A PERSEGUIÇÃO À "PAGELANÇA" NO AMAZONAS NO INÍCIO DO SÉCULO XX

Nos primeiros anos do século XX começam a pipocar nos jornais do Amazonas denúncias contra a prática das religiões de matriz africana, que era chamada no estado, naquela época, de "Pagelança".

Os então pais e mães de santo eram chamados de "pagés", e seu terreiros eram alvos constantes de denúncias e invasão da polícia. A imprensa e a polícia moviam uma perseguição ferrenha aos praticantes da Umbanda e Candomblé em Manaus que, quando pegos nas batucadas pelos policiais, eram presos de imediato(fato que ocorreu em todo o Brasil na época).Além disso eram ridicularizados, nos jornais da cidade, de todas as formas.



A CACHOEIRINHA, PRINCIPAL LOCAL DA PRÁTICA DE RELIGIÕES AFRO BRASILEIRAS EM MANAUS

Era no ainda distante bairro da Cachoeirinha que se encontravam a maior parte dos terreiros e pais e mães de santo da cidade, cujas noites em que o som do bater dos atabaques ecoavam longe.

O número de praticantes da chamada Pagelança na Cachoeirinha era tanta que, em 1912, a população do bairro denunciou à imprensa a prática de tal religião no local e pediu providências. Sendo assim logo a polícia começou suas batidas na área, fechando terreiros e prendendo os donos do local e praticantes.

Mas mesmo com a repressão, os "pagés" e seus seguidores não se entregavam e voltavam a praticar sua crença em algum local mais escondido do bairro.

Em 1919 houve uma outra denúncia contra a Pagelança praticada na Cachoeirinha. Moradores do entorno da Praça General Carneiro revelaram que à noite um Pagé praticava ali o Candomblé, com muita batucada e a presença maciça de prostitutas, que gerava perturbação para aqueles que queriam dormir e pediam a presença da polícia para acabar com aquela situação.

 

OS PRINCIPAIS "PAGÉS"DA CACHOEIRINHA

Era na Cachoeirinha que se encontravam alguns dos mais famosos pais e mães de santo do Amazonas, o que fazia com que pessoas viessem também do centro da cidade para as consultas e batucadas. Entre os principais "pagés" se tinha Desidério, um mulato que se instalou no local em 1906, quando chegou de Belém; Mãe Luiza, que tinha sua casa de consulta próximo à parada Felinto; Eufrásio na Rua Urucará; Luiz Bibiano, na Vila Farias; Mãe Joana, próximo de uma área onde hoje é o Morro da Liberdade; Luzia Maria da Conceição; Pai João, um ex-escravo, na Avenida Ipixuna; Felica, na Avenida Waupés; José  Raimundo, na Rua Urucará; e do casal Marcelino Ramos e Izabel Pereira, na avenida Manicoré; nas imediações da Rua Ajuricaba havia um terreiro comandado por uma mulher chamada Simplícia.

Porém haviam outros famosos que moravam em outros locais como o baiano Luiz França (no bairro de São Raimundo) e Chica Curandeira (no igarapé de Educandos).



Uma humilde residência no bairro da Cachoeirinha em 1917, na mesma época em que as religiões afro-brasileiras predominavam no bairro (foto do Jornal "A Imprensa").


INVASÃO DE TERREIROS DA CACHOEIRINHA E PRISÕES

Houveram várias invasões e prisões da polícia que geralmente só aparecia nos dias de batuque. Os agentes da lei recebiam informações da imprensa e da população de onde era o local do culto e o dia que se reuniam, motivo pelo qual geralmente pegavam a todos no flagrante. Vejam três desses fatos que ocorreram no bairro:

*  Em 1914 o negro Luiz Bibiano fazia suas sessões na Vila Farias, em seu terreiro, quando um certo dia a polícia invadiu o local às dez da noite. Os policiais, comandados pelo inspetor Raimundo Saraiva, o agente Raimundo Goiabeira e tendo 4 guardas civis e 2 praças, chegaram na hora do batuque fazendo com que a debandada dos praticantes fosse geral. Porém Bibiano não conseguiu fugir e foi preso, com mais três seguidores. Os policiais recolheram todos os materiais religiosos do terreiro e colocaram os 4 detidos na cadeia.

* No mês de fevereiro de 1915 o pai de santo José Raimundo da Motta fazia suas sessões na casa de um homem chamado Pedro Nolasco, que ficava na Avenida Urucará. Porém um vizinho da casa, chamado José Barateiro, denunciou as sessões, que aconteciam à noite, alegando barulhos e prática de bruxarias. Sendo assim, numa noite, a polícia invadiu o local se surpresa, prendendo José Raimundo e um auxiliar seu chamado Sebastião Gomes. Ambos ficaram presos na delegacia da rua Marechal Deodoro.

*  Em 1926, no batuque da Mãe Joana, por volta de 2 horas da manhã, chegava no terreiro de surpresa o Dr. Cruz Camarão (delegado), Juca Barros (chefe de investigação), Lindolfo Marques (investigador)e mais 4 guardas civis e uma patrulha da polícia, que cercaram o local prendendo a todos: 23 homens,32 mulheres e 7 crianças. Todos foram levados à delegacia, fotografados e presos.

*  Em 1928, na casa do "Pagé" Eufrásio, na avenida Urucará, precisamente à meia noite a polícia invadia o local pegando todos de surpresa e acabando com a batucada. Todos ficaram encarcerados na delegacia auxiliar.


Fonte: Jonal do Commercio, A Imprensa, O Tempo, Gazeta da Tarde.

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