AS VÍTIMAS DO BOMBARDEIO DE MANAUS EM 1910

Já é de conhecimento na história do local sobre o bombardeio que a cidade de Manaus sofreu no dia 8 de outubro de 1910, por questões políticas envolvendo o Vice- governador do Amazonas, Antônio Sá Peixoto, e o governador Antônio Bittencourt, que foi deposto pelo vice-governador (mas depois Bittencourt reassumiria o cargo).

O bar "Casa de Schopps", em Manaus no ano de 1910, meses antes do bombardeio que sofreu a capital Amazonense.


O bombardeio foi o único que a capital do Amazonas sofreu na sua história, que começou às 5 e meia da manhã e se encerrou às 17 horas.

Vários prédios foram bombardeados pelos navios da flotilha do Amazonas estacionados no Rio Negro, enquanto a força Federal, composta de soldados da Marinha e do Exército, enfrentavam nas ruas os  soldados da Polícia Militar, que protegiam o governador e o Palácio do Governo, havendo 4 mortes entre os militares.

A população, em pânico, fugia para as partes mais afastadas da cidade. Mas mesmo assim houve registro de vítimas fatais entre os civis, e aqui conheceremos alguns deles.


MORTES E FERIDOS ENTRE OS CIVIS

  • Porfírio José da Silva trabalhava de marceneiro. Tinha 52 anos, era pernambucano, negro, e residia na Cachoeirinha próximo à estação de bondes daquele bairro. Ele era casado e tinha uma filha de menor.

No dia do bombardeio Porfírio estava trabalhando numa obra em construção na Rua dos Remédios. De volta do almoço ele se dirigia para a obra quando, ao passar na Praça General Osório vindo da Rua Luiz Antony, percebeu um grande número de militares armados no local. Ao aproximar-se do terreno onde ficava o Palácio Episcopal, foi detido por um grupo de marinheiros que guarneciam a Rua 24 de Maio.

Os marujos, ao avistar Porfírio, deram-lhe voz de "alto lá" e depois disseram "lá vai um policial". Assustado, Porfirio, antes de qualquer movimento para fugir gritou: "- Não me matem". Não adiantou pois a resposta foram diversos disparos sobre o infeliz. Porém duas balas o atingiram, uma na costa e outra no alto do braço esquerdo, atravessando-o.

Ferido e perdendo sangue, Porfirio ainda teve forças para correr, sob gargalhadas e assobios dos marujos que passaram a persegui-lo na carreira, mas logo deixaram a perseguição achando que devido aos tiros a vítima não iria durar muitos minutos, logo morrendo.

Porfírio viu um portão aberto e, desesperado, entrou nele varando na casa de um ferreiro, na Estrada de Epaminondas, e daí, depois de saltar dois muros e jorrando sangue por sua boca, conseguiu sair na Rua Lobo D'Almada de onde foi transportado de padiola para o hospital da Santa Casa tendo sido ele ali submetido a imediato tratamento, sendo-lhe extraída as duas balas.

  • A menor Maria de Oliveira Pimenta tinha 12 anos. Era filha de Manoel Gomes Pimenta e de Tereza de Oliveira Pimenta.

Ela residia na Rua da Independência, n⁰65.Ao começar os bombardeios ela, sua mãe e irmãos   se refugiaram na residência de um conhecido da família, às 10 e meia da manhã, em virtude de ter sido intimada a família a sair de sua casa, por ordem do coronel Telles de Queiróz.

Ficaram alojados então na casa do Dr. Francisco José de Magalhães, na Rua Leonardo Malcher, n⁰1.

Quando a menor estava na sala de jantar, às 2 da tarde, uma granada foi ali atirada, explodindo e atingindo as duas  pernas da mocinha,sendo que uma foi decepada ,vindo Maria a falecer uma hora depois.A granada produziu outros estragos na casa sendo que uma irmã de Maria,chamada Guiomar,com o susto da explosão, fixou em estado de choque e enferma.

A canhoneira "Amapá" que pertencia à flotilha do Amazonas e que foi uma das canhoneiras que bombardeou Manaus.


 • Albertino Ferreira dos Santos era português, tinha 27 anos e era solteiro. Trabalhava no comércio do senhor Francisco Palmeira Bastos.

No alvorecer do bombardeio Albertino, junto com seu patrão, fugiram do estabelecimento comercial que ficava situado à Rua Xavier de Mendonça, no bairro dos Tocos(hoje Aparecida).Foram se refugiar na casa de um conhecido do senhor Francisco,chamado Cirilo,que morava no bairro de São Raimundo. Também os acompanhou a irmã do comerciante, a professora Maria das Neves Bastos,e sua filha.

Por volta das 2 horas da tarde, estava Albertino entre as duas moças, encostado na janela da casa quando um tiro de canhão,partido de uma canhoneira,atingiu a casa,estourando e provocando a morte instantânea do jovem português, que ficou com o corpo irreconhecível.Estilhaços atingiram o braço esquerdo da professora e também o braço direito de sua filha, ficando ambas gravemente feridas.

Todos abandonaram a casa e o corpo do morto ficou lá, pois outros tiros de canhão explodiram nas imediações. Só no dia seguinte, pela manhã,compareceu ao local um capitão e médico legista da Polícia que procedeu à liberação do cadáver.

  • Também foram vítimas, entre os civis, o engenheiro italiano Emílio Tozzi, morto por uma bala perdida quando almoçava tranquilamente no Café Avenida, e o português Cândido de Oliveira,pensionista da Beneficente que fora esmagado pelos escombros da parte do teto do Hospital atingido por um tiro de canhão.


Fonte : Jornal do Commercio.



 

 

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