CRIMES QUE REPERCUTIRAM EM MANAUS ENVOLVENDO MEMBROS DA COLÔNIA ITALIANA

Atraídos pelo capital ocasionado pela exportação da borracha, italianos chegaram ao Amazonas entre o final do século XIX e início do e início do século XX dando origem à uma conceituada colônia no estado. A maioria deles veio do Sul da Itália e grande parte se estabeleceu na capital Manaus, exercendo várias profissões e se tornando a terceira maior colônia de estrangeiros do estado atrás apenas dos portugueses e espanhóis.



Na ilustração da imagem, de primeira página do Jornal do Commercio, se tem o comerciante Giuseppe Magliano sendo assassinado por Giuseppe D'Eglias com ajuda de seu pai.


Havia no Amazonas prósperos empreendedores e comerciantes italianos como Antônio Borsa (proprietário do Hotel Internacional, um dos principais da capital amazonense), Giuseppe Faraco (exportador de guaraná em Maués) e Giulio Cesari Roberti (dono da joalheria Roberti & Pelosi, a mais conceituada casa do ramo em Manaus), outros menos abastados trabalhavam de carregadores, engraxates, jornaleiros ou vendedores ambulantes. Os italianos do Amazonas formavam uma colônia próspera e bem atuante na sociedade local.

Porém três crimes, envolvendo italianos da capital amazonense, chocaram a colônia local e ganhou as principais páginas dos jornais de Manaus e repercutiram muito no seio da colônia ítalo/manauara, sendo eles os seguintes:

POR QUESTÕES FAMILIARES, RENOMADO COMERCIANTE ITALIANO É ASSASSINADO

O italiano Carlos Magliano noivara em Manaus com a também italiana Magdalena D'Eglias, que era filha de Francesco D'Eglias Calábria e irmã de Giuseppe D'Eglias.

Mas, por motivo algum, Magdalena resolveu que não queria mais casar e decidiu romper o que havia prometido a seu noivo. O irmão do noivo era o comerciante Giuseppe Magliano, muito conhecido em Manaus e que era proprietário da "Tinturaria Ítalo-Amazonense", estabelecimento localizado na Avenida Eduardo Ribeiro,n⁰40.

Ficou combinado que o casamento aconteceria no dia 15 de fevereiro de 1913, sendo que Giuseppe Magliano ficou encarregado de organizar os papéis necessários para o casamento. Magliano, com os papéis em punho, seguiu para a casa da noiva, que residia na Avenida Joaquim Nabuco, n⁰33, para ela assinar os documentos no dia 14 de fevereiro à tarde.

Mas, para surpresa do comerciante, Magdalena se recusou a assinar os papéis dizendo que não iria se casar naquele dia pois estava doente. Mas Magliano, irmão do noivo, se enfureceu e travou acalorada discussão com a moça e com sua mãe que ali estava e que foi a favor da filha. Magliano inclusive chegou a ameaçar as duas mulheres com uma cadeira nas mãos.

Um jornaleiro italiano que viu a cena, correu para dizer tudo ao pai e irmão da noiva, Francesco D'Eglias Calábria e seu filho Giuseppe D'Eglias que, ao saberem do ocorrido, logo saíram enfurecidos em busca de Magliano, chegando primeiro na residência dele, na Rua Costa Azevedo, n⁰4, onde encontraram somente sua mulher que foi interrogada pelos dois homens sobre o paradeiro de Magliano. A mulher, chamada Aurora, não soube responder e logo foi ameaçada de morte, porém ela conseguiu fugir pulando a cerca de sua casa. Depois, os dois gritaram bem alto para ela ouvir: "-Ele não escapará hoje!".

Ao saírem do local eis que surge Giuseppe Magliano que dobrava o canto da rua Costa Azevedo rumo à sua casa. Os dois homens, então, partiram para cima do comerciante com toda sua fúria que, surpreso com a agressão, não resolveu fugir. Francesco D'Eglias o imobilizou enquanto seu filho Giuseppe enfiava seu punhal duas vezes no peito de Magliano e uma vez na região lombar. A vítima indefesa caiu ao solo ferido. Populares correram para o local e prenderam os dois homicidas e removeram o ferido para sua casa onde morreu cinco minutos depois.

Giuseppe Magliano tinha 31 anos de idade e havia chegado ao Brasil em 1904, estabelecendo-se em Manaus onde montou sua casa comercial. Era casado com a paraibana Aurora Barreto com quem teve dois filhos.

O assassino Giuseppe D'Eglias tinha 20 anos, era solteiro e italiano e trabalhava como carregador. Já o coautor do homicídio, Francesco D'Eglias Calábria, era também carregador tendo 53 anos de idade e casado com Domingas Calábria, fazia vários anos que ele tinha vindo da Itália para o Brasil. Como se mencionou, assassino e família moravam na Avenida Joaquim Nabuco.

Os dois acusados do crime, pai e filho, foram presos e depois levados ao tribunal de júri sendo julgados em 12 de agosto de 1913(grande número de populares aguardavam o veredito final dentro e fora do tribunal), onde foram condenados a uma pena de 24 anos de prisão cada um.



À esquerda, na imagem, vemos o comerciante Giuseppe Magliano, em seguida os dois assassinos em fotos publicadas no Jornal do Commercio.



ASSASSINATO NO DOMINGO DE CARNAVAL

Em 15 de fevereiro de 1914, no domingo de carnaval em Manaus, era 19 horas na Avenida Eduardo Ribeiro onde naquele momento, debaixo de uma chuva, passavam vários blocos carnavalescos.

Naquela ocasião, no passeio da barbearia "Frade" encontravam-se vindos de caminhos opostos, os irmãos italianos Antonio Pinto e Nicola Pinto e o também italiano Vincenzo Cosentini. Já havia uma rixa antiga entre Nicola e Vincenzo que, agora se reencontrando, começaram uma discussão, com Antonio tentando apaziguar sem resultado.

Então, subitamente, Vincenzo sacou de um punhal e enfiou no lado esquerdo do abdômen de Nicola, que caiu ferido por terra em sangue, enquanto seu irmão o socorria desesperado.

O agressor Vincenzo Cosentini, como se nada tivesse acontecido, subiu a avenida Eduardo Ribeiro mas deixou cair no caminho a bainha de seu punhal e, logo depois, cravou o punhal em uma árvore para se ver livre da arma do crime. Ele encontrou uns conhecidos na rua Barroso, onde confessou a eles o crime que acabara de cometer e se despediu de todos dizendo que iria partir para bem longe para assim escapar da polícia.

Vincenzo continuou em sua fuga e entrou na rua Marechal Deodoro onde se dirigiu ao "Bar Bohemia" onde ali encontrou seu patrão, o Sr. Raimundo Neves. O italiano também confessou para o Sr. Raimundo o delito que tinha cometido e pediu ao seu chefe que o protegesse e ajudasse em sua evasão. Mas o Sr. Raimundo Neves não concordou com o pedido de seu empregado e, junto com outros, deteve o criminoso que foi levado à segunda delegacia onde ficou preso. No caminho Cosentini tentou fugir mas logo foi agarrado pelas pessoas que o conduziam.

A polícia compareceu ao local do crime, ajudando no transporte de Nicola para a delegacia onde ali o ferido deu seu último suspiro. O corpo foi então levado para o necrotério da Santa Casa onde os médicos deram como causa da morte uma lesão na artéria pulmonar.

Nicola Pinto tinha 30 anos, era solteiro e trabalhava de carregador na área do porto. Já Vincenzo Cosentini era também carregador, mas da agência de leilão do Sr. Raimundo Neves.

Descobriu-se que Vincenzo já havia cometido um assassinato na Itália, motivo que o fez fugir para o Brasil. Em depoimento ao delegado do segundo distrito, o homicida italiano disse que o crime teria sido motivado devido Nicola o ter batido com um guarda-chuva, mas a policia não acreditou nessa versão. Contudo, em tom cínico e de arrogância, ele dizia que não era inimigo de Nicola e que não ficaria um ano preso.

Ele então foi recolhido à casa se detenção.

O CRIME DA RUA LOBO D'ALMADA: ASSASSINO MISTERIOSO E CASO SEM SOLUÇÃO

Era o dia 24 de junho de 1922 em Manaus. Havia na Rua Lobo D'Almada, canto com a Rua 24 de Maio, a mercearia "Primeiro de Maio" cujo proprietário era o senhor João Barela Lourenço.

Naquele dia adentrava na mercearia três homens acompanhados de uma mulher chamada "Mundica", logo eles pediram cachaça e na sequência a mulher os deixou. O dono João Lourenço perguntou a quantidade de bebida que desejavam, mas um dos homens se exaltou e reagiu agredindo o proprietário com uma cadeira, sendo que João Lourenço correu para dentro de sua mercearia para escapar de outras agressões. Os três homens então se retiraram e ficaram estacionados em frente à mercearia "Nova Esperança" que ficava próximo ao estabelecimento onde fizeram a arruaça. Então um deles, o mais exaltado que era um homem alto, de cor morena, de bigode e vestindo roupa cinza, sacou seu revólver e voltou à mercearia Primeiro de Maio.

Nesse momento o italiano Caetano Libonati adentrava o recinto e, na sequência, o homem armado dispara um tiro que acertou Libonati no queixo, que caiu e foi socorrido pelo dono João Lourenço e sua esposa. Eram 9 e meia da manhã quando aconteceu o incidente e uma grande massa de populares, ao ouvir o estampido, se dirigiu ao local enquanto o agressor, após o tiro, saiu em disparada com revólver em punho, descendo a rua Lobo D'Almada e desaparecendo.

O agente de polícia Raimundo Goiabeira foi ao local e fez transportar o ferido para a Santa Casa onde ele foi medicado pelo Dr. Fulgêncio Vidal que afirmou que a bala havia entrado pelo queixo e saído por seu pescoço. Caetano não resistiu e faleceu no dia 25 de junho na Santa Casa.

O enterro de Caetano Libonati realizou-se às 16 horas do dia 26 de junho, no cemitério São João Batista, sendo o féretro acompanhado pelo cônsul da Itália no Amazonas e por quase todos os membros da colônia italiana de Manaus, onde o morto era muito estimado. Caetano tinha 35 anos, era casado e residia na Estrada de Epaminondas. Ele estava esperando um navio vindo da Europa, onde vinha uma quantia de dinheiro enviada por sua família para ele voltar à Itália.

A polícia então empreendeu uma verdadeira caçada para descobrir quem era e prender o misterioso assassino. Várias tentativas foram feitas para localizá-lo mas nada se conseguiu. Inclusive a polícia soube que na noite anterior ao crime os três homens estiveram numa festa na rua Leonardo Malcher promovida por uma mulher chamada Benedita Aguiar, mas em seu depoimento na delegacia ela afirmou que não conhecia os homens. Um guarda civil chamado Virgílio, que também estava na festa, disse que viu os três suspeitos mas que não os conhecia. Outra mulher, "Mundica", que estava na companhia dos três homens antes do crime, disse à Polícia que os havia conhecido na manhã daquele mesmo dia quando eles passaram em frente à sua casa, na rua Joaquim Sarmento, e a convidaram para tomar cerveja. Ela finalizou afirmando que também não sabia quem eram eles.

E assim, o "crime da rua Lobo D'Almada"(como ficou conhecido), não foi solucionado.

...

Fonte: Jornal do Commercio.

 


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