todos hipnotizados e em transe. Foi aí que o sueco lembrou das lendas que ouvia falar da Cobra - Grande, que ela tinha o poder de hipnotizar os humanos para que não pudessem se mexer, para assim a cobra devorar a pessoa.

Ele então sentia-se enfeitiçado, incapaz de dar um passo adiante ou até mesmo pensar e agir por iniciativa própria e seus amigos estavam da mesma forma. E agora?


Notícia estampada no Jornal do Commercio, do encontro do explorador sueco com a descomunal cobra.



A MORTE DO DESCOMUNAL RÉPTIL

Contudo, Algot teve forças para mover sua mão no coldre de sua pistola, no momento em que a cobra começava a se desenrolar para degustar o seu banquete humano. Puxou sua pistola automática e disparou vários tiros, à queima roupa, na cabeça da serpente. Imediatamente os outros homens acordaram do transe e também dispararam dos seus rifles na cabeça enorme do réptil, que a essa altura ficou erguida a uma grande altura deles e silvando de agonia, se contorcendo e arrastando-se até a margem do rio, onde continuou se debatendo.

Meia hora depois a serpente parou de se mexer e ficou com a cabeça e parte do corpo submerso na água. Tudo indicava que agora estava morta.

Os homens, então, se recuperando do susto, resolveram passar a noite ali e esperar o raiar do dia, pois o sueco estava ansioso para ver melhor o lendário ser pela primeira vez à luz da manhã.

No dia seguinte, após tomarem o café, eles foram ao local ver a cobra morta. Ela estava com parte da cabeça despedaçada. Eles então, com muito sacrifício, começaram a tirar a serpente do baixio e trazê-la à terra firme onde deixaram ela toda estirada no chão para que, assim, pudessem saber seu tamanho e lhe tirar parte do couro.

Era uma cena de tirar o fôlego, uma cobra colossal estirada num barranco com sete homens assustados e admirados em sua volta.

O sueco Algot começou a tirar a medida do bicho usando o palmo como unidade de medida. O réptil media 18 metros de comprimento e um metro e oitenta de circunferência.

Maravilhado e ao mesmo tempo pasmo com a experiência inusitada e perigosa que teve na floresta amazônica, Algot Lange escreveu o seguinte em seu diário:

" Senhores eis-me aqui, neste 29 de julho de 1910, maravilhado diante do couro de uma cobra de tamanho inacreditável. Quando eu voltar para os Estados Unidos, e contar-lhes que vi e matei uma cobra com dezoito metros de comprimento, eles vão rir e me chamar de mentiroso ".

Depois eles seguiram viagem, levando agora a pele da cobra para a sede do seringal, onde o sueco a preparou com sabão arsênico e a encaixotaram para enviá-la à Nova York.

Após voltar aos Estados Unidos, Algot lançou seu livro em 1912 contendo esse e outros fatos de sua viagem e estadia na Amazônia.

Realidade ou lenda? como se diz, acredite se quiser.



O explorador sueco Algot Lange.


...

Fontes: Jornal do Commercio (AM), edição de julho de 1912; Livro "Aventuras de um sueco nos confins do Alto Amazonas ", de Algot Lange.

Comentários

  1. Olá Professor Gaspar, parabéns pelo blog. Como faço para adquirir seu livro - Memória do Esporte Bretão Caboclo?

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