CAMPEONATO AMAZONENSE DE 1920: EM DISPUTA ACIRRADA COM SEU RIVAL RIO NEGRO, NACIONAL CONQUISTA O TÍTULO DE PENTA- CAMPEÃO

 

O time do Rio Negro de 1920, o vice-campeão.

Iniciava-se o ano de 1920 e a Federação local (FADA)começava os preparativos para a disputa, naquele ano, da sétima edição do campeonato amazonense de futebol, abrindo as inscrições para os clubes pretendentes ao título da competição, em suas duas divisões.

Ficou então decidido que seriam 6 os clubes a fazerem parte do certame: Manáos Sporting, Rio Negro, Amazonas, Monte Cristo, Euterpe e Nacional. Desses, somente o Euterpe (fundado no ano anterior) era estreante.

 

LUSO DESISTE DE PARTICIPAR E RIO NEGRO VOLTAVA À DISPUTA

O veterano e tradicional Luso Sporting Club estava cotado para participar do campeonato. Mas, devido a FADA ter organizado a tabela dos jogos sem a participação do clube (que havia confirmado sua presença na disputa com dias de atraso), a diretoria do Luso, injuriada, decidiu abandonar a competição e disputar um outro campeonato menor, organizado pela Liga Municipal.

O Rio Negro, enfim, voltava a disputar o campeonato depois de um ano afastado. Chateados por achar que o tribunal desportivo e a FADA favoreceram o Nacional, no título de 1918, a diretoria rionegrina resolveu não participar do certame de 1919.

Quanto ao Nacional, o campeão da última edição, pretendia manter sua hegemonia e alcançar o penta campeonato. Para isso, contava com quase o mesmo time da conquista do tetracampeonato.

 

FEDERAÇÃO LOCAL ANUNCIA INÍCIO DA COMPETIÇÃO

A FADA, então, anunciou o início do campeonato para o dia 25 de janeiro. E a disputa seria novamente da mesma fórmula dos certames passados, com dois turnos e com os times jogando entre si, sendo declarado campeão o clube que acumulasse mais pontos. Os jogos seriam aos domingos no estádio Parque Amazonense, em Manaus.

Já a segunda divisão seria disputada pelas mesmas equipes, mas com seus times reservas, e sendo sempre jogado na preliminar das partidas da primeira divisão.

Para o clube campeão foi posta a "Taça Francfort".

Poucos dias antes de começar a competição, a FADA elegia seu novo presidente, passando a entidade a ser comandada pelo Dr. Leopoldo Cunha Mello.

 

UM NOVO CLUBE, O LUSO-BRASILEIRO, É INSERIDO NO CAMPEONATO QUANDO A DISPUTA JÁ ESTAVA EM ANDAMENTO

Porém, logo que o campeonato começou, foi inserido na disputa uma nova equipe recém fundada: o Luso-Brasileiro Sport Club.

O Luso-Brasileiro foi fundado no dia 8 de fevereiro de 1920, ostentava uniforme tricolor e sua sede era na rua Barroso, n⁰28. Sendo assim, o campeonato passava agora a ter 7 clubes na disputa.

É importante não confundir o Luso-Brasileiro com o Luso Sporting Club, que eram equipes distintas.

 

A DISPUTA DO TORNEIO INÍCIO

Mas a FADA realizou, uma semana antes do campeonato começar, o seu tradicional torneio início que era uma espécie de aquecimento para o certame. O torneio foi realizado na tarde do dia 18 de janeiro, no Parque Amazonense, com a participação dos seis clubes, jogando por 30 minutos cada partida em sistema de matamatá.

Após os jogos, Manáos Sporting e Rio Negro fizeram a final, cuja vitória foi do Sporting por 1x0 e ficando o time alvirrubro como campeão do torneio início.

 

COMEÇA O CAMPEONATO: RIO NEGRO E MANÁOS SPORTING ESTREIAM COM VITÓRIA

No jogo de abertura do estadual, em 25 de janeiro, o Rio Negro venceu com tranquilidade o Amazonas por 3x0, gols assinalados por Pudico (2) e Brito Inglês (contra). O público presente foi regular e o Amazonas jogou com 10 homens e desfalcado de três titulares.

Na segunda partida do campeonato, em 1⁰ de fevereiro, o Manáos Sporting enfrentaria o Euterpe. Era a estreia do Euterpe na competição, um clube que era formado por jogadores negros.

Em campo o Sporting venceu com facilidade os euterpianos por 6x1com gols de Zequinha (3), Rochinha, Soera e Souza, enquanto Siqueira fez o gol de honra do Euterpe.

Houve um sério atrito em campo quando Rochinha, do Sporting, deu uma entrada dura no goleiro Caldeira, do Euterpe, que respondeu com uma bofetada no jogador, logo partindo Rochinha pra cima de seu agressor cuja briga acabou quando foi separada pelos demais jogadores.

 

NACIONAL TAMBÉM VENCIA SUA PARTIDA DE ESTREIA EM JOGO VIOLENTO E RIO NEGRO VENCIA NOVAMENTE

Era a vez da estreia do Nacional, no dia 8 de fevereiro, contra o Monte Cristo.

Os nacionalinos venceram o Monte Cristo por 3x0, gols feitos por Azevedo (2) e Craveiro (de pênalti). O jogo foi violento com os jogadores Mello e Leonardo ameaçando partirem para a briga. Já o nacionalino Secundino tentou agredir o juiz, sendo impedido por seus companheiros.

A disputa continuava com o Rio Negro goleando o Luso-Brasileiro por 4x0 em 22 de fevereiro, e o Nacional também goleava o Amazonas por 4x1, em 29 de fevereiro, gols marcados por Secundino (3) e Azevedo, com Craveiro perdendo um pênalti para o Nacional.

Nacionalinos e rionegrinos começavam a disputar, palmo a palmo, a liderança do campeonato.



Azevedo do Nacional foi também um dos principais jogadores de seu time na conquista do título.



 

RIO NEGRO EMPATA E DESPERDIÇA CHANCE DE LIDERAR A TABELA, SENDO ACUSADO DE SER FAVORECIDO PELO JUIZ

Mas o Rio Negro deixou escapar um ponto precioso quando empatou em 2x2 com o Manáos Sporting, no dia 14 de março.

O jogo foi cercado de polêmica. Quando a partida caminhava para seu final, o Sporting ganhava por 2x1(gols de Soera e Zequinha para o Sporting, e Pudico para o Rio Negro). Acontece que um lance inesperado mudou o rumo do jogo e do placar. Depois de Arthur (do Rio Negro) tocar com a mão na bola, Oliveira (do Sporting) também fez outro toque de mão dentro da área. O juiz opinou que Arthur fosse punido pela irregularidade.

Os jogadores rionegrinos reuniram-se e protestaram, assim como os do Sporting contra protestaram. Foi quando se ouviu o apito do juiz. Então o jogador Mário, do Rio Negro, saiu do grupo e chutou a bola contra o gol do Sporting, marcando o gol, quando sequer o goleiro Arnaldo se encontrava na trave, pois ele ainda estava no meio do campo discutindo o assunto. O juiz acabou validando o gol irregular que deu empate ao Rio Negro, fazendo com que o goleiro Arnaldo, furioso, abandonasse o campo.

 

A DÚVIDA DE UM SUPOSTO GOL QUE PODERIA DAR VANTAGEM AO AMAZONAS

Em outro jogo, Monte Cristo e Amazonas empataram em 2x2 no dia 21 de março.

O duelo estava empatado quando Hugolino, do Amazonas, chutou uma bola no canto do gol de Ferreira que pareceu ter entrado. Mas o árbitro não teve, nesse jogo, a presença dos juízes de meta que poderiam ter dado o veredito final. Por esse motivo ficou a dúvida se foi gol ou não, fazendo com que o árbitro não confirmasse o que seria um gol.

No último minuto de partida o Monte Cristo deixou a vitória escapar quando um jogador seu desperdiçou um pênalti.

 

RIONEGRINOS E NACIONALINOS LUTAM ARDUAMENTE PELA LIDERANÇA

A disputa pela liderança continuava acirrada entre nacionalinos e rionegrinos, com o Nacional vencendo o Euterpe por 3x1, em 28 de março, e o Rio Negro também vencendo o Monte Cristo por 2x1, em 11 de abril.

Já no dia 25 de abril o Nacional triunfava sobre o Manáos Sporting por 2x1, e o Rio Negro goleava o Euterpe por 6x0, em 9 de maio, com gols de Hermínio (3) e Pudico (3).

 

NO PRIMEIRO E ESPERADO "RIO-NAL" DO CAMPEONATO, RIVAIS EMPATAM

Enfim chegava a hora de Nacional e Rio Negro fazerem seu primeiro encontro no campeonato. A partida, valendo pelo primeiro turno, era aguardada com ansiedade pela torcida pois o Nacional se encontrava na primeira colocação da tabela, com 10 pontos, enquanto o Rio Negro era o segundo colocado, com 9 pontos. Uma vitória nacionalina distanciaria mais ainda sua colocação do rival e isolaria a equipe na liderança. Já um triunfo do Rio Negro colocaria o clube como novo líder do certame, ultrapassando o Nacional.

A torcida lotou as dependências do Parque Amazonense. Logo aos 6 minutos Pequenino comete um pênalti cabendo a Santana cobrar e fazer o primeiro gol do Rio Negro.

Pouco depois Pantaleão toca com a mão na bola, ocasionando outro pênalti que foi convertido por Pequenino, empatando para o Nacional.

Mas Craveiro, aproveitando um passe de Parimé, conquistava o segundo gol nacionalino, terminando assim o primeiro tempo com a vantagem do Nacional.

No segundo tempo ambos os times atacam simultaneamente, mas sem resultado. Quando faltava dez minutos para acabar o jogo o rionegrino Xavier, com um chute magistral, vazou a rede do goleiro Nery, numa precipitação do nacionalino. Estava empatada a partida.

Já no último minuto Parimé toca com a mão na bola, sendo marcado o pênalti que foi desperdiçado por Santana, perdendo assim o Rio Negro a oportunidade de vencer a partida.

Terminava o jogo com um empate de 2x2, continuando o Nacional como líder e o Rio Negro como vice.


COMEÇA O SEGUNDO TURNO E NACIONAL E RIO NEGRO CONTINUAM NA CORRIDA PELA LIDERANÇA E TÍTULO

Já no 2⁰ turno o Nacional estreava com uma grande goleada de 15 x0 sobre o Euterpe, em 4 de julho, com gols assinalados por Orlando (4), Parimé (3), Jurandir (3), Craveiro (2), Secundino (2)e Pequenino. Coube ao goleiro euterpianos Agnaldo a humilhante tarefa de ir buscar várias vezes as bola no fundo das redes.

Foi a maior goleada do campeonato e uma das maiores da história do campeonato amazonense.

Continuando na disputa, o Rio Negro goleava o Monte Cristo por 6x2, em 18 de julho. E o Nacional também dava seu recado, vencendo o Manáos Sporting por 4x2 em 25 de julho, mesmo desfalcado (com gols marcado por Rodolpho, Clóvis, Fernandinho e Orlando para o Nacional).

Já no dia 8 de agosto, o Rio Negro vencia o Luso-Brasileiro por 2x0.

 

EM NOVO "RIO-NAL”, EQUIPE BARRIGA-PRETA LEVA A MELHOR

Era chegada a hora de novamente rionegrinos e nacionalinos se enfrentarem-no returno. E mais uma vez a torcida compareceu em peso pois a partida era de suma importância para os dois leais adversários, que disputavam a liderança do campeonato. Já no Rio Negro uma novidade: estreava na equipe o antigo ídolo nacionalino Cícero Costa, que pela primeira vez ia disputar um Rio-Nal contra sua antiga equipe.

Logo no primeiro minuto de jogo Anísio consegue vencer o goleiro Nery com uma cabeçada, abrindo a contagem para o Rio Negro.

No segundo tempo o Nacional atacava a área rionegrina com violência e frequência, mas que eram anuladas pelas defesas do goleiro Manoelzinho. E a violência por parte dos dois times prosseguiu, resultando na contusão do rionegrino Cícero Costa e dos nacionalinos Secundino e Amadeu.

Já faltando dois minutos para acabar o jogo, Hermínio, com um chute certeiro, fazia o segundo gol do Rio Negro, dando pontos finais ao espetáculo daquela tarde com a vitória do time barriga-preta por 2x0.

 

CONTINUA A GUERRA DOS DOIS RIVAIS CANDIDATOS AO TÍTULO

No jogo seguinte do Rio Negro, que era para acontecer no dia 26 de setembro contra o Amazonas, os rionegrinos ganharam por W.O. devido ao Amazonas comunicar que não jogaria, alegando que 4 jogadores seus do time titular estavam doentes.

Quanto ao Nacional, não teve dificuldades de golear o Luso-Brasileiro por 4x0 em 3 de outubro (dois gols de Azevedo, um de Rodolpho e outro de Fernandinho).

Continuando na disputa persistente entre nacionalinos e rionegrinos pela liderança e título do campeonato, o Rio Negro goleava o Euterpe por 5x0 no dia 17 de outubro.

Porém agora era a vez do Nacional também ganhar do Amazonas por W.O., em jogo que deveria ocorrer no dia 31 de outubro. O motivo alegado pelo Amazonas foi devido o protesto que o clube fez no jogo que perdeu para o Manáos Sporting.

 

MANÁOS SPORTING SURPREENDE E ACABA COM AS PRETENSÕES DO RIO NEGRO - NACIONAL CONQUISTA O PENTA CAMPEONATO ANTECIPADO

O campeonato caminhava para seu final e a penúltima partida seria entre Rio Negro e Monte Cristo no dia 14 de novembro, e o duelo teria uma atenção especial de torcedores e jogadores de Rio Negro e Nacional.

Se caso o Manáos Sporting ganhasse, o Nacional seria declarado o campeão. Mas se porventura a vitória sorrisse para o Rio Negro, os dois rivais terminariam empatados em número de pontos, sendo necessário uma partida extra entre Nacional e Rio Negro para enfim se declarar o campeão de 1920.

Em campo só a vitória interessava para o Rio Negro. Mas o Sporting deu uma força para o Nacional, goleando os rionegrinos por 4x1, com gols de Flávio (2) Zeca (2), cabendo a Cícero Costa, de pênalti, marcar o gol de honra do Rio Negro.

 

JÁ CAMPEÃO, NACIONAL FECHA SUA PARTICIPAÇÃO COM TRIUNFO

Declarado campeão antecipado, o Nacional entrava em campo, no dia 21 de novembro, para cumprir tabela e enfrentar o Monte Cristo no último jogo do campeonato. E não fez feio, fechando sua participação no estadual com chave de ouro pois goleou seu adversário por 8x0 com gols de Craveiro (2), Secundino (2), Azevedo (2), Leonardo e Rodolpho.



Na foto, o jogador Jurandir, do Nacional, que foi destaque na campanha do título (era sargento do exército). 


CONCLUSÃO

Sendo assim o Nacional se tornava pentacampeão amazonense de futebol, acumulando 21 pontos na disputa, enquanto o Rio Negro ficou como vice-campeão com 20 pontos.

Na segunda divisão o campeão foi o time reserva do Manáos Sporting.

Os jogadores campeões do Nacional em 1920 foram: Nery, Amadeu, Antoniano, Castolino, Cangalhas, Orlando, Secundino, Craveiro, Azevedo, Jurandir, Ivan, Fernandinho, Parimé, Rodolpho Gonçalves, Clóvis, Henrique, Leonardo e Pequenino.

Com 13 gols marcados, Craveiro foi o artilheiro do Nacional na competição.

Para a torcida rionegrina havia um consolo, apesar da perda do título para seu rival: embora o Nacional tenha derrotado os seus adversários na campanha, só não conseguiu o feito perante o Rio Negro que, nos dois encontros, os rionegrinos empataram um e no outro infringiram no Nacional a sua única derrota no campeonato.

 

Fontes: Jornal do Commercio, O Tempo, Gazeta da Tarde.

 


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