PÚSTULA CEREBRAL (1989 - 1990) - UMA DAS PIONEIRAS BANDA PUNK DO AMAZONAS


Em 1978 o Punk surge no Brasil, precisamente no Estado de São Paulo, quando ali aparecem as primeiras gangues e as quatro primeiras bandas do estilo: Restos de Nada, AI-5 e Ratos do Beco (na periferia da capital) e Mala Velha (em Osasco, no interior). Em pouco tempo o Punk se espalhou por toda a capital paulista e na região do ABC, com o aumento do número de adeptos e bandas, que adotaram o anarquismo como ideologia política.
Entre as bandas mais significativas do movimento nesse período havia os Inocentes, Cólera, Olho Seco, Condutores de Cadáver, Ratos de Porão, Ulster, Lixomania, etc., que com seu rock furioso e de protesto, atacavam a sociedade e suas instituições.
É no ano de 1982 que o movimento Punk paulista chega ao seu ápice, quando foi lançado o primeiro disco Punk do país (Grito Suburbano) e o primeiro festival Punk brasileiro (O começo do fim do mundo). Porém as brigas entre gangues, a repressão policial e a difamação pela imprensa, acabou por enfraquecer o movimento na paulicéia.
De São Paulo o Punk avançou para outros estados do país. Em Brasília surge, em 1978, a primeira banda Punk local: Aborto Elétrico. O Rio de Janeiro viu nascer o pioneiro grupo Coquetel Molotov, em 1981. Porto Alegre, Salvador e Juiz de Fora, foram outras das primeiras cidades que viram jovens aderir ao Punk, com suas jaquetas, coturnos e cabelos espetados.
Já no Norte, na década de 1980, surgia em Belém suas precursoras bandas Punks: Insolência Públika e Delinquentes. E, saindo da capital paraense, viajando de avião ou navegando o Rio Amazonas de subida, chega-se à capital do maior estado do Brasil em extensão territorial: Manaus. E na terra dos Barés a música e a ideologia Punk também começavam, aos poucos, se fazer presente.

O INÍCIO DA BANDA
Era o ano de 1989 em Manaus, o ainda jovem fã de rock Mário Orestes curtia várias tendências do estilo. Porém ao ter acesso aos discos de bandas punks como Cólera, Ratos de Porão, Olho Seco e Exploited, acabou se apaixonando e se identificando com o som agressivo e de protesto que elas faziam, se tornando assim um dos pouquíssimos punks que surgiu na cidade naquele ano.
Influenciado pelo som e ideologia punk, Mário se juntou a um colega chamado Klinger e lançaram a ideia de formar uma banda Punk, o que de fato aconteceu. E assim, eles se juntaram a dois outros amigos e deram origem, no final de 1989, à banda PÚSTULA CEREBRAL, uma das pioneiras do punk/hardcore no Amazonas.
Porém, antes do Pústula, já haviam surgido em Manaus uma banda punk de curto período de existência: Vômito.
Entretanto a Vômito (banda das irmãs Ana e Nina), surgida em 1987, não chegou a fazer nenhum show, se limitando somente a ensaios.
Em uma época em que o som punk era praticamente desconhecido em Manaus (até mesmo por muitos roqueiros da cidade) o Pústula foi uma espécie de desbravador do Punk/Hardcore no Estado.
As dificuldades eram muitas, pois não tinham locais para tocar, nem instrumentos. Tiveram de emprestar os instrumentos de uma banda de Metal chamada Anestesia.
Em 1989 fizeram seu primeiro ensaio com a seguinte formação: Mário (vocal), Klinger (guitarra), Clinton (baixo) e Augusto Pacú (bateria). Porém, a partir do segundo ensaio, Sérgio assumiu a guitarra (devido a saída de Klinger) passando a banda a se consolidar em definitivo com este novo integrante.
O nome escolhido para a banda foi uma alusão à ganância dos políticos, chegando a conclusão que eles só pensam em si próprios e nos seus privilégios, sem se importar com o sofrimento do povo. Encaravam essa atitude dos governantes como uma doença mental, não de origem psiquiátrica e sim fisiológica, ou seja, pústula cerebral significa um tumor no cérebro.

Foto, cedida por Mário Orestes, onde se vê uma apresentação da Pústula Cerebral no 'Crossover Festival', no Bairro do Japiim.


AS APRESENTAÇÕES
No final de 1989, começam a ser convidados para os primeiros shows. O primeiro foi no "Crossover Festival", no bairro do Japiim. Depois tocaram numa casa de programa chamada Tia Chica e num bar chamado "Pedra no sapato", onde a maioria do público era de boêmios. O último show ocorreu no Acapulco Clube, junto com várias bandas de Heavy e Thrash metal.
O repertório do Pústula, consistia em cover de bandas conhecidas do cenário punk nacional, como Replicantes, Inocentes, Olho Seco e Cólera. Mas levavam também algumas músicas próprias como o Hardcore "Protesto Total" e a rápida e agressiva "Muda Brasil" (um grindcore).
Na maioria desses shows o Pústula era a única banda punk, cuja maioria era de bandas de Metal e de rock clássico. O público, em geral, ficava parado ouvindo o som da banda pois ainda não conheciam aquele estilo.
Ainda não havia um movimento Punk organizado em Manaus e sim alguns poucos jovens que se assumiam punks e abraçavam aquela cultura.
Mário, o linha de frente da banda, era também militante do M.A.U. (Movimento Anarquista Unificado), uma das primeiras organizações anarquistas do Amazonas.



Informativo, de 1989, do Grupo Anarquista 3 de Janeiro, de Manaus. Movimento do qual o vocalista da banda Pústula Cerebral fazia parte.




O FIM
Contudo, em 1990 o Pústula encerrava suas atividades devido a divergências ideológicas e musicais entre os membros. Mário e Sérgio queriam continuar com a proposta punk, porém os outros dois membros desejavam seguir outro caminho.
Quando o Pústula Cerebral acabou já haviam surgido três outras bandas que tocavam punk na cidade chamadas Lixo Urbano, Distúrbio Social e Asfixia. Mas o pioneirismo do Pústula Cerebral, numa época de muita dificuldade, consistiu em abrir barreiras para o surgimento de outras do estilo em Manaus, que surgiram depois.
Embora não tenha sido a primeira banda Punk do Amazonas, foi no entanto uma das pioneiras no Estado e a primeira do estilo a se apresentar em shows e levar a mensagem punk de protesto para o público roqueiro local.

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