NO AMAZONAS, É REVELADA A DENÚNCIA DE ABANDONO DE POSTO DE FRONTEIRA PELAS AUTORIDADES E DE SOLDADOS ALI ESQUECIDOS E PASSANDO NECESSIDADES

Em novembro de 1919 chegava à Manaus um cavalheiro proveniente da região do Alto Rio Negro que logo procurou o principal órgão de imprensa do Amazonas para denunciar o descaso que se encontrava o posto de fronteira guarnecido pelo exército brasileiro na localidade de Cucuí, na tríplice fronteira do Brasil com a Colômbia e Venezuela.

Cucuí era um local bem remoto do Amazonas, distante há dias de viagem da capital Manaus, só se chegando ali de barco após passar por perigosas corredeiras e que tinha sido no passado um local para onde iam os exilados políticos que o governo brasileiro para lá mandava ficando ali eles isolados de tudo, como exemplo o célebre abolicionista José do Patrocínio que foi deportado para Cucuí em 1895,durante o governo de Floriano Peixoto(porém ele chegou até Santa Izabel).No período colonial os portugueses ali construíram, em 1763,o Forte de São José de Marabitanas para garantir os domínios daquela parte da Amazônia, por parte da coroa portuguesa, das pretensões da Espanha.


Na imagem de cima se tem a denúncia de abandono da fronteira de Cucuí, e na foto de baixo se vê soldados do posto de fronteira de Cucuí em frente à casa do comandante (após melhoramentos), entre o Brasil, Colômbia e Venezuela. 


A TRISTE SITUAÇÃO DO DESTACAMENTO FRONTEIRIÇO E A FALTA DE INFRA ESTRUTURA

O informante dizia que as suas impressões de Cucuí foram as mais tristes possíveis, tal o estado de abandono que se encontrava aquele ponto estratégico do território brasileiro e o descaso dos governantes com a situação.

O antigo e histórico Forte português estava arruinado pela ação do tempo.

Ali perto do Forte a casa do comando era coberta de palha com paredes de taipa, sendo precário o seu estado de conservação. Quando chovia, todas as dependências, inclusive o compartimento destinado à arrecadação, eram atingidos pela água.

Além da casa do comando, haviam também dois casebres, em regular conservação e contendo em seu interior as redes em que dormiam os soldados, e um outro em péssimas condições que não podia ser habitado. Nessas casas os únicos imobiliários eram toscos bancos de madeira e de uma mesa rústica para fazerem suas refeições. Não haviam talheres tendo os soldados do destacamento que se alimentar utilizando as mãos.

EXPEDIÇÃO CIENTÍFICA ESTRANGEIRA CHEGA EM CUCUÍ - O ABASTECIMENTO DA ALIMENTAÇÃO DOS PRAÇAS DO EXÉRCITO

Naquele mesmo ano de 1919 chegou em Cucuí uma comissão científica vinda dos Estados Unidos chefiado pelo Dr. Hamilton Rice, que ali aportou com a finalidade de ficar por vinte dias. O comandante do destacamento ficou envergonhado por não poder acolher, como desejava, os visitantes estrangeiros. E os americanos ficaram estranhando que numa fronteira como aquela não se encontrasse habitações apropriadas e alojamentos para os soldados brasileiros que ali permaneciam, sofrendo eles todo tipo de privações.

O destacamento de fronteira mandado para Cucuí e praticamente esquecido pelo governo federal era composto pelos seguintes militares:

3⁰ sargento Pedro Agapito Pereira (comandante); cabo Pedro Epifânio da Silva; apensada Manoel Caetano dos Santos; e os soldados Damião Vieira do Carmo, Luíz Pereira Gomes, Luíz Bittencourt, Manoel Marcos Ribeiro, Marcos Rodrigues de Sousa, Maximiano Antônio Pinto, Antônio Ferreira de Oliveira e José Borralho da Costa.

Viviam esses militares isolados de tudo e de todos no seu posto, trabalhando com dificuldades na roça nas suas horas vagas em virtude da falta de instrumentos apropriados. De três em três meses os soldados recebiam seu rancho que eram enviados de Manaus para a Vila de Santa Izabel em um navio a vapor. De Santa Izabel para Cucuí o rancho era levado rio acima em pequenas embarcações pertencentes à firma "A. Castanheira Fontes”, num acordo firmado entre a firma e o Ministério da Guerra, no qual a firma também recebia em cada viagem a quantia em dinheiro a ser paga aos soldados. Esse trajeto só é possível fazer em barcos menores devido o trecho ser encachoeirado, perigoso e inacessível para barcos maiores.

Embora o rancho satisfizesse as necessidades dos soldados, eles vinham sofrendo várias privações, ficando por meses sem informações dos familiares e sem medicamentos adequados, estando eles atentos para alguma investida de contrabandistas dos três países ou de ataque de indígenas hostis à presença deles no local, morando em barracas deterioradas e podendo correr eles o risco de ali falecer se contraíssem uma doença grave (como a malária).

DENÚNCIA DE EXTRAVIO DO RANCHO DOS MILITARES

Se não bastasse as dificuldades, o destacamento ainda foi vítima de práticas ilícitas. Quando o navio chegou em Santa Izabel trazendo o rancho dos soldados, pessoas inescrupulosas venderam o rancho por borracha a um regatão chamado Armênio de Almeida Ribeiro, morador de Carari, fato que se repetiu outras vezes.

Tanto é que no começo do ano de 1919, o novo comandante que assumiu o posto de Cucuí ao chegar ali nada encontrou de rancho, estando os soldados a passar fome. O comandante logo então consegui crédito com diversos negociantes para assim consegui a alimentação dos soldados.

O antigo Forte de São José de Marabitanas estava com vários canhões antigos espalhados pelo terreno, canhões esses que foram trazidos pelos portugueses nos tempos coloniais, e também havia grande quantidade de marcos de ferro abandonados com os nomes do Brasil e Venezuela.

Feita a denúncia e publicada na imprensa local, se esperava que o governo tomasse as devidas providências para dar um tratamento digno pata aqueles esquecidos guardiões do território nacional num dos locais, considerado na época, mais remotos do Brasil.

CONCLUSÃO

Hoje Cucuí (localizada na região conhecida como "cabeça do cachorro") é uma Vila do município de São Gabriel da Cachoeirano Amazonas, contendo um quartel do 4⁰ Pelotão Especial de Fronteira do Exército.


Fonte: Jornal do Commercio.


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