CONTOS DA AMAZÔNIA ANTIGA: UM ANIMAL QUE CAUSOU MEDO E MISTÉRIO EM SÃO GABRIEL DA CACHOEIRA
Era o ano de 1905 e a vida corria
normal no município de São Gabriel da Cachoeira, na região do Alto Rio Negro, no
estado do Amazonas.
Porém naquele período a população
da Vila de São Gabriel da Cachoeira e comunidades próximas andava assombrada e
dominada pelo medo, cujo motivo era a aparição constante de um ser misterioso à
noite. Mas não se tratava de alguma alma penada, Curupira ou Aminguaria e sim
simplesmente de uma vaca, mas que metia medo a todos por algumas
peculiaridades. Diziam as pessoas que era uma vaca medonha, com olhos de fogo e
chifres bem grandes, tendo o semblante parecido com de um touro furioso e que
ela também soltava um mugido assustador.
A dita vaca só aparecia à noite, exatamente
à meia noite, no mesmo local, que era uma formação de rocha na margem do rio
Negro, e ali ficava mugindo durante toda a noite até o alvorecer dos primeiros
raios solares, quando ela desaparecia misteriosamente.
Quando a noite chegava ninguém na
Vila de São Gabriel se atrevia a sair de suas casas pois todos temiam dar de
frente com a vaca maldita que, à meia noite, ficava estacionada em seu lugar preferido,
ao pé do grande rio, mugindo sem parar.
Para os moradores locais a vaca
seria alguma entidade encantada transformada no animal, já outros afirmavam que
era o próprio satanás na forma do animal.
Pessoas devotas do cristianismo,
curandeiros e pajés de aldeias indígenas vinham de longe munidos de seus
apetrechos religiosos para afastar dali o misterioso animal das trevas. Mas
quando chegavam perto da vaca, ao vê-la com c seus olhos de fogo, se apavoravam
e saíam correndo em disparada, tomadas pelo medo e gritando: -" a vaca é o
diabo, a vaca é o diabo!"
E a notícia sobre a aparição da
vaca infernal se espalhou cada vez mais por aquela região e ninguém tinha
coragem de esclarecer aquele mistério.
UM FUNCIONÁRIO DA PREFEITURA
LOCAL SE PERDE NA MATA E DESVENDA O MISTÉRIO
Porém num belo dia de domingo um
empregado da intendência (prefeitura)de São Gabriel da Cachoeira, um
pernambucano chamado Guilhermino, resolveu sair para caçar pelas matas das redondezas.
Sendo assim, o homem penetrou cada vez mais pela mata virgem, tendo resultado
positivo de sua caçada pois abatera várias pacas e cutias.
Mas ao tomar o rumo de sua casa
na Vila, acabou perdendo o caminho por onde viera e, por mais que tentasse
encontrá-lo de todos os lados, só encontrava atoleiros, igarapés e a extensa e
colossal floresta. Cada vez ele andava mais rápido em busca da saída, mas foi
aí que se deu conta que estava perdido.
Nesse momento angustiante, e já
sem esperança de acertar o caminho, resolveu apelar para sua fé e, em posição respeitosa,
dobrou seus joelhos e ergueu uma prece aos céus para Santo Antônio, o santo das
causas perdidas.
Após o fim da oração recomeçou a
sua caminhada na busca desesperada pela saída, contudo nada encontrou. A noite
já estava chegando e Guilhermino apressou-se ainda mais, correndo de um lado
para outro para sair dali pois não queria ficar sozinho no escuro da mata. Mas
apesar de seu esforço nada encontrou, nem mesmo uma vereda sequer que lhe desse
alguma mínima esperança de encontrar o caminho.
Até que a noite chegou e a
escuridão tomou conta do local. Resignado, e cansado, Guilhermino tratou de
sentar ao pé de uma árvore para descansar. Agora trêmulo de medo pela escuridão,
o homem novamente recorria ao seu santo protetor para que conseguisse sair dali.
Depois disso, e confiante, mesmo sem ver quase nada devido o escuro, ele
decidiu continuar a procurar uma saída até que, milagrosamente, encontrou uma
antiga estrada que, por sua intuição, ia com certeza dar na Vila de São
Gabriel.
E assim se sucedeu. Depois de
Guilhermino andar por um bom tempo pela estrada sem rumo certo, avistou ao
longe a capela branca da pacata Vila. Ele então vibrou de alegria e, sem se
importar com os barrancos que apareciam pelo caminho, caminhou mais rápido em
busca de chegar à Vila e na sua casa.
Tão apressado Guilhermino seguia,
que ele nem se lembrou que estava próximo do local e da hora do aparecimento da
famosa vaca infernal.
Quando ele passava, já meia noite,
em próximo da formação rochosa, lá estava a vaca do qual ele tinha ouvido
tantos casos, a mesma que se dizia ter olhos de fogo e grandes chifres e que
agora estava a lhe encarar como o ameaçando.
Guilhermino então parou, mas não
porque acreditasse em fantasmas, mas sim devido o animal estar em seu caminho.
Então o pernambucano resolveu
acabar logo com aquela questão e, cheio de coragem, resolveu encarar o bicho
que tanto medo trazia à população local. Puxou então uma faca que trazia na
cintura e avançou pra cima da vaca, cravando ele por diversa vezes a lâmina no
corpo do animal e, ainda sem ver quase nada devido a negridão noturna, saiu em
debandada carreira, quase morto de medo e de cansaço, conseguindo assim chegar
na Vila e em sua casa onde caiu exausto na cama.
Todavia Guilhermino não conseguiu
dormir, passando a noite em claro. Quando o dia amanheceu ele resolveu voltar
ao local do ocorrido para ver qual tinha sido o resultado de sua proeza
noturna.
Para sua surpresa viu a vaca, deitada
de papo para o ar, que era na verdade um animal pertencente à uma senhora
chamada Dona Custódia, banhada num mar de sangue e ainda mugindo de agonia.
Estava assim esclarecido o mistério da vaca infernal, dormindo então o povo de
São Gabriel sem mais medo de "visagens".
...
Fonte: Jornal "Correio do
Norte".
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