UM CASO SOBRENATURAL NA AMAZÔNIA ANTIGA E UMA LENDA MANACAPURUENSE
Era o ano de 1919 e na margem do rio Candeias (um pouco próximo à Vila de Porto Velho que na época pertencia ao Amazonas), localizava-se o seringal "Porto Rico", de propriedade do senhor Miguel Brilhante, que era aviado da casa comercial "Lemos & Campos", situada em Manaus.
Numa pequena barraca, quase
isolada no centro daquele seringal, residia o seringueiro Pedro Teixeira. Casado
e sem filhos, Teixeira teve a responsabilidade de criar uma menor, de nome
Isabel, filha de um conhecido seu, também seringueiro, que morava distante de
Porto Rico.
A princípio Pedro Teixeira
tratava a menina com amor e afeição, como se fosse sua própria filha. Mas, depois,
o homem mudou completamente seu comportamento para com a menor, passando a lhe
espancar constantemente e deixando-a em estado deplorável com muitos hematomas.
Não aguentando mais aquele
sofrimento e percebendo que corria risco de vida, Isabel, apesar de sua pouca
idade, tomou uma desesperada decisão: fugir dali e das garras de seu agressor.
No dia 29 de setembro de 1919, numa
tarde, aproveitando um momento propício em que Teixeira e sua mulher haviam
partido para a coleta da borracha no centro da mata, Isabel fugiu internando-se
na mata próxima, penetrou cada vez mais pela floresta densa e quando se deu por
conta estava perdida e isolada, num lugar bem distante de onde fugiu e sem
nenhum sinal de presença humana para lhe ajudar.
Ao começar a chegar a noite
Isabel, amedrontada pela escuridão que começava a tomar conta do local, inesperadamente
viu que uma estranha mulher, vestida de branco e descalça, surgiu por entre a
vegetação.
A mulher, ao chegar perto da
criança, disse a ela: "- Minha filha, não ande mais, já está escurecendo. Descanse
e durma, que amanhã irei deixá-la numa casa".
Obedecendo o conselho da
misteriosa mulher, a menina então encostou-se numa árvore e adormeceu. Durante
toda a noite, quando acordava, via sempre a seu lado a mulher que, em voz
maternal, repetia: "- Descanse, minha
filha, não tardará em vir o dia e aí nós iremos".
Pela manhã do dia seguinte Isabel
foi despertada pela visão amiga que, tomando-lhe pelo seu braço, seguia rumo
ignorado acompanhando a mulher que, caminhando cada vez mais pela floresta, varou
em um grande roçado que circundava a casa do senhor Miguel Brilhante.
A mulher, então, apontou para a
residência e disse para a menor: "- É ali". Depois soltou a mão de
Isabel e penetrou de volta na mata, desaparecendo.
Após isso, a menor se dirigiu
sozinha à casa avistada, onde entrou pela porta central com alguns frutos
silvestres na mão, pedindo proteção das pessoas que ali estavam e que a
receberam com surpresa. Ela então contou à todos sua sofrível saga.
Indagada pelas pessoas sobre a
misteriosa figura feminina que lhe ajudou, não soube responder quem era e de
onde vinha.
O senhor Mário Fontenelle, empregado do seringal Porto Rico, ao escrever uma carta à um jornal de Manaus relatando o ocorrido, declarou que causou assombro o modo esclarecido de como Isabel fizera a narrativa desse fato inusitado, devido a sua pouca idade.
Lenda ou realidade? Acredite se
quiser.
Fonte: Jornal do Commercio.
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A INDÍGENA ENCANTADA DE MANACAPURU
Dom José Lourenço, primeiro bispo
do Amazonas, estava fazendo uma viagem por vários municípios do interior do
Amazonas e agora se dirigia à Vila de Manacapurú, como bem havia prometido para
a população daquela localidade, situada na margem do rio Solimões.
Dom José estava a bordo do navio
a vapor "Manáos", que era conduzido pelo comandante César José de
Farias. Além da autoridade católica, vinha também com ele os cônegos Fernandes
e Dacia.
Enfim, no dia 21 de março de 1895
eles chegam na Vila de Manacapurú, sendo recebidos por autoridades locais e por
muitos populares.
Dom José notou que perto do porto
de Manacapurú corria uma fileira de pedras que ia da barreira para o leito do
rio, formando as águas um medonho redemoinho, ou rebojo,que colocava em perigo
as pequenas embarcações que por ali navegavam.
Porém o religioso logo soube de
uma antiga e famosa lenda local, que muitos juravam que era verdade, e que
tinha o mencionado rebojo na narrativa.
Contavam os moradores que acima
da Vila tinha um lago de mesmo nome do município onde, tempos atrás, diziam ali
ter existido uma misteriosa e linda indígena encantada que era conhecida como
"Manapurú", daí o motivo do lago ser batizado com seu nome. Quando o
rio Solimões estava na vazante, a criatura saía do lago e se dirigia, à noite, para
o local das rochas, que agora eram visíveis devido a vazante (em frente à
Vila), onde ficava ela sentada sobre os rochedos.
Ali a bela Manapurú começava a
cantar de uma forma belíssima que encantava à todos moradores das imediações
que de longe ouviam seu canto mas, amedrontados, não se atreviam a ir lá
próximo verificar.
Porém o canto harmonioso da linda
indígena era escutado também pelos navegantes que porventura ali passavam
remando, ou seja, caboclos e tapuias em suas canoas, aventureiros ou
colonizadores portugueses em suas igarités e chalupas.
Hipnotizados, eles procuravam
chegar mais perto para apreciar a beleza da mulher e o canto, mas quando
chegavam próximo, ela se jogava das pedras e mergulhava no rebojo das águas, sumindo.
Quando os navegantes percebiam, já era tarde pois estavam no meio do rebojo
sendo a embarcação tragada para o fundo do rio junto com eles, desaparecendo.
Fonte: Jornal "O
Apóstolo".
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