CASOS ANTIGOS DE MESSIANISMO NO AMAZONAS

Messianismo consiste num movimento religioso ou sistema ideológico que prega a salvação da humanidade ou a crença em um libertador ou reformador, dando-lhe uma grande devoção. Porém, para muitos, a devoção pode ser considerada exagerada passando a ser chamada de fanatismo. O messias seria uma pessoa dotada de poderes que trará paz e prosperidade na terra, inaugurando uma nova era.

No Brasil da primeira República a religiosidade do sertanejo e seu sentimento de revolta contra a miséria, a opressão e as instituições do coronelismo deram origem a três movimentos messiânicos que terminaram em grande conflito: Revolta dos Muckers, Revolta de Canudos e Revolta do Contestado.




No Estado do Amazonas, há escassas notícias de três fatos messiânicos acontecidos entre os séculos XIX e início do século XX. Eis eles:

• Durante o período imperial, no ano de 1857, surgem na região do Alto Rio Negro, precisamente no Rio Içana, na Província do Amazonas, 4 indivíduos que se diziam ser enviados de Deus afirmando que as pessoas que os seguissem seriam salvas. Eram eles três índios brasileiros (sendo dois homens e uma mulher) e um índio venezuelano, da etnia Baniwa, chamado Venâncio que era o líder e que dizia ser o novo Jesus Cristo. Quantos aos outros três, se intitulavam Padre Santo, São Lourenço e Santa Maria.

Arregimentando grande número de seguidores que abandonavam suas aldeias para segui-los, esses indígenas realizavam várias reuniões e começaram uma insurreição na região, dizendo à população que "o mundo arderia no dia de S. João" e "subiriam aos céus os que melhor dançassem e pagassem".

Ao tomar conhecimento do fato e sentindo o perigo, as autoridades da Província tomaram as providências e mandaram para o local, em 18 de novembro de 1858, o frei Romualdo Gonçalves de Araújo (auxiliado pelo capitão Joaquim Firmino Xavier), com a finalidade de chamá-los de volta às suas malocas e a seus trabalhos. Porém antes da chegada do frei, um destacamento militar do forte de São Gabriel, comandado por um jovem oficial com alguns soldados, foram ao encontro do ajuntamento religioso, onde procederam com violência e crueldade prendendo os chamados líderes messiânicos e destruindo pequenas aldeias que tinham aderido à Venâncio (entre elas o povoado de Nossa Senhora da Guia). Três dos principais líderes religiosos foram então detidos em uma localidade do rio Içana (enquanto Venâncio fugiu).

O comandante do Forte de São Gabriel os enviou para Manaus onde chegaram no dia 2 de novembro. Ali foram punidos pelo presidente da Província, Francisco Furtado, que os colocou como trabalhadores nos serviços das obras públicas a cargo da Província.

Frei Romualdo adoeceu, cabendo então ao capitão Joaquim Firmino a missão de reagrupar os índios, que haviam fugido para o interior das matas, em suas aldeias.

Quanto ao líder Venâncio, ele acabou sumindo na mata e voltando para a Venezuela onde foi preso e enviado para Caracas.

• Residia na comunidade do Ajaratuba, no município de Manacapuru, o indivíduo Máximo Francisco de Souza que trabalhava na fabricação de canoas. Morava ele ali na companhia de sua mulher, Maria de Souza, e de três filhos menores chamados Julieta, Máximo e Anísio.

Segundo informações da época, Máximo teria sido atraído a reuniões e rituais de um grupo liderado por um curandeiro que andavam operando naquela área. Logo depois convidou sua esposa para também participar dos rituais do grupo, convite que foi aceito por ela.

Porém na noite do dia 12 de maio de 1908, Máximo, sua mulher e seus três filhos, embarcaram num batelão de sua propriedade e dirigiram-se à Vila de Manacapuru. Nessa altura, Máximo já se considerava um novo Noé e encheu a embarcação de víveres e utensílios de sua casa e, com roupas esfarrapadas, partiram eles fazendo grande alarido. Cada uma das crianças trazia na mão uma imagem religiosa, bem como também sua esposa. Empunhando Máximo um rifle, e com uma faca e revólver na cintura, chegavam eles na Vila de Manacapuru à meia noite, dizendo em altas vozes que ele era Noé e que, com sua família, iam fugindo do dilúvio que estava próximo, acordando a todos e causando pavor aos moradores que deles fugiam quando se aproximavam de suas residências. Após o alvoroço que causaram na Vila, Máximo e sua família embarcaram novamente no batelão e seguiram rumo à um barracão de um peruano, onde o ameaçaram e causaram estragos na casa. De lá foram para o sítio Arapapá onde conseguiram comida dos moradores, pois diziam que estavam mortos de fome.

Depois seguiram navegando, dizendo ele em alta voz para todos os moradores da beirada do rio escutar, que o fim estava próximo e que quem quisesse se salvar do grande dilúvio o seguisse. E após isso sumiram na imensidão do rio, sem nunca mais se saber notícias deles.

• Em 1920 surgia em Manaus um indivíduo que se auto proclamava o novo messias. Seu nome era Antônio Alves Sobral.

Sobral trabalhava de seringueiro no Território do Acre, porém a situação ali não estava boa para ele, resolvendo então embarcar num vapor rumo à cidade de Manaus.

Chegando na capital amazonense, Sobral dizia que ouvia a voz de um espírito que lhe transmitia sobre fatos do passado, presente e futuro de toda as pessoas com quem falava.

Sendo assim, Antônio Sobral passou a profetizar nos subúrbios e centro de Manaus, a ponto de conquistar uma legião de seguidores que lhe acompanhava em uma verdadeira romaria em suas pregações pela cidade.

Quando ele chegava na casa de uma pessoa, entrava com seus fiéis e todas as portas e janelas eram fechadas para evitar que grande massa de populares a invadisse pois todos queriam ouvir os conselhos e profecias do líder messiânico.

As autoridades policiais, ao tomarem conhecimento das ações do chamado profeta, tratou logo de entrar em ação. Sobral foi então preso e mandado para Belém, deportado, a bordo de um vapor.

Mas, alguns meses depois, Sobral embarcava no Pará em outro vapor e retornava à Manaus onde agora veio a residir no bairro de São Raimundo, recomeçando ali suas pregações onde chegou a intitular-se um novo Jesus Cristo.

A população do local era atraída em massa para a casa dele onde recebiam conselhos médicos e revelações de suas vidas, além da promessa de salvação e o que iria acontecer no mundo, cujo fim estava chegando.

Ao tomar novamente conhecimento das ações de Sobral, a polícia dessa vez tomou nova medida: o agarrou e o recolheu ao Hospício Eduardo Ribeiro, onde foi dado como louco. Contudo ele acabou fugindo, mas foi reencontrado e posto novamente no hospício.

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Fontes: Jornal do Commercio, Livro "História do Amazonas", de Arthur Reis e "No Rio Amazonas" de Robert Ave-Lallemant.


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