UM FATO CURIOSO NA MANAUS DA DÉCADA DE 1920: O "FANTASMA DO BOULEVARD"
Foi na metade dos anos 1920 que ganhou notoriedade e manchete nos principais jornais da cidade de Manaus um caso que, apesar da repercussão, ao que parece não chegou a ser solucionado, envolvendo um misterioso indivíduo que aparecia do nada e sumia sem deixar vestígios, sempre procurando atacar mulheres.
Esse personagem sempre estava em ação na avenida Boulevard Amazonas e imediações (conhecida hoje como Boulevard Álvaro Maia), que é uma das principais vias da capital amazonense e, apesar de vários esforços para pegar o sujeito e solucionar o mistério, não se teve nenhum êxito.
O personagem principal que causou medo em todos moradores daquela área
gerando curiosidades e comentários em toda Manaus, fazendo com que até a
polícia segui-se no seu encalço, ficou conhecido popularmente como o
"fantasma do Boulevard".
As primeiras informações sobre as aparições e ações do chamado fantasma aconteceram em 1926 quando se soube que um estranho indivíduo, que chegou a ser mencionado pela imprensa como um espantalho humano ou lobisomem, aparecia de madrugada nas imediações do hospital da Beneficente Portuguesa, do lado da Rua 10 de julho.
Tratava-se de um homem vestido com curto camisão branco que ficava escondido nos lugares mais escuros daquela rua, aparecendo inesperadamente quando se aproximava qualquer pessoa do sexo feminino. O dia preferido dele aparecer era nos domingos, dia em que muitas famílias costumavam ir à missa das cinco horas da manhã na igreja de São Sebastião.
Entre algumas das vítimas estava um grupo de mulheres que num domingo,3 de janeiro de 1926, caminhavam pela rua vindas de sua casa com destino à missa e que eram duas senhoras e duas moças. De repente o tal homem saiu rapidamente de um ponto escuro da Rua 10 de julho (próximo à Avenida Joaquim Nabuco) e agarrou uma das moças tentando carregá-la. A jovem gritou desesperadamente, desmaiando em seguida. Correram em seu auxílio as outras mulheres bem como diversas pessoas que estavam nas proximidades.
O sujeito então, vendo a aproximação de várias pessoas, largou a mocinha e fugiu em desesperada carreira rumo à Avenida Treze de Maio (atual Avenida Getúlio Vargas), desaparecendo. As mulheres ficaram em estado de choque. Um morador da rua, informado do ocorrido, veio à janela de sua casa e disparou um tiro de seu revólver em direção ao misterioso homem que fugia, não o atingindo.
Esta cena foi também presenciada pelos enfermeiros da Beneficente
Portuguesa que, atraídos pelos gritos das mulheres, correram para o muro que
dava para a Rua 10 de julho. Informaram os enfermeiros que não era a primeira
vez que o tal homem atacava pois no domingo anterior, na mesma hora, tinha
atacado outra moça procurando a carregar (mas não conseguiu).
Para a imprensa o sujeito não seria nada de assombração e sim dizia com
certeza ser um desequilibrado mental ou maníaco sexual e pedia para a polícia
tomar as providências logo.
PERSONAGEM VOLTAVA A ATACAR, GERANDO PAVOR
Mas em 1928 o indivíduo voltava a ser notícia de primeira página dos
jornais de Manaus.
Agora as ações do fantasma se intensificaram e ele se aparecia
completamente nu, continuando a agir na área do Boulevard Amazonas e ruas
vizinhas.
Ao final da tarde do dia 31 de janeiro, por volta das 18 horas e meia no mesmo Boulevard, uma senhora moradora do local se encontrava na cozinha de sua casa quando ouviu um chamado. Ao se virar se deparou, na porta de sua cozinha, com o homem nu, bufando e fazendo gestos indecorosos.
Aos gritos de socorro da mulher, a tal visagem se afastou e saiu em debandada carreira para a Avenida Treze de Maio. Nesse momento, pessoas que ouviram os gritos da mulher se dirigiram para o local e aguardaram o sujeito pelo outro lado da avenida, quando localizaram ele em fuga. Aos gritos de "pega! pega!" os populares correram atrás dele mas o homem penetrou num matagal ali próximo e desapareceu.
Na semana anterior o suposto fantasma já tinha penetrado em uma outra casa do Boulevard, quando encontrou ali uma mulher com sua filha de menor. Quando ele entrou na casa e viu as duas tratou logo de apagar a lamparina da casa para assim começar sua agressão. A menor, desesperada, acendeu novamente a lamparina, mas o dito fantasma voltou a apagar e agarrou a mãe da menina que logo desmaiou.
O homem tentou enforcá-la mas desistiu do delito devido os gritos da
filha da mulher.
Às 11 horas da noite do mesmo dia 31 de janeiro o fantasma foi visto nu, encostado a uma mangueira que existia na esquina do Boulevard com a Avenida Treze de Maio, que era o local predileto de suas aparições e onde fazia vários acenos para as famílias que o viam ali.
O medo que o fantasma gerou nos moradores do Boulevard era tanto que
eles ficavam fazendo vigília durante toda a noite e na madrugada, alguns
armados, com a finalidade de pegar o autor dos ataques e dar um fim a esse
mistério.
Na ocasião em que fora visto fugindo na carreira, o agressor trajava
calça de cor cáqui, achando-se sem camisa. Era de estatura mediana, de físico
forte e com cabelos e barbas compridos, dizendo uns que ele tinha a aparência
de um monstro.
As notícias sobre as aparições do "fantasma do Boulevard"
gerou um verdadeiro frenesi em Manaus sendo um dos assuntos principais na
cidade, com todos querendo saber quem era afinal o famoso fantasma.
RELATOS DE MORADORES, APARIÇÃO NUM BONDE E AÇÃO DA POLÍCIA
Um antigo morador do Boulevard, o carpinteiro Eufrásio dos Santos, disse que nos anos anteriores ouvia constantemente referências ao fantasma vinda de lenhadores que se ocupavam em cortar madeira das matas próximas ao Boulevard. Dizia que o homem misterioso causava medo a esses lenhadores, mas que ele ficava no mato inofensivo e no anonimato, mas que depois resolveu sair da floresta e se aparecer em via pública tendo sido visto pela primeira vez, por um grupo de moças, embaixo da mencionada mangueira (seu lugar preferido).
Desde então o "monstro"(como também era classificado) começou
a frequentar, ora nu, ora vestido, aquela região ao anoitecer e na madrugada.
Um outro morador do Boulevard, chamado Benedito Rodrigues, foi quem
oficiou o caso à polícia que tomou conhecimento do fato.
O motorista de um bonde da empresa Manáos Tramways, que fazia a linha da Vila Municipal, quando passava com o veículo pelo Boulevard às 8 horas da noite teve uma surpresa inusitada. O fantasma, nu como estava, pulou dentro do bonde ficando ele nos bancos do meio. O motorista, ao vê-lo, deu o alarme fazendo com que o estranho invasor saísse correndo, com o motorista, cobrador e outras pessoas na sua perseguição. Porém mais uma vez ele entrou no mato e sumiu.
Dias depois, debaixo da mesma mangueira, onde se via só seu vulto e sua
sombra, atacou outra mulher que era uma menor filha do senhor Romualdo
Xavier.Aos gritos da menina, o homem se internou na mata sumindo mais uma
vez,ao perceber a aproximação de populares.
O pavor naquela região era total, principalmente entre as mulheres e seus filhos menores que não queriam mais ficar em suas casas e imploravam para que seus maridos e filhos maiores não saíssem para o trabalho.
A polícia foi acionada e se dirigiu ao Boulevard, dando batidas pelas
imediações e nos matagais, mas não se achou nenhuma pista ou vestígio do
suspeito. Alguns policiais passaram noites em vigilância na região mas não
conseguiram o localizar e prendê-lo .
Manchete do Jornal do Commercio sobre as aparições do misterioso personagem. |
UM SUSPEITO É PRESO ACUSADO DE SER O FANTASMA
Na noite do dia 3 de fevereiro de 1928, num dos locais onde o suspeito aparecia, um homem chamado Felinto de Sousa tinha que pegar umas cartas de encomenda no bairro da Cachoeirinha, pois no dia seguinte tinha de embarcar num navio a vapor para o Rio Jamarí. Ele então em sua caminhada começou a perguntar a diversos menores onde ficava o referido bairro e estes, assustados, começaram a cochichar ente si. Saindo dali, Felinto notou que várias pessoas lhe iam no encalço, ouvindo ele a seguinte frase:” é este o fantasma do Boulevard”.
Estranhando aquele fato olhou para trás e viu mais de cem pessoas que
lhe seguiam furiosas. Ele então se dirigiu a uma das pessoas do grupo e
perguntou o que significava aquilo tendo como resposta a voz de prisão, sendo
imobilizado e levado preso à delegacia auxiliar, onde muita gente se aglomerou
na frente do prédio.
Perante o comissário de permanência, Felinto disse estranhar o motivo
daquela prisão e revelou o que estava fazendo. A autoridade policial, em
virtude do detido não demonstrar culpabilidade e ser reconhecida sua inocência,
decidiu liberar o rapaz suspeito que foi posto em liberdade.
CONCLUSÃO
Não se sabe o desfecho final do caso e o que aconteceu ao "fantasma do Boulevard" pois os jornais não mencionaram mais nada sobre o assunto. Possa ser que vendo o cerco se fechar cada vez mais, o misterioso homem resolveu fugir e desaparecer para sempre.
Para os mais supersticiosos o homem seria algum fantasma, por isso aparecia e sumia do nada e se tinha dificuldade em localizá-lo e prendê-lo, e outros que chegaram a vê-lo de perto diziam que ele tinha a aparência sombria e horrível (chegando a classificá-lo como um monstro). Mas para muitos tudo não passava de crendice e na verdade ele seria um maníaco sexual, psicopata ou um louco.
Fonte: Jornal do Commercio.
Comentários
Postar um comentário