SEM QUERER DOIS REPÓRTERES ENCONTRAM, EM MANAUS, O ANTIGO PALACETE ABANDONADO DE CONSTANTINO NERY
Em um determinado dia do ano de 1947, pela parte da manhã em
Manaus, dois repórteres do Jornal do Commercio (um deles chamado Adauto
Rocha),o principal informativo da imprensa do Amazonas daquela época, vagavam
tranquilamente pelo bairro de Adrianópolis quando ao passarem pela rua
Teresina, próximo ao campo do Nacional, se depararam com um grande e imponente
prédio antigo, que estava abandonado e coberto pelo mato e que eles
classificaram como uma "forma impressionante e inacabada de
edifício". Pelos cálculos dos dois homens aquela misteriosa construção
devia ter mais de 40 anos e foi edificada no início do século XX, período pelo
qual a cidade passava pelo esplendor em sua economia devido à exportação da
borracha.
Os dois jornalistas pararam então diante da construção e,
dada a sua grandiosidade, perceberam que pessoas por ali transitavam, mas não
davam a mínima para aquela edificação histórica. Mas eles, como bons observadores,
sabiam que aquele local tinha muitas histórias para contar. A fachada imponente
da mansão, sem reboco, mostrava a elegância daquela desconhecida construção
recoberta de apuizeiros. Perceberam também que faltou bem pouco para o prédio
ficar concluído, faltando apenas a cobertura, mas que não se sabia o motivo da
sua não conclusão.
Mas quem teria começado aquele majestoso palacete? Quem
seria seu dono? e por qual motivo ficou abandonado? Perguntavam os repórteres a
si mesmos, cada vez mais cometidos pela curiosidade daquele esqueleto
arquitetônico perdido nas cercanias de Manaus.
Resolveram os dois profissionais da imprensa penetrar e
explorar o interior do prédio. Era de dois andares, possuindo divisões, uma plataforma,
uma coluna, uma porta gigante e adornos artísticos. Sobre o pavimento térreo,
erguiam-se sólidas e soberbas paredes, recortadas de grandes janelas. A fachada
da frente, com uma saliência em forma de torre quadrangular, à altura de mais
de um pavimento, lembrava o aspecto sombrio de ruínas gregas.
Olhavam tudo aquilo com espanto e chegaram à conclusão de
que a pessoa proprietária do imóvel tinha sido com certeza bem influente e abastada.
E se aquele local tivesse sido concluído, com sua bela arquitetura, teria sido
na época uma das construções mais belas da capital amazonense.
EM BUSCA DA HISTÓRIA E ORIGEM DO PALACETE
Os dois repórteres partiram então pra saber a história
daquele local que agora tanto lhes enchiam de curiosidade. Procuraram as
respostas com várias pessoas e uns diziam a eles ter sido o prédio construído
por esse ou por aquele indivíduo, mas ninguém dava certeza.
Eles então foram perguntar aos moradores de uma humilde casa
de taipa, que ficava do lado direito à sombra do gigante e adormecido palacete,
na solidão de seu passado e destino. Porém as pessoas da casa nada souberam informar,
apenas disseram que um senhor chamado Antenor Braga, residente no Beco da Indústria,
era quem tomava conta do prédio.
Mas, pensaram os repórteres, como achar esse indivíduo, sem
saber o número de sua residência?
Dispostos a descobrir o mistério, os repórteres não
esmoreceram e quando estavam nos restaurantes e bares, perguntavam sempre de
alguém se sabiam quem era o dono daquele imóvel abandonado e ninguém sabia
informar com exatidão.
Os jornalistas chegaram até a indagar que não era possível
que ninguém soubesse algo da história das ruínas do palacete de Adrianópolis.
Muitos diziam a eles que aquela construção havia pertencido ao ex-governador
Eduardo Ribeiro. Já outros afirmavam que aquilo pertenceu aos ingleses no
alvorecer do século XX.
JORNALISTAS CONSEGUEM AS PRIMEIRAS INFORMAÇÕES CONFIÁVEIS
Mas a história do palacete começou a ser esclarecida mesmo
com a revelação que o professor Carlos Mesquita fez aos repórteres, quando
casualmente eles se encontraram na Leitaria Amazonas. O renomado professor
afirmou que tinha sido o coronel Constantino Nery, ex-governador do Amazonas,
quem mandou construir o palacete, ente os anos de 1902 a 1904, para servir de
sua residência.
Constantino Nery, que governou o estado no período de 1904 a
1908, residia com a família em sua suntuosa casa situada na avenida Joaquim Nabuco
(que existe até hoje). Mas talvez preferiu mandar construir o palácio de
Adrianópolis para se mudar e ficar numa área que na época era mais afastada e
tranquila da cidade.
Contudo os jornalistas queriam saber mais detalhes, que o
professor não soube lhes dar, e procuravam as respostas com outras pessoas que
davam aos investigadores informações diferentes e sem bases seguras para uma
reportagem séria.
Diante dessa incerteza os dois repórteres procuraram o velho
desembargador Sá Peixoto, que viveu naquele período, e que confirmou aquilo que
o professor Mesquita havia dito: o iniciador da obra e dono era mesmo
Constantino Nery.
Planta
original do que seria o Palacete de Constantino Nery. |
ENFIM, O MISTÉRIO É ELUCIDADO
Mas o esclarecimento total e respostas os repórteres tiveram
quando procuraram e encontraram o senhor Antenor Braga, o responsável em cuidar
do terreno e das ruínas do palacete de Adrianópolis. Ele estava trabalhando na
firma T. J. Dunn, na rua Marechal Deodoro, quando recebeu a visita dos dois jornalistas,
e ali finalmente o mistério foi todo elucidado com o homem contando tudo.
De fato, o prédio em ruínas da rua Teresina pertenceu a
Constantino Nery, que nunca chegou a morar nele devido a paralisação da obra e
o pouco que faltou para a residência ser concluída. Aliás, não se soube o
motivo da não conclusão do prédio. Décadas depois o palacete foi vendido, em 2
de janeiro de 1941, pela viúva de Constantino, dona Sebastiana Maria Nery, para
o comerciante inglês Thomaz J. Dunn, que pretendia concluir aquele edifício
para servir de sua moradia, como devia ter sido para o coronel Constantino
Nery.
A edificação da rua Teresina media 50 metros de frente, com
uma área de 2.500 metros quadrados e perímetro de 200 metros lineares.
E o que aconteceu com o local depois? teria o inglês
reformado o palacete como pretendia? Com certeza não, pois foi vendido a outro
proprietário e o que restava do histórico prédio foi demolido anos depois,
sendo ali construída outra edificação.
...
Fonte: Jornal do Commercio (AM).
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