UM FAMOSO DUELO, NO BAIRRO DE SÃO RAIMUNDO EM MANAUS, ENTRE OS DOIS MAIORES VALENTES QUE HAVIAM NA CIDADE
O mais que centenário bairro de
São Raimundo, localizado na zona oeste de Manaus, é um dos bairros mais antigos
da cidade e também um dos mais tradicionais, tendo a sua ocupação iniciada por
migrantes nordestinos e de ribeirinhos oriundos do interior do Amazonas.
O primeiro morador do bairro, e
desbravador do local, foi um jovem de 29 anos que veio da cidade de Maranguape,
no Ceará, chamado Manoel Gomes de Oliveira, que ficou conhecido como
"Manoel Macaco". Ele chegou sozinho nas terras que dariam origem à
São Raimundo, no século XIX, em plena época monárquica quando o Amazonas era
uma província do império.
Ao se instalar no local onde não
havia ninguém e só tinha mata bruta, Manoel construiu um tapiri à margem
direita do rio Negro, onde passou a morar, e ali ele deu origem à uma extensa
roça cultivando-a e vivendo dos produtos que plantava em seu roçado.
Mas, com a chegada de novos moradores,
aos poucos sua extensão de roça foi diminuindo, devido terem sido ocupada pelos
recém-chegados.
Manoel Macaco foi obrigado a
deixar sua antiga função de lavrador e passou a se dedicar a outra profissão,
se tornando carpinteiro naval. E ali em São Raimundo o pioneiro morador casou
com a senhora Maria Gomes de Oliveira, falecendo ele em junho de 1941, com mais
de 90 anos de idade.
O SURGIMENTO DE DOIS VALENTES
INDIVÍDUOS
Na década de 1920 existia no
bairro de São Raimundo (então subúrbio da cidade) um famoso personagem que
ficou conhecido no bairro, e em toda cidade de Manaus, por sua valentia e por
ser um exímio lutador de rua, bom de porrada, que com a força de seus músculos
e punhos, derrubava qualquer adversário que o desafiasse. Devido a isso ele
passou a ser temido e respeitado por todos. Aliás, registros antigos dizem que
ele foi um dos melhores lutadores de rua que houve no Amazonas. Seu nome era
Francisco Pereira da Silva, mas ficou conhecido em toda cidade por seu popular
apelido: "Chico Preto”. Ele era trabalhador, mas era o tipo que não levava
desaforo pra casa.
Mas, nessa mesma época, apareceu
em Manaus um outro indivíduo dotado de valentia e também bom de briga, que era
conhecido pela alcunha de "Sussuarana”, que também passou a ser temido na
cidade.
Sussuarana chegou à Manaus
trazido de outro estado por um chefe político local, algum governador e
prefeito que empregava ele como seu segurança particular ou como capanga para
intimidar e espancar algum adversário político ou algum outro que fosse contra
seus interesses. Sussuarana passou também a ser conhecido como um sujeito terrível,
se metendo em arruaças e espancando quem lhe peitasse.
A partir dali, Chico Preto e
Sussuarana passaram a ser sinônimo de cabras destemidos e valentes e muitos
imaginavam como seria um duelo entre os dois maiores brigões de Manaus.
DISPOSTO A CONSOLIDAR SUA FAMA
DE ARROJADO, SUSSUARANA VAI À SÃO RAIMUNDO DESAFIAR CHICO PRETO E LEVA A PIOR
Porém esse dia chegou. Sussuarana
soube que em São Raimundo havia um sujeito chamado Chico Preto que não temia
ninguém e era praticamente invencível numa briga a dois. Disposto a humilhar o
rival em seu terreno e mostrar a todos que não existia ninguém em Manaus mais
valente e bom de briga do que ele, Sussuarana se dirigiu ao bairro de São
Raimundo e, ali chegando (onde as ruas do local eram de barro e a maioria das
casas eram feitas de madeira), foi logo declarando em voz alta que ali não
havia homem capaz de o enfrentar.
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Na ilustração, se tem uma representação da briga entre
Sussuarana e Chico Preto. |
Chico Preto, que estava no lugar
no momento, foi avisado por populares da presença do célebre capanga e, ouvindo
a provocação que ele estava fazendo, logo se dirigiu à presença de Sussuarana
ficando frente a frente com seu oponente e disposto a provar para o intruso que
ali havia homem sim.
Com várias pessoas ao redor para
ver o resultado final de um confronto que muitos esperavam um dia acontecer,
Chico Preto e Sussurra avançaram um contra o outro, dando início a um violento
combate corpo a corpo cheio de socos, pontapés e rasteiras. Mas, mostrando mais
força e agilidade, Chico Preto acabou derrotando seu famoso rival que,
humilhado pela surra que sofreu, saiu do bairro para nunca mais voltar ali.
A luta entre Sussuarana e Chico
Preto ficou por anos lembrada em Manaus como uma das maiores brigas de rua que
teve na cidade.
O FIM TRÁGICO DOS DOIS
PROTAGONISTAS DA CÉLEBRE LUTA
Quanto à Chico Preto, anos depois
ele acabou tendo um fim fatídico quando, em companhia de amigos, estava
pescando com o emprego de bombas que jogava no rio para pegar os peixes.
Acontece que uma das bombas explodiu na mão de Chico antes do tempo de ele a
jogar no rio, cujo impacto explosivo levou-lhe o braço e parte do ombro,
deixando-o agonizando.
Assim mesmo, Chico Preto ainda
resistiu por um tempo, e quando sua mãe, dona Tereza Maria da Silva (uma das
primeiras moradoras de São Raimundo), foi ao seu lado lhe consolar no leito do hospital,
lhe disse: -"Filho, tenha coragem que você há de ficar bom".
Mas Chico Preto logo lhe
respondeu: -"Não, mãe. Quero morrer, não quero ficar bom para apanhar dos
outros".
E quanto à Sussuarana? O que
aconteceu com ele? Não se tem total certeza, mas em maio de 1927 um jornal de
Manaus publicou a notícia de um assassinato ocorrido no botequim "Mineiro”,
que ficava na rua Itamaracá, quando um indivíduo chamado Pedro Gomes da Silva
que era conhecido como "Sussuarana “, travou ali uma discussão com um
sargento do 27⁰ Batalhão de Caçadores, recebendo ele voz de prisão de uns
guardas-civis que apareceram no local. Sussuarana não quis se entregar e puxou
uma faca que trazia, partindo ele pra cima dos guardas sendo que um deles
atirou três vezes no homem que caiu sem vida. Pelas características que a
notícia deu da vítima, de seu apelido, de que era pernambucano, negro, e de que
também era um conhecido desordeiro, levam a crer que possa realmente ser o já
mencionado personagem da briga com Chico Preto.
FONTE: Jornal do Commercio.
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