BERNARDO SENA: O EX-ESCRAVO QUE LIDEROU A INVASÃO DOS CABANOS AO AMAZONAS E SE TORNOU GOVERNANTE DE MANAUS
A Cabanagem, maior revolução
popular que houve na história da Amazônia e do Brasil, começou oficialmente em
7 de janeiro de 1835, quando os cabanos invadem a capital da província do
Grão-Pará, Belém, assassinam autoridades e assumem o poder. Eram em sua maioria
caboclos, negros, índios e tapuias que queriam instalar um governo popular
formado por brasileiros legítimos e expulsar os portugueses e seus aliados do
poder que acusavam de serem corruptos, escravagistas e opressores. O movimento
chegou a contar também, no início, com a participação de alguns membros da
elite que estavam descontentes com o governo da província.
Daí em diante a rebelião se
espalha pelas demais localidades próximas de Belém e do interior paraense.
A região oeste do Pará, na época
chamada de Comarca do Baixo Amazonas, também foi palco de conflitos sangrentos
entre cabanos e forças legalistas. Ali o principal líder cabano era Apolinário
Maparajuba e existia uma bem localizada e armada fortaleza cabana chamada Icuipiranga,
situada próxima à Vila de Santarém.
SURGE NO INTERIOR UMA
LIDERANÇA CABANA: QUEM ERA BERNARDO SENA?
Existia na época um personagem
chamado Bernardo Sena, um negro que vai se tornar ao longo do conflito o
principal líder dos cabanos na Comarca do Alto Amazonas (hoje Estado do
Amazonas), inclusive comandando a força militar e a política da comarca por um
determinado período.
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Na ilustração, de Lúcio Izel,
se tem o líder cabano Bernardo Sena, no domínio da Vila de Manaus. |
Francisco Bernardo de Sena era um
ex-escravo que foi liberto e que nasceu na Província de Pernambuco. Não se sabe
muita coisa sobre ele antes da Cabanagem. O que se sabe é que ele foi deportado
de Pernambuco devido ter cometido um assassinato. Foi assim, como um degredado,
que ele chegou à Amazônia onde trabalhou administrando fazendas de gado do rio
Branco e de onde saiu devido a acusação de que teria cometido corrupção.
Tudo leva a crer que Bernardo
dali teria chegado à Comarca do Baixo Amazonas, já no início da Cabanagem,
tendo ele simpatizado com o ideal dos revolucionários e passando a fazer parte
nas fileiras dos rebelados.
Uma primeira informação sobre ele
em ação no exército cabano vem do ataque que os revolucionários fizeram à Vila
de Santarém, em 25 de dezembro de 1835, ação essa que possivelmente Bernardo
participou e que terminou com a derrota dos cabanos frente às forças
legalistas.
CABANOS VOLTAM SUAS ATENÇÕES
PARA O ALTO AMAZONAS
Já estando quase toda a Província
do Grão- Pará sob domínio cabano, os revolucionários voltaram seus olhos para a
última área que faltava para conquistar: a Comarca do Alto Amazonas.
O Alto Amazonas tinha cerca de
41.000 habitantes e era subordinado politicamente ao Grão-Pará. Sua capital era
a Vila de Manaus e, desde quando estourou o levante cabano, as autoridades da
comarca amazonense acompanhavam atentamente o desenrolar do conflito através de
correspondências vindas de Belém e Santarém, temendo que os cabanos chegassem à
comarca e tomassem o poder do governo legalista local.
Já se preparando para uma
iminente invasão dos revolucionários, as autoridades e população do Alto
Amazonas se declararam fiéis à causa legalista e ao império brasileiro. Homens
determinados afirmaram que pegariam em armas e dariam a sua vida para defender
a Comarca amazonense, entre eles o famoso capitão "Bararoá”, que formou um
exército particular e combateu ferozmente os cabanos no Alto e Baixo Amazonas.
Mas para conquistar o Alto
Amazonas os cabanos tomaram primeiro uma iniciativa, ou seja, mandaram alguns
membros seus disfarçados para Manaus, onde ali como espiões estudaram o terreno,
o movimento das tropas e os pontos mais vulneráveis da Vila para depois passar
essas informações preciosas para seus líderes que aguardavam na Comarca vizinha,
no Baixo Amazonas.
Os espiões cabanos, em Manaus,
misturaram-se com os moradores e, quando perguntados por estes de onde vieram e
por qual motivo, respondiam que vinham fugidos do Baixo Amazonas devido às
ações dos cabanos naquela zona. Era uma maneira de despistarem qualquer
desconfiança sobre eles que, para não levantarem mais suspeitas, passaram a
trabalhar em roças e plantações. E no meio desses cabanos infiltrados estava
Bernardo Sena.
SENA É DESCOBERTO, PRESO E
MANDADO PARA BELÉM, MAS É LIBERTADO NO MEIO DO CAMINHO
Mas a principal autoridade de Manaus,
o juiz Henrique Cordeiro, desconfiou da presença daqueles desconhecidos e após
investigação acabou descobrindo que eram cabanos.
O juiz então mandou prender à todos.
Bernardo Sena, o principal deles, foi trazido à presença do juiz sendo ele logo
detido. Depois de ficar três dias preso Sena foi lançado acorrentado, às 8
horas da manhã, para um outro lugar distante onde ali ficou num calabouço
vigiado por um guarda armado por cinco dias.
Depois desses dias preso, Sena
foi enviado para Belém, escoltado e acompanhado de cartas que explicavam quem
era o prisioneiro e o motivo de sua detenção.
Porém chegando próximo à
Icuipiranga Sena foi inesperadamente solto, não se sabe o motivo da força
militar que o levava ter tomado essa atitude, mas talvez os soldados tenham
sido seduzidos pela boa conversa do prisioneiro sobre os ideais cabanos,
acabando eles por simpatizar com aquela causa revolucionária e resolvido soltar
o revoltoso.
Conquistada sua liberdade,
Bernardo Sena chegou à fortificação de Icuipiranga onde ali encontrou um grande
exército cabano, que tiraram os ferros que ainda prendiam suas mãos, colocando
ele agora em liberdade total.
BERNARDO SENA ASSUME O COMANDO
DE TROPAS E SE PREPARA PARA DOMINAR O ALTO AMAZONAS
Bernardo Sena não era um negro
qualquer como muitos pensavam devido a ele ter sido um escravo. Ele sabia ler e
escrever e tinha o dom da oratória, falando melhor em público do que os
principais líderes cabanos em Belém. Passou a ser o lugar-tenente do líder
cabano de Icuipiranga, Miguel Apolinário Maparajuba, ficando sob suas ordens.
Devido a isto, Sena passou a comandar 2.000 homens que querem aclamá-lo seu chefe,
mas ele dispensa a honraria e deseja apenas liderar e dirigir uma expedição
para o Alto Amazonas.
Com certeza, além de levar os
ideais cabanos à área amazonense, Sena desejava ajustar as contas com o juiz
Henrique Cordeiro, seu algoz. Devido já conhecer o terreno por ali ter estado
como espião, Sena conhecia o caminho das pedras e sabia o momento oportuno de
como conquistar a Comarca para os cabanos.
Bernardo Sena parte para a
dominação do Alto Amazonas comandando 800 homens, embora alguns cronistas digam
que o número certo era de 1.200 combatentes, saindo eles de Icuipiranga em suas
canoas e igarités. Deixam ali o comandante geral Maparajuba que no momento
estava tentando tomar Santarém.
Ao penetrar no Amazonas, o
exército cabano de Sena toma as vilas de Serpa e Luséa. Já Tupinambarana,
Saracá e Borba resistem, pois estavam bem guarnecidas.
Eles então partem para tomar a
mais importante localidade e sede do Alto Amazonas, a Vila de Manaus. Possuindo
Manaus na época uma população de 3.500 habitantes, as autoridades e o povo em
geral da vila souberam da aproximação dos cabanos e começaram a temer o pior,
pois ouviam dizer que os revolucionários eram sanguinários e impiedosos.
MANAUS CAI SOB DOMÍNIO CABANO
O juiz Henrique Cordeiro, temendo
por sua vida, foge da Vila, atitude que também é tomada pelos soldados de
defesa cujo comandante militar já tinha também se evadido meses antes. Sem defesa,
os cabanos não tiveram dificuldades em desembarcar de suas canoas em Manaus e
tomar a Vila pacificamente na noite de 6 de março de 1836, sem ser preciso
disparar um só tiro. Várias famílias, com medo, já haviam abandonado a vila
devido à má fama que os cabanos tinham.
Tendo Bernardo Sena à frente, ele
então seria proclamado comandante da força armada do Alto Amazonas, logo
mandando seus soldados se apossarem do trem de guerra e do Forte da Barra e de
outros pontos estratégicos da Vila. Um cronista da época, testemunha ocular da invasão,
escreveu que Manaus havia sido "invadida por um insignificante troço de
miseráveis comandados por um preto". Enfim, após um ano do início da
Cabanagem no Pará, os revoltosos chegavam finalmente à última parte da
província para dominar e instalar suas leis.
No dia seguinte,7 de março,
Bernardo manda um ofício para o presidente da Câmara Municipal, Francisco
Gonçalves Pinheiro, exigindo que convocasse os vereadores e o povo em geral
para uma sessão extraordinária da Câmara na manhã seguinte, o que foi feito.
CABANOS CONVOCAM SUA PRIMEIRA
SESSÃO NA CÂMARA DE MANAUS - EXPLICAM OS MOTIVOS DE SUA REVOLUÇÃO E ELEGEM
NOVOS DIRIGENTES
Então na manhã do dia 8 de março
de 1836, estando na Câmara presente as autoridades amazonenses, o povo e os cabanos,
o líder Sena faz seu discurso, lendo um extenso memorial e os motivos da revolta,
denunciando o juiz Henrique Cordeiro e o famigerado capitão Bararoá e também
pedindo apoio da comarca para a sua causa. Também aproveitou a ocasião e depôs
as antigas autoridades fiéis ao império e colocou outra de inteira confiança
dos cabanos e com aprovação dos vereadores, com João Inácio Rodrigues do Carmo eleito
como novo juiz de paz.
Nessa mesma sessão Sena pediu que
oficiassem à todas as câmaras do Alto e Baixo Amazonas e também ao governo
atual do Pará(governado pelo cabano Eduardo Angelim),que a Vila de Manaus, sede
da comarca do Alto Amazonas, já estava sob seu domínio e subordinada às leis
cabanas e, caso houvesse reação ou não aceitação do governo da Regência do Brasil,
ele afirmava que faria forte barreira contra os usurpadores dos direitos da
pátria e só largaria as armas quando fosse posto na presidência da província do
Grão-Pará um governo formado só por brasileiros.
NA SEGUNDA SESSÃO, O LÍDER
CABANO EDUARDO ANGELIM É TAMBÉM RECONHECIDO COMO O NOVO GOVERNANTE DO ALTO
AMAZONAS
Já no dia 9 de março, reunidos
novamente na Câmara as autoridades, agora com o jugo cabano, pedem em documento
que a Regência do Brasil, no Rio de Janeiro, liberte os paraenses do marechal
português Jorge Rodrigues, que foi enviado pelo império para restaurar a
legalidade na Província e expulsar os cabanos de Belém. O marechal estava
realizando um bloqueio naval em Belém que estava ocasionando falta de
mantimentos e alimentação da população, visando forçar a rendição dos cabanos. E,
no fim do documento escrito, Bernardo Sena assina por ele e por seus 800
cabanos que lhe acompanhavam (pois eles não sabiam ler e nem escrever) e que
estavam naquele momento estacionados em Manaus aguardando ordens.
Também nessa sessão o cabano
Eduardo Angelim, que no momento era o governante do Grão-Pará após a segunda
tomada de Belém das forças legais, é aclamado como presidente do Alto Amazonas.
Sena dizia que não só na capital Belém, mas também nas vilas e povoados das
comarcas do Baixo e Alto Amazonas o presidente Angelim foi reconhecido como
novo governante devido, como bem afirmou o próprio Sena, ele ter sido
reconhecido pela população por sua ilustre capacidade e por ser o bem-feito e
libertador de seus conterrâneos, e completava afirmando que a população em
geral o adorava e o respeitavam como seu anjo protetor e lhe deviam a mais cega
obediência.
O CHEFE GERAL DOS CABANOS NO
BAIXO AMAZONAS CHEGA À MANAUS E EXPÕE À POPULAÇÃO SEUS IDEAIS E DE SEUS
COMPANHEIROS
Passados poucos dicásseis que em
12 de março chega à Manaus, acompanhado de seus comandados, o célebre
Apolinário Maparajuba comandante dos cabanos no Baixo Amazonas, que veio
verificar como estava a situação na nova conquista de seus soldados. Logo ele
discursou na Câmara onde pediu apoio do povo da Vila para a causa
revolucionária e que eles se alistassem nas fileiras cabanas pois sua luta era
justa e que não acreditassem nas calúnias que se falavam dos cabanos, pedindo
assim que um brasileiro nato dirigisse os destinos políticos da província. A
partir daquele momento Apolinário passa a ser o comandante geral das duas
comarcas.
Dias depois Maparajuba voltou à
sua comarca de origem, ciente de que deixara o comando cabano no Alto Amazonas
em mãos confiáveis.
De Manaus os cabanos continuaram
conquistando outros lugares do Alto Amazonas, subindo os rios Solimões e Negro,
dominando localidades como a Vila de Tefé e a freguesia de Tabatinga. A partir
daquele momento, toda a Província do Grão-Pará estava sob domínio cabano.
SENA ASSUME O COMANDO MILITAR
E POLÍTICO DE MANAUS
Bernardo Sena se tornou de fato
uma espécie de prefeito de Manaus e autoridade máxima do Amazonas, embora não oficialmente,
mas na prática era o que se entendia pois passou a ser comandante militar,
decidir questões políticas e administrativas e guardar a Fazenda pública, se
mostrando ele um bom gestor.
Durante os quase 6 meses que os
cabanos comandaram o Alto Amazonas, até a crônica mais legalista e tradicional
concordou que eles governaram com responsabilidade e competência, sem corrupção,
com zelo pelo bem público e pelas finanças.
De abril a maio de 1836 Bernardo
Sena se ausentou de Manaus, indo em excursões para o interior. Talvez tenha ido
até Serpa ou para o baixo rio Madeira supervisionar seus batalhões estacionados
ali, combater as tropas fiéis ao império ou pregar os seus ideais aos moradores
locais. Durante sua ausência deixou no seu lugar no comando militar em Manaus o
capitão Manoel Freire Taqueirinha, um legalista que teve de se submeter às
ordens dos cabanos a contragosto quando da invasão deles à Vila e que nos
dizeres de um antigo autor "em crueldade assemelhava-se aos cabanos”.
Porém o chefe Maparajuba confiava em Taqueirinha e passou a indicá-lo como o
substituto de Sena no comando militar.
Enfim Bernardo Sena chega de
volta à Manaus em 22 de maio de 1836, logo recebendo por escrito um ofício
datado de 20 de maio, das mãos do capitão Taqueirinha, mandado e escrito por
Maparajuba que dava uma ordem para ele deixar o cargo de comandante. Sena
obedece prontamente e Maparajuba declara no documento que o motivo dessa
decisão é para evitar, a todo custo, as dissenções que surgiriam entre cabanos
e a população local, se ele continuasse em evidência na Vila.
EM NOVA SESSÃO DA CÂMARA, SENA
QUER SAIR DO COMANDO MILITAR CONFORME MAPARAJUBA DESEJA, MAS OS VEREADORES E
TAQUEIRINHA NÃO CONCORDAM
Em sessão na câmara do dia
seguinte,23 de maio, Sena aproveita e diz que por diversas vezes já tinha
pedido a dispensa do cargo, como bem escreveu na ata. Completava afirmando que
seu objetivo agora era consolidar a paz, o sossego e a tranquilidade pública,
evitando assim conflitos entre patrícios que, achava ele, se continuasse no
poder poderia estourar de uma hora para outra.
Na sequência Taqueirinha levanta
e diz que não quer assumir o lugar de Sena e cargo de tamanha importância, não
aceita a indicação de seu nome para o posto e diz que, devido os relevantes
serviços de Sena, jamais se poderia pensar em tirar-lhe cargo de tanto
prestígio devido a glória de tantos triunfos que ele teve na comarca. Inclusive
se mencionava que Sena merecia toda a confiança do povo da comarca.
A própria Câmara de Manaus
insistiu que Sena continuasse no comando dos negócios administrativos e militares.
O presidente da Câmara falava que tirar Bernardo Sena do comando seria uma
ingratidão dos manauenses para com sua pessoa e que se ele realmente quisesse
deixar a função teria que esperar primeiro a decisão do presidente Eduardo Angelim,
em Belém.
SENA E MANOEL TAQUEIRINHA
ENTRAM EM DESAVENÇA, CULMINANDO NA MORTE DO LÍDER CABANO
Nos dias que se seguiram na
indecisão de como ficaria esta questão do comando, eis que na tarde do dia 2 de
junho de 1836, no quartel de Manaus, por ordem de Bernardo Sena toca-se um
rebate anunciando algo. Logo chega ali a tropa devido o sinal e também o
sargento Manoel Faustino e o civil Nicolau José Collares, os quais foram
imediatamente desarmados por Sena que lhes deu voz de prisão.
Nesse momento interveio o juiz de
paz que estava presente, e disse a Sena que aqueles homens não deviam ser
presos injustamente, sem uma acusação formal, sendo que o remetente dos dois
homens não autorizou tal prisão, mas o juiz é repelido pelos guardas. E na
ocasião chegou o capitão da Guarda Nacional Manoel Freire Taqueirinha que, furioso,
disse à Sena que não era assim que se prendia dois beneméritos brasileiros,
começando uma discussão entre os dois, gerando uma tensão entre os soldados que
ao redor assistiam aquela cena, onde os dois já ameaçavam se atracar na briga.
Foi quando inesperadamente,
devido os ânimos tensos de todos ou talvez para acabar com aquilo, a tropa deu
uma fuzilaria, atingindo Sena que caiu morto. Um apoiador de Sena que estava na
tropa, o soldado negro Benedito, também atirou no meio do tumulto contra os soldados,
logo ele fugindo, mas foi perseguido pela tropa que o achou em um bosque e ali
o assassinaram.
EM REUNIÃO DA CÂMARA
TAQUEIRINHA SE PRONUNCIA CONTRA BERNARDO SENA APÓS SUA MORTE, SENDO ELE ELEITO
AO CARGO DE COMANDANTE.
Na sessão da Câmara de Manaus de
3 de junho (um dia após o incidente), Taqueirinha afirmou que a morte de Sena
foi a salvação da comarca, dizendo que morria com ele suas malignas intenções e
arbitrariedades que poderiam, a qualquer momento, ver eclodir na Vila uma luta
armada entre cabanos e moradores. Aproveitava e chamava o falecido de
"monstro" por querer indispor os moradores da comarca com os seus
patrícios do Baixo Amazonas.
Já o juiz de Direito João Pacheco
pediu a palavra e disse que sempre reconheceu Sena como um comandante intruso e
que Manoel Taqueirinha deveria ser agora o legítimo comandante geral como bem
mandou e desejava o chefe cabano Maparajuba.
Estando ali presente a tropa toda,
foi perguntada a ela, por João Pacheco, se concordavam que Taqueirinha fosse
seu comandante o qual concordaram todos com um grito em uníssimo e grande
aplauso.
Terminava assim a trajetória do
líder cabano Bernardo Sena, que durante três meses esteve no comando de Manaus
e do Alto Amazonas, sendo ele subordinado às ordens de Apolinário Maparajuba,
no Baixo Amazonas, e de Eduardo Angelim, em Belém, enquanto durou o governo
cabano na comarca.
CONCLUSÃO
Após a morte de Bernardo Sena,
Manaus continuou controlada pelos cabanos até o último dia de agosto de 1836
quando as tropas legalistas fizeram um levante, liderados pelo juiz Gregório
Nazazieno e com ajuda do próprio Manoel Taqueirinha (que aproveitou a
oportunidade pois, como já dito, nunca foi simpático à causa dos insurgentes),
invadindo e dominando Manaus, instaurando novamente a legalidade e expulsando
os 81 cabanos restantes que guarneciam a Vila e faziam ali valer suas leis.
O próprio juiz Gregório, após o controle total de Manaus, discursou vitorioso na Câmara e não esqueceu de Sena quando do período em que o cabano comandou a Vila, declarando com menosprezo que "ele fora um degredado que todos suportaram para evitar um derramamento de sangue".
Fontes: Livro "História do Amazonas",de Arthur Reis: “A cidade de Manáos, suas histórias e seus motins políticos”, de Bertino Miranda; "Cabanagem, a revolução popular da Amazônia”, de Pasquale di Paulo.
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