GUERRA NA SELVA - OS CONFLITOS SANGRENTOS ENTRE SERINGUEIROS E ÍNDIOS NO INTERIOR DO AMAZONAS NO INÍCIO DO SÉCULO XX.
Com a valorização da borracha
como matéria prima para atender aos grandes mercados consumidores da Europa e
Estados Unidos, a Amazônia passou a ser o grande fornecedor do produto a nível
mundial, pois era na região que se encontrava a maior concentração de seringueiras.
Esse período ficou conhecido na
história como o ciclo de ouro da borracha (1890 - 1912), em que a Amazônia teve
um notável desenvolvimento econômico. Com isso a economia do Estado do Amazonas
deu um salto vertiginoso, o capitalismo começava a penetrar na região, hábitos
e costumes se modificam, cidades e povoados surgem pelo interior e a capital,
Manaus, se moderniza.
Mas, para atender a demanda da
produção, precisava-se agora de mão de obra mais abundante para extrair o
precioso líquido, o látex, das seringueiras, visto que a população local era
escassa.
A solução foi buscar esses
trabalhadores no Nordeste brasileiro, como uma alternativa de ganho para a
massa de deserdados que havia ali.
Foi então, na grande seca de 1877
a 1879 que assolou o Ceará, que um grande contingente de trabalhadores se
dirigiu à Amazônia, fugindo da seca e ao mesmo tempo com a esperança de
conseguir uma vida digna com um trabalho remunerado.
O comendador cearense João
Gabriel de Carvalho Mello foi um dos pioneiros a levar cearenses pra trabalhar
na Amazônia. Esses trabalhadores vieram em 1878, no vapor Anajás, comandados e
contratados pelo referido comendador, e se instalaram nos diversos seringais
dele, situados nos rios Purus e Acre, numa área habitada pelos índios Jamadis (que
mais tarde empreenderiam uma guerra contra aqueles que consideravam invasores).
Ilustração de Lúcio Izel retratando um encontro sangrento entre índios e seringueiros. |
Daí em diante, durante toda a
época do ciclo da borracha (que perdurou até 1912), cerca de 500 mil
nordestinos (a maioria vindos do Ceará) migram para a Amazônia, em busca do Eldorado.
Grande parte deles se fixou em
seringais às margens dos rios Purus, Madeira e Juruá (no Amazonas) como também
chegaram até o território do Acre. As promessas de uma vida melhor logo
acabaram se tornando uma falácia para aqueles pobres desafortunados. Privações,
perigos e semiescravidão eles encontraram no meio da mata, restava-lhes agora
rezar pela própria sorte. Logo que chegava ao seringal, o nordestino era
chamado de "brabo", ou seja, a pessoa que não tinha experiência com o
trabalho da seringa. Depois que se aclimatava com a região e com o trabalho
passava a ser chamado de "manso".
Todavia, um dos principais
perigos que o seringueiro enfrentava nesse período vinha dos confins da
Floresta virgem: os índios.
Se sentindo ameaçados pela
presença daqueles desconhecidos, diversas etnias indígenas empreenderam contra
os recém chegados trabalhadores nordestinos (e vice-versa) uma brutal guerra, com episódios sangrentos
protagonizados por ambas as partes.
Esse conflito envolvendo os dois
citados grupos e muito presente durante o chamado ciclo da borracha, ainda é um
tema pouco pesquisado a fundo e também pouco mencionado.
AS TÁTICAS DE GUERRILHA, ESCARAMUÇAS,
DESESPERO E SANGUE.
Com a chegada e penetração mais
latente dos seringueiros nas vastas áreas de mata, em busca das valiosas
seringueiras, os índios se viram tendo seu território invadido e, para expulsar
o elemento indesejado, passaram a organizar bandos armados com a finalidade de
invadir a sede dos seringais, destruir os barracos, matar seus ocupantes e saquear as mercadorias ali existentes. Também
não dispensavam em matar as mulheres e crianças do seringal. Eles também
costumavam atacar os seringueiros de surpresa, quando estes se dirigiam ao
trabalho pela estrada no centro da floresta, utilizando táticas de guerrilha e
logo depois sumiam mata adentro.
Um seringueiro no Amazonas no início do Século XX. Poderiam ser surpreendidos e mortos a qualquer momento pelos índios, como também vários deles invadiram aldeias e assassinaram os índios. |
Porém os seringueiros também
praticavam seus atos de atrocidades. Era comum o dono do seringal organizar
expedições com seus trabalhadores que, armados de espingardas e terçados, invadiam
as aldeias dos índios de surpresa, matando também mulheres e crianças e tocando
fogo nas ocas. A finalidade dessas expedições era punir índios que tivessem
invadido seringais como também
pretendiam roubar as índias para satisfazer o desejo sexual dos seringueiros e,
ao mesmo tempo, aprisionar índios para trabalharem nos seringais.
Como se pode perceber, haviam
vários motivos para ambas as partes justificarem a cruel matança protagonizada
no período abordado.
Os anos de maior incidência dos
conflitos ocorreram de 1890 a 1923, ou seja, mesmo após o fim do ciclo da
borracha (em 1913) a guerra continuou, sem tréguas, até a metade da década de
1920.
Mas, com as ações de catequese
dos índios feitas pelas diversas ordens religiosas católicas na Amazônia (como
exemplo os Salesianos) e a criação do Serviço de Proteção ao Índio (atual FUNAI),
integrando os índios à chamada sociedade civilizada ,estes conflitos tenderam a
diminuir, com a pacificação de várias etnias contrárias à presença do homem branco.
Os choques entre os selvícolas (termo
muito usado pelos jornais da época para se referir aos índios) e seringueiros
foram muito comuns no Estado do Amazonas e no território do Acre. Porém a
região que teve mais intensidade de encontros mortais, se transformando numa
verdadeira zona de guerra, foi a área do rio Madeira, onde habitavam os temidos
índios guerreiros da etnia Parintintin, que se tornaram os mais hostis e
ferozes contra a presença do homem branco em seu território.
É importante lembrar que nem todas as etnias indígenas eram hostis à presença dos seringueiros. Haviam várias delas que eram pacíficas e tinham contatos amistosos com eles, sem lhes causar qualquer espécie de danos.
É importante lembrar que nem todas as etnias indígenas eram hostis à presença dos seringueiros. Haviam várias delas que eram pacíficas e tinham contatos amistosos com eles, sem lhes causar qualquer espécie de danos.
OS ÍNDIOS PARINTINTINS, A
FÚRIA MORTAL CONTRA OS SERINGUEIROS.
Entre a maioria dos casos
envolvendo as contendas entre índios e seringueiros, os Parintintins se
notabilizaram como autores da maioria dos ataques e mortes (conforme mencionam
os jornais da época), se tornando o maior pesadelo dos patrões e de seus
trabalhadores dos seringais dos rios Madeira, Aripuanã e adjacências.
Os Parintintins tinham como
costume decapitar o inimigo, cuja cabeça era levada para a aldeia e exibida a todos.
Na época dos conflitos, os Parintintins
habitavam uma área que ia da região leste do rio Madeira até a boca do rio
Machado, a leste do rio Maici.
Eles falavam (e ainda falam) uma
língua da família Tupi-guarani, e presumivelmente são descendentes dos
"Cabaíbas", que habitavam a nascente do rio Tapajós no final do
século XVIII.
A guerra era um importante
aspecto na cultura desse povo. O prestígio masculino era dado quando acontecia
a captura da cabeça de um inimigo (motivo pelo qual eles decapitaram vários
seringueiros),que deveria ser exibida pelo guerreiro na aldeia e logo se
realizava uma dança-ritual, seguida de uma grande festa para celebrar o feito.
Com isso o cortador da cabeça subia de status na aldeia. Havia também relatos de que os Parintintins consumiam a carne de seus inimigos mortos, mas tudo não passava de boato pois tais índios nunca foram antropófagos.
Os últimos ataques dos indomáveis
índios aconteceram em 1922.Porém, nos anos de 1922 e 1923, os Parintintins
foram enfim pacificados, graças às expedições e ação do etnólogo alemão Curt
Nimuendaju. Encerrava-se, assim, as hostilidades entre os guerreiros
Parintintins e seus inimigos seringueiros.
OS PRINCIPAIS ENCONTROS FATAIS
DE ÍNDIOS E SERINGUEIROS NO AMAZONAS
Durante o já citado período de
efervescência econômica que o Amazonas passava, gerado pela atividade gomífera,
ocorreram no Estado centenas de mortes envolvendo membros dos dois grupos
inimigos em questão, numa verdadeira guerra não declarada oficialmente. Quase todos
os meses os jornais de Manaus noticiavam as depredações que aconteciam nos
distantes seringais, e a reação violenta daqueles trabalhadores para com os
índios, culminando, não raras vezes, na morte até do próprio seringalista dono
do local, geralmente varado a flechadas junto com sua família e seus
subordinados.
Contudo, os índios também
sucumbiam ao cano das espingardas e ao espancamento brutal. Era uma guerra sem
heróis ou vilões, onde cada parte defendia seu quadrado com ferocidade, e
atacava com o mesmo sentimento, esbanjando o sangue nos olhos, em um misto de
vingança e defesa. Vamos às principais notícias:
* Em 1905 aconteceu o maior massacre contra índios, no século XX, na Amazônia. Havia na margem do rio Jauaperi (próximo à Vila de Moura) o seringal do comerciante Fuão Antunes. Certo dia, os índios Uaimiris invadiram o seringal, matando três trabalhadores e incendiando o barracão.
Ao chegar a notícia do ataque em Manaus o governador Constantino Nery, em represália, designou uma força policial composta de 50 praças, para dar um castigo nos índios, o que de fato aconteceu, pois os policiais invadiram a aldeia deles matando a grande maioria dos Uaimiris, numa verdadeira carnificina.
* Em junho de 1907, num seringal
situado na boca do rio Apaporis, próximo ao rio Japurá, era proprietário do
local o colombiano Cecílio Plata, que vivia com uma índia, do qual tinham um
filho menor.
Cecílio, certo dia prendeu 5
índios da tribo dos Jaúnas, indo depois verificar a borracha fabricada. Na
ausência dele, os índios conseguiram se soltar e fugiram para sua aldeia. O
caixeiro de Plata, um cearense chamado Albino, pegou uma canoa (junto com
outros trabalhadores) para avisar o patrão, mas não conseguiram chegar onde ele
estava, devido encontrarem os índios na margem do rio, os ameaçando.
Cecílio, ao voltar para o
barracão, junto com seu filho Henrique (de um ano e meio) e de sua mulher (a
índia Josefa) e de um empregado chamado Batista, foram surpreendidos pelos
Jaúnas que atacaram a todos com flechadas. Cecílio teve ainda tempo de armar-se
com um rifle e matar 5 índios. Mas, como os atacantes eram maioria, conseguiram
liquidar as vítimas. O seringalista ainda agonizava quando os índios foram até
a canoa, pegaram seu filho e o rasgaram ao meio. A mulher, por ter pertencido a
tribo deles, foi poupada.
*
No ano de 1910, um grupo de 20 seringueiros peruanos, liderados por seu
patrão, atravessaram a fronteira com o Brasil no intuito de procurar mais
seringueiras e invadir a aldeia dos índios Mayorunas, na região do rio Javari,
para roubar índias. Porém os índios perceberam a presença deles é, armados de
lanças, flechas e zarabatanas, organizaram uma emboscada, pegando os peruanos
de surpresa. Quando estes, armados de espingardas, se dirigiam à aldeia, foram
atacados de tocaia. A luta foi feroz e sangrenta, durando cerca de 20 minutos.
No final, os seringueiros foram
todos massacrados pelos índios, que perderam 4 de seus membros. Após estarem todos os peruanos mortos, os Mayorunas deceparam todos os seus pés e
mãos, levando para a aldeia. Ali os pés
e mãos foram colocados em panelas e assados, dando início a uma grande festa, que
se estendeu até o dia seguinte, degustando eles a carne dos inimigos.
*
Às 11 horas da manhã do dia 19 de julho de 1910, os índios Parintintins
atacaram o seringal São Sebastião do Tapuru, no rio Madeira. Na luta travada
entre eles e os habitantes do local, morreram o velho Idelfonso (de 60 anos)
com várias flechadas, e sua mulher, que foi encontrada sem a cabeça. O
proprietário do local fugiu com sua família, ficando alojados em um sítio das
proximidades.
* Em 1912, no rio Jutaí, havia o
seringal Icaraí, pertencente ao Coronel Cornélio de Chaves Mello. Havia também
ali perto uma aldeia de índios Cunibas. O dito Coronel empregava alguns desses
índios no seu seringal.
Porém, um dia o Coronel Cornélio
castigou severamente 4 índias que eram suas serviçais. Ao saberem disso
(através de um trabalhador do coronel chamado Priorí), os índios ficaram
revolta dos e resolveram revidar.
Em agosto os Cunibas então
invadiram o seringal, matando o Coronel Cornélio, sua esposa (que estava
grávida) e um empregado seu. Após isso, saquearam por completo o local, levando
ainda como prisioneiras as cinco filhas do Coronel, chamadas Carolina, Areina,
Laura, Adelaide e Nadir (com idades
variando de 20 a 4 anos).Ao chegar no local do massacre, o senhor
Francisco Chaves (cunhado de Cornélio)ordenou a vários trabalhadores das
imediações a darem buscas na mata para resgatar as moças, porém nada foi
encontrado.
A notícia da morte do
seringalista e o sumiço de suas filhas repercutiu na capital Manaus, onde o
governador Antônio Bittencourt despachou (após uma ordem vinda do governo
federal, no Rio de Janeiro) uma força policial composta por soldados do 19
grupo de artilharia, para ir ao local resgatar as moças. Apesar de todas as tentativas
dos militares, não conseguiram localizar a aldeia dos índios e nem as mulheres.
*
O seringal Boa Esperança se localizava no rio Madeira e era propriedade
do senhor Ernesto Gonçalves Brasil.
No dia 23 de dezembro de 1912, pelas
dez horas da manhã, o seringueiro André, regressando da estrada, foi
inesperadamente alvejado nas costas por uma flecha lançada por um índio
Parintintin, oculto na mata. Desarmado de arma de fogo e longe da barraca, André
correu ferido rumo à sua canoa na beira do igarapé. Mas os Parintintins, agora
em maior número e numa grande gritaria, passaram a persegui-lo e lançaram mais
flechadas, que atingiram outras partes de seu corpo. Mesmo assim, ainda tentou
enfrentar os índios, que tomaram o seu terçado e o decapitaram, levando sua
cabeça para a aldeia, indo festejar lá o feito.
Mais tarde os companheiros de
André, passando pelo local, acharam seu corpo, levando-o para o barracão de Boa
Esperança e de lá foi transportado para a cidade de Humaitá.
* Havia em 1913,na margem do rio Purus, o seringal Serorí, que pertencia ao senhor Paulo do Nascimento.
Um certo dia dois seringueiros viram um casal de índios Apurinãs na mata. Com o intuito de raptar a índia para satisfazer seus instintos sexuais, os seringueiros entraram em luta com o índio, matando-o. Porém sua companheira fugiu, contando o ocorrido na aldeia.
Alguns dias depois os Apurinãs, chefiados por seu tuxaua, destroçaram uma expedição de 9 homens vindos do Serorí(matando a todos),que havia sido enviada à aldeia deles, possivelmente para roubar as índias.
Em junho, buscando vingança, um grupo de 50 seringueiros fortemente armados, atacaram de surpresa uma maloca, matando todos os moradores. Mas o revide dos Apurinãs não demoraria muito.
Em agosto foi a vez dos índios, em grande número, invadir o seringal Serorí, havendo sangrento combate e mortandade com intensa troca de tiros e flechas. No final, o resultado foi de vários feridos e 43 mortos entre seringueiros e índios.
O corpo degolado do seringueiro André, que foi morto pelos índios Parintintins em 1912. Foto do Jornal do Commercio. |
* O seringal Terra Nova pertencia
ao Major José Luiz Carlos da Silva,e se situava num afluente do rio Madeira.
No dia 17 de setembro de 1915, às
14 horas, voltavam para o barracão os seringueiros Vítor Martins e Ursolino, visando
fazer a defumação.
Ursolino e sua mulher foram
procurar um caroço de Ouricuri, na mata, deixando sua filha menor aos cuidados
de Vítor. Foi quando uma grande massa de índios Parintintins se aproximava.
Vítor rapidamente pegou um rifle, dando vários tiros e matando 6 índios (entre
eles o Tuchaua). Porém a munição acabou e, lembrando da criança que estava consigo,
e resolveu enfrentar os índios. Mas os Parintintins eram maioria e trucidaram o
homem, decepando sua cabeça e levando a criança para os confins da floresta.
Ursolino, que chegou no final do
ataque e viu a cena, procurou seu patrão que logo armou seus empregados e foram
em busca de resgatar a criança, mas sem resultado.
* Havia no Rio Aripuanã o seringal do Coronel Francisco Bayma. Nesse local, na manhã do dia 28/09/1917, os índios Ararunas fizeram um cerco ao redor do barraco onde se encontravam os trabalhadores cearenses José Raimundo, Vicente e João. Ao perceberem a presença ameaçadora dos índios, tentaram eles se apossar de suas espingardas, mas não tiveram tempo pois a barraca foi invadida e eles trucidados. Logo após os assassinatos, os Ararunas depredaram por completo o local.
*
Em 19 de abril de 1918, pelas 10 horas da manhã, os índios invadiram a
comunidade de Tucumanhici, no rio Nhamundá, povoada por seringueiros cearenses.
Os índios então saquearam todas as
barracas e depois as incendiaram. Em uma delas uma criança de 8 anos, chamada
Antônio, foi amarrada e degolada pelos índios, que levaram sua cabeça como
troféu. Alguns habitantes do lugar, que conseguiram escapar, foram avisar os
seringueiros, que estavam no trabalho. Eles então se armaram, perseguiram e
atacaram os índios que fugiram, deixando 5 deles feridos. Devido a isso, os
moradores abandonaram o lugar.
Um índio da tribo dos Jamamadis, do rio Purús, em 1893. Eles também eram avessos à presença dos seringueiros em sua área. |
* Era o ano de 1918, e no Rio
Castanho existia o seringal Pádua (cujo proprietário era o Coronel Manoel de Souza Lobo). Os seringueiros do local costumavam, sem
motivo nenhum, matar a tiros os índios que encontravam em sua frente, e que
habitavam uma tribo das imediações.
Furiosos, os índios resolveram
então se vingar dos seus algozes e começaram a caçar os seringueiros. A partir
daí vários deles, que eram surpreendidos nas estradas pelas emboscadas dos
índios, começaram a desaparecer.
Indignados com isso, os
seringueiros organizaram um bando com 50 homens fortemente armados e deram uma
batida em todas as imediações do seringal, numa caça de extermínio aos índios.
No final, eles mataram uma grande quantidade de índios.
Porém a resposta furiosa dos
indígenas veio no dia 15 de junho. Por volta da meia noite, quando os
seringueiros já dormiam em seus barracos os índios, sorrateiramente,
cercaram o local e atacaram de surpresa. Pegos de imprevisto, os seringueiros
tentaram defender suas vidas como puderam. No final, os índios mataram a
maioria dos trabalhadores, decapitando eles e levando as cabeças como troféu de
guerra, retirando-se para o escuro da mata.
Os sobreviventes, atordoados e
apavorados perante as cenas que presenciaram, embarcaram nas canoas que se
encontravam no porto e fugiram em busca de lugar seguro.
*
Trabalhava no seringal Cujubim, no Alto Rio Purus, o paraibano Clarindo
Soares de Oliveira. E ali perto havia uma tribo de índios hostis à presença
deles.
No dia 24 de julho de 1918
Clarindo, acompanhado de um colega, foi tomar banho em um igarapé. O colega o
deixou só e foi aí que Clarindo, surpreendido por um grupo de índios, saiu em
grande carreira, tentando transpor o igarapé. Mas acabou recebendo uma flechada
nas costas. Mesmo assim, ainda tentou fugir, mas foi alcançado pelos índios e
trucidado.
O seu patrão soube do ocorrido, armou
um grupo de subordinados, e deram uma batida na área visando pegar os índios, não
tendo êxito.
*
Em constante conflito com os seringueiros, os índios Jamandis atacaram, no
dia 10 de setembro de 1918, o seringal Mabidirí, no rio Purus, que pertencia a
João Alves de Mello. Porém não houve mortes devido os seringueiros não estarem
no local e sim no trabalho. Mas os índios saquearam e depredaram por completo
as barracas.
Anos atrás os mesmos Jamadis já
haviam invadido o mesmo local, com várias mortes dos dois lados.
*
No dia 30 de janeiro de 1919, no rio Castanho, afluente do rio Aripuanã,
um grupo de seringueiros armados e liderados por seu patrão, o senhor Agesislau
de Carvalho Guilhon, saíram do barracão central e se dirigiram à aldeia dos
índios Surumi, acusados por ele de invadir sua propriedade.
Chegando ao local, cercaram as
ocas dos índios e começaram a atirar. Correndo todos em pânico, foi morto um
índio e ferido uma índia com seu filho. Depois os homens incendiaram a aldeia.
Porém os índios se organizaram na
mata e armaram uma cilada contra o inimigo, que voltava por uma estrada. Eles
então os atacaram de surpresa, que culminou em um seringueiro ferido a flechada
e 4 índios mortos.
* No alto Rio Ipixuna, no
seringal do Coronel Joaquim de Castro Moura, era o mês de dezembro de 1919.Numa
certa madrugada o seringueiro cearense Manoel de Almeida estava em sua barraca
acompanhado da sua mulher (também do Ceará) e de sua única filha de um ano.
Manoel despertou do sono ouvindo
um grande alarido vindo da mata. Sua mulher também acordou e, desesperados, viram
que um bando de índios Pirarãs cercavam o local. Ele, junto com a mulher e sua
filha, e também um outro seringueiro que lhes fazia companhia, trataram de
fugir rumo à mata, mas foram alcançados pelos índios. Manoel, para dar fuga à
sua mulher, enfrentou os índios com um terçado em punho, Mas acabou morto por
flechadas. Sua esposa, com a filha nos braços também foram mortas. Somente o
outro homem conseguiu escapar, internando-se na floresta. Após morto, Manoel
teve sua cabeça decepada, tendo também sua barraca saqueada.
*
No dia 28 de março de 1920, no seringal São Bartolomeu, no rio Madeira,
os índios assaltaram o lugar, terminando na morte de 4 seringueiros e 2 índios.
Ao levantar-se de madrugada, o
seringueiro Rodolfo percebeu que os índios tinham dado um aviso que iriam
invadir o local. Ele então resolveu avisar os companheiros que estavam se
preparando para ir ao trabalho.
Rapidamente eles improvisam
trincheiras para repelir os invasores. Às 9 horas da manhã os índios, então em
grande número e entoando gritos de guerra, invadiram o seringal dando origem a
uma luta sangrenta.
Depois de 4 horas de muito fogo e
flechas, conseguiram os seringueiros colocar eles em fuga. O nome dos
seringueiros mortos eram Antônio Lima, Gastão Sá, José Mariano e Cândido
Anunciação.
*
Em maio de 1920, num seringal situado no rio Arará (afluente do rio
Madeira), pertencente à firma Asensi e Companhia, os seringueiros do local
atacaram uma aldeia indígena fazendo uma grande chacina, matando mais de 20
índios, inclusive mulheres e crianças. Depois disso, saquearam por completo a
aldeia.
*
No dia 15 de março de 1922,um grupo de índios Uaimiris atacaram um
seringal pertencente à firma Bezerra e
Irmãos, no rio Alalaú (afluente do rio Negro).Na hora do ataque, às 6 da manhã, o seringueiro Anselmo Alves se
refugiou, com sua mulher Tereza de Mello, no depósito de mercadorias, deixando
seus filhos menores Manoel e Francisca sos na sala da frente. Percebendo isso, os
índios abriram uma fresta na parede de madeira do barracão e flecharam as duas
crianças. Anselmo, porém, descarregou tiros de espingarda, matando dois índios
e ferindo outro
Os primeiros trabalhadores mortos
no ataque foi o encarregado Manoel Pestana, que estava tomando café e vendo o
início do ataque, armou-se de um rifle, mas logo foi atingido por uma flechada
na garganta. O outro foi Manoel Prego, que estava no porto, e ao transpor a
porta principal do barracão, caiu crivado de flechas. Os corpos dos seringueiros,
das crianças e dos índios foram enterrados nas comunidades do Marrana e do
Alalaú e na Vila de Moura.
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Fontes: Jornal do Commercio, A Capital, O Tempo, O Imparcial.
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