DENÚNCIAS DE MENSAGENS APOCALÍPTICAS DE UMA FAMÍLIA GERAM UM ANTIGO CASO DE ATRITO NO INTERIOR DO AMAZONAS

Era o ano de 1908 e residia na comunidade de Ajaratuba, no município de Manacapuru, no Estado do Amazonas, uma conhecida família de ribeirinhos que era composta pelo chefe da família, Máximo Francisco de Souza, sua esposa Maria de Souza, e seus três filhos menores chamados Julieta, de 10 anos, Máximo Júnior, de 5 anos, e Anísio, de apenas 1 ano de idade.

Máximo Francisco gozava de muita estima pelos seus vizinhos devido ser um homem muito trabalhador e dedicado à família. Ele era amazonense e trabalhava de carpinteiro naval, fazendo canoas e igarités, o que lhe garantia economizar algum dinheiro.

Porém logo o conhecido trabalhador passou a dividir sua rotina com um grupo de pessoas que ali começou a operar. Segundo testemunhos de habitantes locais, Máximo foi convidado e atraído a participar de sessões de uma seita religiosa que ali fazia seus encontros e rituais, no qual ele era convencido a ingerir bebidas que teriam poderes sobrenaturais.

Sendo assim, ele passou a ser um assíduo frequentador da seita, participando ativamente de seus rituais e assimilando também seus ideais e crenças. Máximo convenceu também a sua esposa Maria a participar da seita e fazer parte da mesma, o que de fato aconteceu.

Mas, na noite de 12 de maio de 1908, Máximo e sua esposa resolveram fazer algo que jamais se imaginou. O casal, e seus filhos, embarcaram no batelão "República”, que era de sua propriedade, sendo que eles encheram a embarcação de muitos víveres e de utensílios que haviam em sua casa. Saíram de Ajaratuba seguindo rumo à Vila de Manacapuru, na margem do rio Solimões.

Chegaram à Manacapuru à meia noite quando todos ali já estavam dormindo.



Na ilustração da imagem, se tem o que seria Máximo e sua esposa com as vestimentas que usavam na ocasião do fato, conforme afirmação das testemunhas. 


A família então desembarcou com os filhos que estavam com roupas esfarrapadas, quase nus, trazendo cada uma das crianças na mão uma imagem religiosa de santos, enquanto Máximo e sua esposa empunhavam um rifle, uma faca e um revólver.

Pessoas presentes disseram que eles estavam completamente alucinados, dizendo Máximo em voz alta, para todos ouvirem, que ele era um novo Noé e que estavam fugindo de um dilúvio prestes a acontecer sobre a terra e que todos se preparam para o pior.

A gritaria que a família fazia acordou a todos os moradores da Vila, causando pavor nas pessoas pois eles estavam percorrendo todas as ruas do lugar armados e completamente loucos, e as pessoas, ao avistarem eles, fugiam ou reforçavam ainda mais as trancas de suas casas.

Depois de passar suas mensagens apocalípticas aos berros, a família reembarcou de volta em seu batelão e seguiram viagem, parando no barracão de um peruano onde ali o ameaçaram. Depois, eles seguiram para a comunidade do Arapapá, chegando em um sítio onde obtiveram comida, pois confessaram ao proprietário do lugar estarem mortos de fome. Depois que saíram do sítio, continuaram navegando e berrando de seu barco para todos moradores da beira do rio escutarem, desembarcando eles em algumas dessas moradias e ameaçando as famílias ali residentes, sendo que depois zarparam em definitivo tomando rumo ignorado e desaparecendo sob o luar da noite.

Moradores da Vila de Manacapuru chegaram à Manaus e relataram tudo à imprensa local. Caso Máximo reaparecesse com o mesmo comportamento, seria necessário a ida da polícia ao local para o prender. Porém não foi preciso devido, como se disse, ele ter desaparecido (junto com a família) para sempre após o surto que lhe acometeu.

 

FONTE: Jornal do Commercio.

 




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