A VIDA COMERCIAL NA MANAUS PROVINCIAL DE 1875.

No ano de 1875, antes do início do ciclo da borracha, Manaus era uma pequena cidade de 17 mil habitantes e capital da Província do Amazonas, uma das unidades do império do Brasil, que ainda não havia passado pela radical transformação em seu traçado urbano. Porém isso aconteceria anos depois quando começaria a exportação gomífera, a urbanização da cidade e o desaparecimento dos resquícios da arquitetura provincial de Manaus, que seria substituída por uma nova e moderna arquitetura de estilo europeu.


Ilustração que mostra a Manaus na época da província, onde se vê a Praça Riachuelo.

Manaus era uma cidade pacata e pequena e seu perímetro urbano se estendia do igarapé do Aterro (hoje avenida Getúlio Vargas) à Rua do Progresso (atual Rua Dez de Julho), onde se encontravam os bairros da Campina, São Vicente, Remédios e Espírito Santo. Havia um outro pequeno bairro, chamado de Costa da África, e que era habitado somente por ex-escravos negros alforriados.

 

A RUA BRAZILEIRA - A PRINCIPAL VIA COMERCIAL DE MANAUS

Sem dúvida nenhuma a Rua Brazileira (atual Avenida 7 de Setembro) era onde se situavam alguns dos estabelecimentos comerciais mais importantes da cidade. Nessa rua estava a Loja de Jóias, de Luiz Schill, onde se vendia um sortimento de de joias fabricadas na Alemanha e França. Lá também ficava a loja de calçados de Joaquim da Silva Pingarilho.


Um aspecto da Rua Brazileira, principal via da Manaus provincial.


Era também na Rua Brazileira que estava a grande casa comercial de Khan & Polack, bem na esquina com a Travessa da Imperatriz (atual Rua da Instalação), que tinha rico sortimento de roupas feitas em Paris. Havia a casa inglesa "Riedel Spengler & Cia.", onde se vendia vinho do Porto, tecidos e botinas francesas.

A rua contava com a farmácia de José Duarte Dias, que vendia pastilhas preparadas para combater os vermes intestinais das crianças.

Outro importante estabelecimento do local era o Bazar Francez (dos proprietários Russel e Lefevre) que possuía vinhos, conservas, sardinhas, roupas e chapéus.

Também estava ali o açougue de José Paulino Hoonholtz.

Muitas outras importantes casas comerciais estavam instaladas na Rua Brazileira: A Loja Brinco(vendia cachimbos e piteiras); O Bazar de Modas (de Branco & Cia. ); a casa de Chico Sá (vendia, entre outros, polvos em barricas); a sapataria de Manoel Alves dos Santos; a loja de Armando Gonçalves de Araújo; a Padaria Francesa (de Matias Aguiar).


Um anúncio da conceituada Loja Brinco, para seus fregueses.


COMÉRCIOS EM OUTRAS RUAS DE MANAUS

Mas haviam também outros importantes estabelecimentos comerciais fora da Rua Brazileira.

Nas imediações da Praça Riachuelo havia a casa "Villa du Havre"(de Almeida da Silva & Cia.) que vendia charutos alemães e leite condensado suíço.

Próximo à Praça da Imperatriz (atual Praça da Matriz) havia o "Túnel de Londres", onde se vendia estivas e frutas europeias.

Ali mesmo se situavam as firmas Soares Belo & Cia., Antônio Rodrigues Soares & Cia., e Salomão Acris & Irmão.

Na Travessa da Imperatriz também estava a firma Amorim e irmão (do Comendador Alexandre Amorim), que comercializava cal de Lisboa e o champanhe "Cliquot".

Na Rua Boa Vista (atual Rua Marquês de Santa Cruz) existia o Centro Comercial Amazonense (de José Teixeira de Sousa).

Na Travessa Formosa (atual Rua Teodureto Souto) o estabelecimento de João da Silva Sarmento vendia bacalhau a 240 réis a libra. Também na mesma travessa situava-se a casa Pinto Bastos & Cia., que vendia tabaco de qualidade e a funilaria da firma Castro & Cia.

Luiz Leopoldo de Almeida tinha seu armazém, de secos e molhados, na Rua da Independência (hoje Rua Frei José dos Inocentes).

Nas imediações da Praça Riachuelo havia o comércio do português Manoel Corrêa da Rocha, que tinha fama de mau humorado e violento.

A Padaria Luso-Brasileira, situada perto da ponte do Espírito Santo (onde hoje está a Alfândega), tinham saborosas bolachas com mel.

A Loja Esperança, de Bernardo Truão, era bem sortida e se situava na Rua do Imperador (atual Rua Marechal Deodoro) e comercializava cerveja da Baviera, conhaque, queijos, querosene, açúcar e livros de grandes autores.

Também ficava na Rua do Imperador a Loja de Calçados, de propriedade de Francisco Euzébio de Sousa, a tipografia do "Jornal do Amazonas", a Ourivesaria do Garcia, a Firma Rodrigues Vieira & Cia. (que tinha estoque do vinho de Bordeaux) e o Hotel do Commercio (o principal da cidade).

Existia também a livraria de Abel Maria de Sousa, na Travessa do Barroso (atual Rua Barroso).

A fábrica de fogos de artifício (de Joaquim Gomes de Lima) ficava na Estrada dos Remédios e aceitava encomendas.

No Café Central, pertencente aos sócios Leandro Ribeiro e Joaquim Varella, se realizava jogos de bilhar e se servia café e chá a qualquer hora do dia. O estabelecimento ficava no entorno da Praça Tamandaré. 

A Loja da Amélia, na Travessa da Glória, era especialista na venda de vestuário feminino. A senhora Amélia Gameiro era a proprietária do local.

O jornal "Commercio do Amazonas" tinha sua tipografia na Rua Henrique Martins. 

Na Rua da Palma(hoje rua Saldanha Marinho) havia a taberna de Manoel Gonçalves de Araújo.

 

PRINCIPAIS PROFISSIONAIS DE MANAUS NAQUELE ANO

O alfaiate da sociedade era Domingos Ribeiro de Matos, que tinha bonita coleção de camisaria inglesa e o melhor linho irlandês.

O melhor fotógrafo da cidade era Francisco Sabino Lopes Brandão, na Praça Paissandu.

Próximo da também Praça Paissandu, havia o consultório do dentista americano John Dix Weatherly.

Na Rua dos Remédios (atual Rua Miranda Leão) o farmacêutico José Miguel de Lemos, na sua Farmácia, manipulava o seu milagroso remédio chamado" Tiro Mortal".

O tabelião Bessa possuía seu cartório nas proximidades da Praça da Imperatriz.

O renomado professor de música Raymundo Carneiro, ensinava seu ofício aos alunos do internato dos Educandos Artíficies (localizado à margem do Igarapé de Manaus) 

Euzébio Antunes tinha sua barbearia na Rua das Flores (atual Rua Guilherme Moreira).

O Dr. Ernesto Rodrigues Vieira, conhecido advogado da cidade, tinha seu escritório em sua casa, na Rua do Imperador.

Outro renomado advogado, o Dr. Theodoro Tadeu de Assunção, tinha seu escritório também em sua casa, na Rua Henrique Martins

O Dr. Pires Caldas, médico especialista em operações e partos, atendia na enfermaria militar.

No bairro do Espírito Santo havia a Escola Noturna Municipal, sob a direção do professor Caetano Luis Simpson.

Já a escola do Bairro de São Vicente era dirigida pela professora Dulce Angélica Ferreira.

A Escola Pública Primária era só para alunos do sexo masculino e ficava no Bairro dos Remédios. Públio Ribeiro Bittencourt era o diretor da instituição.

O Vigário Geral, Padre José Manoel dos Santos Pereira, realizava as missas, casamentos, e batizados na Igreja dos Remédios, pois a nova igreja de Nossa Senhora da Conceição ainda estava em construção.

O chefe de polícia era o Bacharel Frederico Carneiro Monteiro, que também tinha ordens para prender escravos negros fugitivos e entregá-los aos seus senhores.

Manoel da Fonseca Nery era o administrador do Correios e responsável em organizar, receber e mandar em malas, de Manaus, as correspondências para o interior do Amazonas e demais províncias.

O comandante de armas da Província era o Coronel Manoel Inácio de Brício e o novo quartel do 3º Batalhão de Artilharia a Pé, estava em construção.

Já o Sr. João Freitas Guimarães (agente da Companhia de Navegação do Amazonas) anunciava nos jornais da cidade a saída, do porto de Belém, dos vapores Marajó e Javary com destino à Manaus, trazendo passageiros e novidades em mercadorias vindas da Europa para abastecer o comércio manauara.

O sapateiro Joaquim Tavares tinha seu local de trabalho na Estrada de Epaminondas (hoje Avenida Epaminondas).

De Manaus também partiam os vapores para os locais mais distantes do interior da província, levando outro tanto de mercadorias chegadas da Europa para as cidades, freguesias e vilas situadas à margem de vários rios. Os vapores Juruá e Anajás iam para o rio Madeira; o vapor Arimã para o rio Juruá; o vapor Andirá para o rio Purus; o vapor Icamiaba para o alto Solimões; e o vapor Jamary ia para o rio Negro. 


RECREAÇÃO

No Teatro da Beneficente (na Praça Uruguaiana) os artistas Rafael Fernandes e Bastos animavam a todos com seus números de acrobacias.

Os bailes sociais dançantes aconteciam na Sociedade Novo Mundo, no Club Familiar, no Ateneu das Artes,no Euterpe Rio-Negrense e na grã-fina sociedade Harmonia Amazonense.

Os boêmios frequentavam a Sociedade Fandango, o Club dos Apurinãs e no melhor de todos : o Beija-Flor, onde a bailarina francesa Rose Unqueline sacudia as madrugadas de Manaus com os seus mais variados rebolados, entre aplausos, beijos, suspiros e estouros da champanhe "Cliquot"

 

Fontes:

Jornal do Commercio, Jornal O Amazonas, Commercio do Amazonas..


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