A VINGANÇA DE UM INDÍGENA CONTRA UM FAMOSO DESORDEIRO

Era o ano de 1918 no Estado do Amazonas e existia na margem do rio Negro um pequeno povoado chamado Santa Rita, que ficava próximo à Vila de Tauapessassu (atual Novo Airão).

Residia em Santa Rita um indivíduo chamado Francelino Paiva que era considerado por todos ali como um grande desordeiro e de maus precedentes, que sempre vivia em contínuas arruaças.

Um certo dia, se metendo em mais uma desordem, Francelino acabou ferindo um companheiro seu e, com medo de uma vingança de sua vítima e dos familiares dela, acabou fugindo para rumo ignorado.

Porém, um dia Francelino inesperadamente voltou para Santa Rita, pedindo desculpas ao homem que dias antes havia agredido e obtido do mesmo a promessa de que nada lhe faria para se vingar, fazendo os dois as pazes.

Mas 4 dias após sua aparição eis que novamente Francelino desaparecia da localidade, e desta vez para sempre. Passaram-se dias e ninguém agora sabia o motivo de seu sumiço e, querendo resolver o mistério, alguns moradores procuraram descobrir a causa do novo desaparecimento repentino do famoso arruaceiro e onde estaria. Foi então, nessa busca, que os moradores descobriram várias pegadas de indígenas na areia molhada da comunidade, que seriam dos Jauaperis.

Os Jauaperis, índios guerreiros que habitavam aquela área, travavam há décadas conflitos sangrentos contra seringueiros e seus patrões e também contra moradores de vilas próximas que sempre resultavam em muitas mortes de lado a lado.

Temendo um ataque dos indígenas à Santa Rita, os habitantes do lugar trataram de se precaver contra uma possível emboscada e invasão que os Jauaperis estariam tramando.

Mas no dia 10 de julho de 1918, um morador de Santa Rita, chamado Caetano da Silva, foi apanhar algumas castanhas mata adentro. Caminhando ele com seu paneiro nas costas e seu terçado na mão, Caetano já bem no centro da floresta se deparou com uma cena estarrecedora: encontrou, frente a frente, dois esqueletos humanos amarrados de costas na mesma árvore.



Na ilustração se tem uma representação do momento em que o castanheiro encontrou os esqueletos amarrados na árvore. 


Aterrorizado com seu achado macabro, Caetano procurou logo sair dali subitamente, mas eis que quando se preparava para se evadir surgiu à sua frente, do nada, um indígena armado de arco e flecha que ficou olhando fixamente para Caetano que, assustado, já se preparava para um possível ataque do seu oponente.

Mas o indígena não o atacou e apontando para os dois esqueletos que estavam atados disse para Caetano, num português arranhado e misturado com a língua geral, o seguinte: -"Peguei os dois e os matei de fome e de sede amarrados nessa árvore. Francelino me enganou e mentiu roubando minha mulher. Em compensação dei para eles o pior dos castigos".

E após dizer de quem eram os esqueletos e o motivo da morte deles, o indígena entrou mais ainda na mata e desapareceu. Já Caetano, sem querer, acabava de descobrir o que realmente havia acontecido com Francelino que, acostumado a procurar confusão, agora tinha pagado um preço alto por sua aventura perigosa.


Fonte: Jornal do Commercio.


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