ITALIANO QUE COMBATIA NA PRIMEIRA GUERRA, VOLTA AO AMAZONAS DURANTE O CONFLITO MUNDIAL

No dia 22 de julho de 1917 atracava no porto de Manaus o navio a vapor "Maranhão”, indo do Rio de Janeiro e trazendo a bordo um combatente do exército da Itália que, por uma lei de seu país, teve de largar as armas e voltar para o Brasil, precisamente ao Estado do Amazonas, onde residia.

Tratava-se de Michelangelo Giotto Santoro, italiano de Nápoles nascido em 1877, que chegou à Manaus atendendo a um convite de seu irmão. Na capital amazonense Santoro montou seu estabelecimento comercial, a “Casa Santoro”, que inicialmente ficava na Rua dos Andradas e depois mudou para a Avenida Eduardo Ribeiro, tornando-se ele um próspero comerciante e figura de destaque da colônia italiana do Amazonas.

Conheceu na cidade a brasileira Alzira Leite Santoro, com quem contraiu matrimônio e que faleceria poucos anos depois.

Mas, com a eclosão da Primeira Guerra Mundial em 1914, Santoro e outros italianos residentes em Manaus se apresentaram no consulado de seu país na cidade e se alistaram para defender a Itália nos campos de batalha da Europa, afinal ele era um devotado súdito do rei Vítor Emanuel e ex-policial do exército italiano. Ele então embarcou (junto com outros companheiros) num navio, em 1915, deixando Manaus e seguindo para o Rio de Janeiro, onde de lá embarcou em outro navio com rumo à Itália.

Assim que a imprensa amazonense soube da chegada de Santoro do cenário de guerra, procurou logo saber notícias do andamento do conflito na Europa, afinal teriam um depoimento ao vivo de quem estava lá vendo a olho nu e sentindo na pele os horrores das batalhas. 



Na imagem maior se tem Giotto Santoro em 1917, e ilustrações de soldados italianos em ação na Primeira Guerra Mundial. 



Giotto Santoro, assim que desembarcou no porto de Manaus, seguiu para a residência do Sr. Júlio Corrêa, localizada na rua Oriental (atual rua da Instalação), n⁰22.

E foi ali que Santoro recebeu a imprensa para responder às perguntas e tirar dúvidas do repórter.

Santoro afirmou que não poderia dar muitos detalhes sobre a guerra pois atendia a uma lei proibitiva da Itália. Dizia que havia espiões em toda parte (inclusive havia uma colônia alemã em Manaus) e a publicação e revelação de certos fatos poderia comprometer a ele e à causa dos italianos.

Mas garantia que na Itália o entusiasmo era geral, não havendo desânimo entre os soldados e o povo. Os homens estavam no campo de batalha, enquanto suas esposas e irmãs assumiram seus lugares nos armazéns e indústrias e as crianças continuavam seus estudos, apesar do momento difícil que os países envolvidos no conflito passavam.

Dizia que a notícia de declaração de guerra do Brasil para a Alemanha foi recebida pelos soldados italianos com alegria e lembrou que o coronel de seu batalhão era casado com uma brasileira, fazendo aquela autoridade militar as melhores referências sobre o Brasil.

Giotto afirmava que esteve no front de batalha combatendo os alemães, vendo muitos de seus companheiros morrerem e ele mesmo escapando de morrer por várias vezes.

Mas após dois anos de ação na guerra, Santoro acabou sendo agraciado por uma lei italiana que licenciava por tempo indeterminado, o soldado que fosse viúvo e tivesse filhos menores. E Santoro já era viúvo e tinha três filhas menores em Manaus, recebendo ele o benefício do governo italiano para voltar ao Brasil.

Ele afirmava que não havia possibilidade de previsão para o fim do conflito e quem, enfim, venceria. Mas assegurava que na Itália e entre os aliados o entusiasmo era grande para vencer a Alemanha, pois a Itália tinha em ação 5 milhões de soldados (e muitos outros na reserva) e nada lhes faltava, tanto nas linhas, nas trincheiras, nos combates ou no descanso devido os armazéns estarem abarrotados de armamentos e munições.

Giotto Santoro falava o português fluentemente e, referindo-se ao Brasil, se considerava meio brasileiro e meio italiano.

Também Santoro afirmava que gostava muito do Amazonas e, no front, durante as pausas dos combates, dizia para seus colegas que o Amazonas era uma terra rica e farta, onde havia trabalho e ganho para todos que almejavam seus objetivos e, ao ouvirem isso, seus colegas soldados diziam: “om para você, que vai voltar para lá ".

Giotto Santoro ainda se casaria novamente em Manaus, com a senhora Cecília Autran Franco de Sá, tendo dessa união 12 filhos (entre eles o renomado maestro Cláudio Santoro). Faleceu de causas naturais em Manaus.

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Fonte: Jornal "A Capital".


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